Mayra Pinheiro contradiz Eduardo Pazuello na CPI
Foto: Reprodução/Senado Federal
Na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado Federal na manhã desta terça-feira, 25, a médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, que foi responsabilizada pelo ex-ministro general Eduardo Pazuello pela implantação do aplicativo TratCOV, chegou a contradizer o general duas vezes. A primeira contradição diz respeito ao momento em que o ministério da Saúde soube da falta de oxigênio em Manaus. Na segunda, a médica, ao contrário do que disse o ex-ministro, relatou que não houve alterações do conteúdo do aplicativo após o dito hackeamento da ferramenta apontado tanto por ela quanto por Pazuello.
Mayra, apelidada de Capitã Cloroquina pela defesa da utilização do medicamento no combate à pandemia, no entanto, entrou em uma saia justa quando Calheiros em seus questionamentos apresentou um trecho de um vídeo onde ela dizia “o que nós criamos, deixando as pessoas em casa, foi pânico e atrapalhamos a evolução natural da doença naquelas pessoas assintomáticas”.
Buscando se isentar da tese da imunidade de rebanho, Mayra disse então que estava se posicionando contra a retirada que foi feita das crianças das escolas. Pediatra, ela disse que a possibilidade desse público adquirir Covid-19 é de 37,5% e que, da mesma forma, a taxa de transmissão seria baixa.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) não resistiu e acabou intervindo: “A senhora falou também em comércio. Não foi só de criança. Tem muita coisa que a senhora falou que nós temos aqui e a gente não quer ser deselegante com a senhora”, advertiu.
Falta de oxigênio em Manaus
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Ela aproveitou para negar que teria tomado conhecimento da situação durante o período em que esteve em missão do ministério em Manaus, próximo ao período apontado pela White Martins. “Não houve uma percepção que faltaria”, disse.
TrateCov foi descartado após hackeamento.
Sobre o aplicativo TrateCov que chegou a ser apresentado em janeiro pelo Ministério da Saúde, Mayra voltou a bater na tecla de Pazuello. A de que a iniciativa ainda estava em fase de protótipo e que teria sido tirado do ar após a “extração indevida dos dados dessa plataforma”, lembrou. Ela, como o ex-ministro, apresentou um Boletim de Ocorrência (BO), além de dados periciais.
Indagado por Aziz se teria acontecido alguma deturpação do conteúdo que a médica disse ter sido validado e que poderia contribuir para a salvação de muitas vidas, Mayra disse que isso não teria ocorrido, ao contrário do dito por Pazuello em seu depoimento.
Irônico, então, o presidente da CPI perguntou por que, então, o aplicativo não voltou ao ar, já que poderia ter contribuído para evitar mais mortes no seu estado, o Amazonas, e no Brasil.
Cloroquina
Mesmo questionada sobre quais estudos científicos orientaram a recomendação da cloroquina e outros medicamentos sem comprovação científica para tratamento de pacientes com covid-19, Mayra deixou transparecer que aposta no medicamento, agora, em casos leves. “Se o senhor me perguntar o que os médicos brasileiros e do mundo que vem fazendo esse tratamento off label utilizaram como referencial, eu trouxe aqui e deixo à disposição mais de 2400 artigos impressos mostrando as evidências que tantos nós queremos.”
Apesar disso, ela afirmou que o ministério da Saúde nunca fez uma indicação direta de tratamento para o novo coronavírus.
Forçada a falar da Cloroquina, lembrada que a Cloroquina, sim, era muitas vezes recomendada ela chegou a dizer que o Brasil não é obrigada a seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo das Nações Unidas (ONU). Foi a resposta que deu ao ser indagada sobre os motivos do ministério da Saúde ter insistido em apoiar o uso da cloroquina, apesar da OMS ter interrompido em julho de 2020 os testes com o medicamento.