POLÍTICA

Após 300 mil mortes, Bolsonaro cria comitê de combate à pandemia

Presidente convidou governadores aliados e os presidentes da Câmara, do Senado e do STF para criar grupo de trabalho para definir medidas de combate à covid-19. Mas voltou a defender “tratamento precoce”
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 24 de março de 2021
Encontro reuniu só simpatizantes do presidente, que foi criticado por governadores

Foto: Reprodução

Encontro reuniu só simpatizantes do presidente, que foi criticado por governadores

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O encerramento da reunião realizada nesta quarta-feira, 24, no Palácio do Planalto, entre Jair Bolsonaro (sem partido), chefes dos demais poderes e um grupo de governadores culminou com uma inflexão no discurso do presidente. Declarando pela primeira vez que quer defender “vida em primeiro lugar”, Bolsonaro anunciou a criação de um comitê em parceria com o Congresso. A ideia é – após cerca de 300 mil mortes já registradas pela pandemia – definir medidas de combate à covid-19.

Críticos analisam que, na realidade, a nova postura tem mais a ver com a queda do prestígio do presidente entre eleitores do que uma convicção do mandatário.

“Em Brasília, quando governo não quer resolver problema, cria-se comissão”, disse o jornalista Kennedy Alencar.

Mais novo desafeto do presidente, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que não foi convidado para o encontro, é cético. “Talvez a maior preocupação esteja mais em uma fotografia e em uma manchete que deem aparência de ação do que efetivamente viabilizar caminho de superação da crise”, ironizou.

Governadores não opositores

Oficialmente, o Palácio do Planalto chegou a anunciar que participariam governadores representando todas as regiões do país da reunião de Bolsonaro com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

De fato, todas as regiões foram representadas. Mas, somente com governadores não opositores, próximos do governo federal: Ratinho Júnior (PSD-PR), Cláudio Castro (PSC-RJ), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Renan Filho (MDB-AL), Marcos Rocha (sem partido-RO) e Wilson Lima (PSC-AM).

Flávio Dino (PCdoB) dias antes do encontro realizado hoje parecia adivinhar e cravou: “Se ele selecionar ‘governadores amigos’ para o encontro, será mais uma prova de que se trata de um irresponsável, que não tem menor respeito à Constituição Federal e ao cargo que exerce”.

Mediação e tratamento precoce

Em pronunciamento após o encontro, Bolsonaro disse que o comitê se reunirá semanalmente e que o presidente do Senado será o responsável por encaminhar as demandas dos governos estaduais.

Se por um lado o presidente tentou passar a mensagem de que quer rever sua posição de equiparar a manutenção da economia à vida, por outro ele voltou a insistir no chamado tratamento precoce.

“Tratamos também de possiblidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off label (termo da medicina que designa o uso de medicamento ou tratamento por conta e risco do médico que o prescreve) tratar os infectados”, lembrou Bolsonaro.

O tratamento precoce de Bolsonaro, na voz do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, chegou a virar “Atendimento Precoce”, quando virou motivo de inquéritos.

Ele prevê a utilização de medicamentos que não têm eficácia garantida contra a covid-19 de acordo com a comunidade científica.

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