CPI da Covid ouvirá dez governadores e Arthur Weintraub. Pazuello e Queiroga são reconvocados
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Após uma hora de reunião fechada, em busca de um acordo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 decidiu nesta quarta-feira, 26, pela convocação de dez governadores para depoimentos na comissão.
O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-titular da pasta, general Eduardo Pazuello ainda foram reconvocados para esclarecer o que os senadores afirmam ser contradições e mentiras em seus depoimentos.
Entre os governadores convocados (ver lista no final) figura Wilson Witzel (PSL-RJ), então mandatário do Rio de Janeiro, que sofreu impeachment no mês passado.
O critério acertado entre os integrantes da comissão foi a convocação de governadores que foram alvos de operações da Polícia Federal (PF) que investigaram possíveis desvios de verbas destinadas ao combate à pandemia. A comissão ainda decidiu pela convocação da vice-governadora de Santa Catarina Daniela Reinehr (sem partido).
Outros convocados
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
A CPI decidiu também pela convocação de Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação, Abraão Weintraub. Arthur atualmente representa o Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, Estados Unidos.
Arthur, quando Assessor Especial da presidência entrou na mira da CPI após o vazamento de um vídeo em que aprecem ele e o filho 03 do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
A gravação revela que o mandatário teria encarregado Arthur de estudos sobre a cloroquina e sua utilização na pandemia. Segundo palavras do próprio ex-assessor, Bolsonaro teria dito: “Seu pai virou pra mim e disse: ô magrelo, você que é porra-louca, vai lá e estuda isso daí”.
Os senadores acreditam que Weintraub seria um elo no grupo paralelo de assessoramento a Bolsonaro, conforme denunciado pelos ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta (DEM-MS) e Nelson Teich à CPI. Suspeito de também integrar o gabinete paralelo, o assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, é outro convocado pela CPI. Martins foi alvo de uma notícia-crime do Ministério Público Federal por afrontar senadores com um gesto de supremacistas brancos durante audiência do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no Senado, em março.
Da mesma forma, foi votada a convocação do empresário Carlos Wizard, que atuou gratuitamente durante um mês ao lado de Pazuello. Wizard saiu ao ver que seus negócios estavam sendo afetados por sua colaboração. Ele recentemente assumiu o protagonismo como uma das principais lideranças empresariais a defender que empresas pudessem comprar vacinas diretamente para imunizar seus funcionários, sem dependência do Sistema Único de Saúde (SUS).
Markinhos Show e bate-boca
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Também deverão prestar esclarecimentos à CPI a ex-secretária de enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, Luana Araújo, e Marcos Eraldo Arnoud Marques, conhecido como Markinhos Show.
Marques foi citado por Pazuello como o responsável pelas campanhas publicitárias de combate à pandemia durante boa parte de sua gestão no ministério da Saúde.
Mas, apesar de rápida, a sessão de hoje também registrou momentos de bate-boca entre os integrantes.
O primeiro se deu após o vice-presidente da comissão Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ter solicitado também a convocação do presidente Bolsonaro, seguindo o artigo 142 do Regimento Interno do Senado.
O clima esquentou quando o governista Marcos Rogério (DEM-RO) chamou a proposição de “piada”. Randolfe disse que existe uma “preocupação concreta” dos apoiadores de Bolsonaro em desviar o foco da CPI. Por isso, ele entendia que a convocação do presidente ao lado dos governadores se “encaixa” adequadamente na busca da verdade. A proposição não foi aprovada.
Já para o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobrou palavras mais duras. Ao insistir na convocação do governador da Bahia, Rui Costa (PT), ele ouviu do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM: “Vossa Senhoria é um oportunista que está aqui para impedir que investiguemos por que não se comprou vacinas para o país. Age sorrateiramente”, acusou ao sugerir uma quebra de acordo que teria sido realizada.
Otto Alencar (PSD-BA), em tom mais calmo, disse que nunca houve uma intervenção da PF na Bahia. “O ato de desvio que foi identificado no início foi coibido pela polícia da Bahia, a mando do governador”, justificou.
Com a insistência de Girão, devido ao fato de Costa ter presidido o Consórcio do Nordeste, Alencar concluiu: “O Consórcio do Nordeste será indagado com a presença do atual presidente que foi convocado (o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT). O senador Girão está com uma obsessão com a Bahia”, ironizou.
A sessão de hoje ainda deveria ter avaliado a convocação de prefeitos, mas o assunto será analisado na próxima semana.
Governadores convocados
Wilson Lima (PSC) – Amazonas
Helder Barbalho (MDB) – Pará
Carlos Moisés (PSL) – Santa Catarina
Wilson Witzel (PSL) – Rio de Janeiro
Ibaneis Rocha (MDB) – Distrito Federal
Mauro Carlesse (PSL) – Tocantins
Waldez Góes (PDT) – Amapá
Marcos Rocha (PSL) – Rondônia
Wellington Dias (PT) – Piauí
Antonio Oliveira Garcia de Almeida (PSL) – Rondônia