Pressionado na CPI, ministro da Saúde evita posições contraditórias de Bolsonaro
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Respostas evasivas, muito cuidado e ironias marcaram o depoimento do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado. Quarto comandante da pasta desde o início da pandemia, o médico que já presidiu a Associação Brasileira de Cardiologia evitou emitir, nesta quinta-feira, 6, opiniões que envolvem o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Queiroga, no entanto, afirmou desconhecer a existência de qualquer investigação dentro do ministério sobre um possível desvio de recursos públicos nos estados e municípios, uma constante afirmação do presidente.
Terceiro depoente na comissão, Queiroga gerou especial irritação nos comandantes da CPI ao se recusar a dizer se comungava ou não com as ideias de Bolsonaro sobre a utilização da hidroxicloroquina e sobre a leniência do presidente que é contra políticas de isolamento social.
Protocolo ainda não definido
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Sobre o medicamento, a falta de respostas fez com que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) fosse incisivo: “o senhor compartilha ou não da posição do presidente? A resposta é sim ou não”, insistiu. Já o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ironizou: “Até minha filha de 12 anos falaria sim ou não”.
O ministro mais de uma vez se embasou no fato de que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) ainda discute a questão para consolidar um protocolo. Segundo Queiroga, é uma discussão acalorada que divide a comunidade científica e que, por ter a palavra final no processo, se coloca numa posição de não emitir sua opinião no momento.
Também médico, Otto Alencar (PSD-BA), apelou para a especialidade de Queiroga. “O senhor foi presidente da Associação Brasileira de Cardiologia que não recomenda a hidroxicloroquina e não consegue responder sim ou não?”, questionou.
Alencar ainda acentuou que Bolsonaro tem “receitado” publicamente a medicação. “Pode levar a parada cardíaca! Vossa Excelência tem que orientar o presidente a parar de fazer isto. O senhor vai se render à ordem do capitão?”, provocou.
Dissuadir aglomerações
Mesmo não se manifestando diretamente contra os princípios de Bolsonaro, Queiroga acentuou que “toda a aglomeração deve ser dissuadida. “Não importa quem faça”. Disse ainda que a vacinação é fator determinante para se vencer a pandemia.
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a chegada de Queiroga ao ministério já representou uma significativa melhora. Apesar disso, lamentou que, passados um ano e dez meses, não se tenha ainda um protocolo definido pela Conitec.
Crise diplomática
Tasso Jereissati (PSDB-CE) resolveu abordar as declarações feitas na quarta-feira, 5, por Bolsonaro, que insinuou uma possível guerra patrocinada por um país que teve o maior crescimento econômico durante a crise sanitária. Para o senador, isso prejudica ainda mais o Brasil, que necessita de insumos da China para combater a covid-19.
Queiroga não criticou o comentário de Bolsonaro. “Vossa excelência mesmo disse que o presidente não fez menção à China. Eu espero que essas relações continuem de forma positiva e não tenhamos impacto para nossa campanha de vacinação”, respondeu.
Jereissati, no entanto, disse que apresentou requerimento para convocar o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem Rodrigues, para explicar as insinuações do presidente sobre uma possível guerra biológica patrocinada pelo país asiático.
A verdade sobre as vacinas
“Qual é a verdade, ministro? Quantas doses estão efetivamente contratadas?” indagou Calheiros a Queiroga ao abordar a aquisição de vacinas pelo ministério. Depois de alguns segundos, o ministro remexeu papéis sobre a mesa e respondeu: “Nós já falamos acerca do total de doses contratadas: 562 milhões 902 mil e 40 doses de vacinas. Isso aqui é o calendário atualizado que está no site…”. Nesse momento um assessor se aproxima da bancada e entrega um documento ao ministro. Passados 24 segundos, diante da insistência do relator, Queiroga corrige a informação. “430 milhões, senador, eu estou aqui sendo informado”.