Senadores cobram ações inclusivas do ministro da Educação
Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Depois de afirmar em entrevista que estudantes com deficiência “atrapalham” outros alunos e afirmar publicamente que “é impossível a convivência” com crianças com algum grau de deficiência, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu desculpas “a todos que se sentiram ofendidos” nesta quinta-feira, 16, em audiência pública na Comissão de Educação (CE) do Senado. Apesar de elogiarem a postura, senadores afirmaram que as desculpas devem ser acompanhadas por ações.
Convidado pelos senadores a explicar essas e outras declarações sobre a inclusão de estudantes com deficiência nas escolas, Ribeiro disse que não teve a intenção de “magoar” e reconheceu a inadequação das colocações preconceituosas. “Minhas palavras não foram adequadas. Não representa meu pensamento. Quero reiterar meu sincero pedido de desculpas a todos que de alguma forma se sentiram ofendidos. O ministro da Educação não é essa pessoa que foi pintada. Esse foi meu grande erro”, recuou.
Ribeiro afirmou que a posição do Ministério da Educação é que alunos com deficiência devem estudar em escolas regulares e que o sistema deve ser “inclusivo”. Ele apontou que alguns pais e mães de crianças com deficiência disseram ter “entendido” o que ele quis dizer. O ministro apontou ainda que o MEC investiu cerca de “meio bilhão” de reais em medidas de acessibilidade e capacitação de professores nos últimos dois anos.
Consternação
Numa entrevista de agosto, o ministro afirmou que cerca de 12% das crianças com deficiência não teriam condições de estudar junto com outros alunos sem deficiência. A fala de Ribeiro, entre outras reações, gerou uma nota de repúdio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), no dia 20.
Pastor presbiteriano, teólogo e advogado, Ribeiro, que foi nomeado pera o cargo por Bolsonaro para agradar a ala evangélica do governo. Ao reacender a pauta ideológica no MEC, vem colecionando frases desastrosas em pouco mais de um ano de mandato. Ribeiro tomou posse em julho de 2020. Ele substituiu outro nome pródigo em grosserias e incompetências no comando do MEC, Abraham Weintraub, que chegou a ser condenado pela justiça após afirmar que as universidades públicas “cultivam maconha”.
Cobranças
Autor do requerimento (REQ 7/2021) para ouvir o ministro em audiência pública, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) observou que as afirmações causaram “estranheza e consternação geral”. Ele, no entanto, elogiou a atitude de Ribeiro em reconhecer que errou e pediu que o ministro siga reafirmando a defesa da inclusão. “É muito bom estar diante de uma pessoa que sabe pedir desculpas. Reconhecer o erro. Não quero imaginar que esses 12% não possam ter o direito de conviver com o outro”, apontou o senador.
Já Fabiano Contarato (Rede-ES) cobrou ações que demonstrem de fato seu arrependimento. “O senhor não deve pedir desculpas apenas a quem se sente ofendido, mas a todos. A sociedade brasileira merece um pedido de desculpas, mas com medidas de inclusão, com ação. A escola tem que ser inclusiva, plural. Os atos falam mais do que palavras”, disse Contarato.