POLÍTICA

Movimento dos caminhoneiros foi movido a dinheiro e fanatismo

Em vídeo, blogueiro que está foragido no México deu por encerrada “paralisação” que não tinha nenhuma das pautas defendidas pela categoria dos trabalhadores de transportes
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de setembro de 2021

Foto: Twitter/ Reprodução

Caminhoneiros são multados e começam a sair do Distrito Federal

Foto: Twitter/ Reprodução

Em um vídeo divulgado nesta sexta-feira, 10, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, que se apresenta como “Zé Trovão” e “líder” dos motoristas transportadores de cargas, anunciou o fim das interdições em rodovias federais e declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que havia deixado os apoiadores confusos após enviar um áudio por whatts app em que pedia o fim da “mobilização” nas estradas.

Ao divulgar “declaração à nação”, Bolsonaro colocou “sua popularidade abaixo da gestão para que o Brasil tenha equilíbrio”, explica Gomes. “Estamos dando por encerrada a paralisação nacional. Com orgulho e uma alegria muito grande, porque ontem muitos achavam que tínhamos perdido, que o presidente tinha nos abandonado, mas a reunião que durou mais de duas horas foi muito decisiva”, afirma o caminhoneiro na gravação.

Em meio à crise, Gomes fugiu para o México para não ser preso. No dia 3, ele havia sido alvo de mandado de prisão por ameaças ao STF, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, mas nunca foi encontrado pela Polícia Federal. O caminhoneiro chegou a desafiar o ministro a prendê-lo na Avenida Paulista no 7 de setembro. Nesta sexta-feira, Moraes decretou nova ordem de prisão, desta vez contra o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que já havia sido preso por articular atos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Desta vez, Eustáquio fez transmissões ao vivo para uma rede social ao lado de Zé Trovão, no México, e incita atos contra o STF.

O bloqueio dos caminhoneiros, afirma ele no último vídeo, serviu para “alcançar o respeito do mundo e de muita gente na política, que, a partir de agora, tomará cuidado com suas ações”. Gomes não explica como conseguiu sair do país sendo alvo de mandado de prisão, mas diz que aguarda a deliberação do pedido de habeas corpus protocolado pelos deputados Vitor Hugo (PSL-GO) e Carla Zambelli (PSL-SP) em seu benefício.

No Distrito Federal, 50 caminhoneiros bolsonaristas foram multados por paralisação, em valores que totalizam até R$ 500 mil. As multas individuais são de R$ 6 mil a R$ 10 mil. Na Esplanada dos Ministérios, um caminhão do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) que seria usado para retirar os caminhões dos golpistas foi danificado. Os bloqueios foram encerrados na quinta-feira, mas de acordo com o Ministério da Infraestrutura, ainda há manifestações isoladas em rodovias de alguns estados.

A serviço do agronegócio

Sem qualquer reivindicação em relação às pautas da categoria como custos dos combustíveis, remuneração, pedágios, condições das estradas ou políticas públicas, o “movimento” dos caminhoneiros teve como motivação declarada pelos próprios manifestantes o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os ataques a ministros do STF.

Para o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí-RS Carlos Alberto Litti Dahmer, trata-se de uma articulação de empresários do agronegócio para estimular profissionais da categoria que ainda apoiam o presidente a protestarem em favor do governo.

“Foram dois braços que se uniram – o braço financeiro e econômico do agronegócio e o braço dos chamados patriotas que idolatram Bolsonaro, ou sejam, juntou quem tem dinheiro com quem é fanático numa tentativa de mostrar força ou tentar um golpe”, diz o caminhoneiro autônomo, que é também diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL/CUT).

LOCAUTE – Dahmer aponta dois episódios que revelam essa articulação. O comboio de caminhões que ocupou a Esplanada dos Ministérios em Brasília, eram todos novos, com emblemas de empresas. “A média de idade de caminhões de autônomos é de 20 anos”, estranha. Outro detalhe que chama a atenção, diz o sindicalista, é o mapa das manifestações. “Se você olhar a concentração dos bloqueios, eles acontecem em estados com produção agrícola intensa, como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul e próximos às rotas de escoamento da produção agrícola”.

O dirigente explica que a partir do entendimento dessa realidade, a maior parte da categoria não aderiu, sabendo que não se tratam de reivindicações das pautas reais dos caminhoneiros. “É um locaute, claramente”, reforça o dirigente, se referindo a paralisações comandadas pelos patrões e não pelos trabalhadores.

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