Executivo da Pfizer desmente Pazuello na CPI da Covid-19
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Ao contrário das afirmações do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o presidente da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, informou que a empresa ofertou a possibilidade de até 70 milhões de doses do imunizante desenvolvido em parceria com a farmacêutica Biontech. A declaração de Murillo caiu como uma bomba nesta quinta-feira, 13, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. Ao responder perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL), o executivo da farmacêutica sustentou que Pazuello havia dito a ele que o Brasil não poderia ficar somente nas 6 milhões de doses ofertadas inicialmente pela multinacional.
Ao todo, segundo o executivo que chegou a presidir a Pfizer no Brasil até a sua recente promoção, a empresa chegou a fazer cinco ofertas de vacinas em 2020, que não foram fechadas. Já na primeira proposta, em agosto, a farmacêutica apresentou duas possibilidades de quantidades e seus respectivos cronogramas, que foram de 30 milhões de doses e 70 milhões de doses.
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Como as ofertas foram ignoradas, disse Murillo, as negociações retornaram em novembro com mais duas propostas. Só que, desta vez, não havia mais a possibilidade da vacina da Pfizer ser disponibilizada ao Brasil em 2020.
Cláusulas leoninas e ‘jacaré’
Indagado sobre as justificativas de Pazuello e do presidente Bolsonaro de que o acordo com a empresa impunha “cláusulas leoninas”, como o estado assumir a responsabilidade pelo efeito das vacinas, Murillo disse que só podia discordar. Ele lembrou que até agora 110 países fizeram contratos com a Pfizer dentro dos mesmos parâmetros apresentados ao Brasil.
O presidente da Pfizer para a América Latina ainda disse desconhecer no mundo alguma declaração similar à dada por Bolsonaro, que jocosamente disse que a empresa não queria se responsabilizar se alguém, por exemplo, nas palavras do presidente brasileiro à época, “virar um jacaré”.
Para os senadores, Murillo ainda afirmou que somente teve confiança no sucesso das iniciativas da empresa junto ao governo do Brasil no dia 18 de março passado, “com a assinatura do contrato”.
Carlos Bolsonaro sob suspeita
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Carlos Murillo, em seu depoimento ao relator confirmou que houve contato com o ex-secretário de comunicação do governo federal, Fabio Wajngarten em novembro. No entanto, disse que as negociações foram feitas com o ministério da Saúde.
O executivo ainda foi indagado sobre uma possível reunião no Palácio do Planalto onde Wajngarten teria levado o assessor de relações internacionais de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, e o filho do presidente, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos). Murillo confirmou que houve, sim, uma reunião das diretoras jurídica e da área corporativa da Pfizer com Wajngarten.
Durante a oitiva, Murillo recebeu uma mensagem da diretora jurídica da empresa confirmando que Wajngarten teria saído da sala e retornado com o assessor do residente e o filho 02 de Bolsonaro.