POLÍTICA

Centro-esquerda passa a comandar países nórdicos

Um dos países mais justos do mundo e com prosperidade construída sobre combustíveis fósseis, a Noruega opta pela redução das desigualdades e combate ao aquecimento global
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 21 de setembro de 2021

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Festa do Partido Trabalhista norueguês, que liderou a coalizão eleita no dia 13

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A vitória da oposição nas eleições parlamentares realizadas no último dia 13 de setembro na Noruega aponta um cenário político que não ocorre desde os anos 1950 na Escandinávia, região da Europa Setentrional que compreende ainda a Dinamarca e a Suécia. Mais do que isso. A derrota da coalizão de direita que governa o país desde 2013 coloca nas mãos da centro-esquerda os rumos de todos os países nórdicos.

Favorito para ser o novo primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Store, comemorou a vitória da coligação liberal. “Esperamos e trabalhamos tão duro e agora finalmente podemos dizer: conseguimos”, exultou.

A declaração do líder do Partido Trabalhista que encabeçou a coalização foi dada após o reconhecimento da derrota pela atual primeira-ministra, a conservadora Erna Solberg.

Store não pode ser considerado um radical. Ele é um milionário de 61 anos de idade que, entre 2001 e 2002, supervisionou a política de privatização do então primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg. Uma ação considerada polêmica dentro do próprio Partido Trabalhista.

Desigualdade e clima

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O líder trabalhista Jonas Store, cotado para premier da Noruega com a vitória trabalhista nas urnas

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O foco da coalizão de Storn durante a campanha foi o combate à desigualdade. “A Noruega emitiu um sinal claro: a eleição mostra que a população norueguesa quer uma sociedade mais justa”, disse o líder.

A Noruega é considerada uma das nações mais justas socialmente. Apesar de não ser o país mais rico do mundo, na média figurando no 11º lugar, a Noruega apresenta um dos menores graus de concentração de renda (Índice Gini).

Diante disso, um dos fatores decisivos para a vitória da centro-esquerda teria sido para analistas a questão ambiental. Ela também foi alçada ao topo das reflexões após a apresentação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), considerado pelo secretário geral da ONU, António Guterres, um “alerta vermelho para a humanidade”.

Além do relatório do IPCC, publicado em agosto passado, as enchentes fora do normal, os incêndios florestais e as altas temperaturas verificadas no verão europeu aqueceram a discussão.

Aí, outro paradoxo chama a atenção: na história, a Noruega teve a sua prosperidade construída sobre o petróleo, que representa hoje 14% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, 40% de suas exportações e responde ainda pela geração de 160 mil postos de trabalho diretos.

Storn defende um abandono gradual da economia petrolífera e a adoção de políticas fortemente voltadas aos interesses de agricultores noruegueses.

Região é exemplo do Estado de bem-estar social

Na Noruega, assim como no conjunto dos países nórdicos, até os ditos conservadores defendem o gradual fim da utilização de combustíveis fósseis em nome de combater o aquecimento global.

Apesar do Estado de bem-estar social moderno ser creditado à Alemanha de Otto von Bismarck na década de 1880, hoje os países nórdicos são a ponta de reconhecimento dessa política que surgiu como alternativa ao liberalismo econômico e ao socialismo.

Ele se fortaleceu na região através da socialdemocracia, que sempre propôs uma alternativa aos modelos anglo-americanos, através de uma forte tributação para garantir menores desigualdades e uma possibilidade maior de mobilidade social.

Foi esse modelo de Estado de bem-estar social que faz com que a própria Noruega e a Finlândia se posicionem entre os cinco países com a melhor educação universitária do mundo, à frente dos Estados Unidos.

Com raros exemplos de instituições de ensino privado, com garantia de escola de qualidade e gratuitas para toda as suas populações, esse mesmo Estado de bem-estar social faz com que outro país da região, a Islândia, seja classificado entre os melhores do mundo.

Agora, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia que são considerados exemplos mais bem acabados da socialdemocracia passam a ser governados novamente por coalizações de esquerda.

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