POLÍTICA

Mesmo com patrocínio, Juremir é demitido do Correio do Povo por críticas a Bolsonaro

Juremir Machado estava no Correio do Povo há 21 anos. Desses, 14 escrevendo diariamente. Empresa preferiu não renovar patrocínio e tirar o jornalista em ano eleitoral
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 3 de janeiro de 2022
Juremir Machado trabalhava há 21 anos no Correio do Povo

Foto: Acervo Pessoal

Juremir Machado trabalhava há 21 anos no Correio do Povo

Foto: Acervo Pessoal

O jornalista Juremir Machado anunciou nesta segunda-feira, 3, em seu twitter, que foi demitido do Correio do Povo, publicação que desde 2007 pertence ao Grupo Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), de bispo Edir Macedo. “O projeto de extrema direita bolsonarista não quer saber de pluralismo”, denunciou Juremir.

Há 15 anos a Unimed Federação RS patrocinava sua coluna. Nesse ano de renovação de contrato, falou Juremir, o Correio do Povo declinou do interesse da Unimed. “O jornalista tem patrocínio, dá lucro e é demitido. Qual é a lógica?” ironiza.

Machado acredita que, sendo 2022 um ano de eleição presidencial, a ideia do veículo é centrar esforços na campanha de reeleição de Bolsonaro. “É um grupo bolsonarista. Sempre foi e me tinham como um comunista, coisa que inclusive não sou. Já fui demitido nos anos 90 da Zero Hora por uma forte pressão da esquerda”, lembrou ao frisar que se entende como um jornalista independente.

Machado diz que ele já era uma figura marcada no grupo. Ele chegou a ter um programa em horário nobre na Rádio Guaíba, também da Record. Em 2020, dez minutos antes de entrar no ar uma entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém libertado dos cárceres da Lava Jato por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), “mandaram derrubar”. Na ocasião, lembra Machado, chegou a temer “que todo mundo fosse defenestrado”.

Censura a Lula

Se não foi demitido imediatamente, meses após, em 28 de agosto 2020, Machado foi afastado da rádio Guaíba, mas permaneceu no Correio do Povo. “No episódio da entrevista com Lula, sobre a qual não pude falar quando saí da Guaíba, um cara se comportou como um gigante: Nando Gross. Estou em dívida com ele”, afirma.

Nando Gross foi diretor da Rádio Guaíba AM e FM até julho de 2020. Em setembro passado ele revelou ao podcast Porto Alegre 24 Horas que saiu da empresa por não concordar com práticas que considera inaceitáveis, como a censura e a difusão de fake news. Ao mesmo podcast, Gross confirmou: “Tive o constrangimento de cancelar uma entrevista com o Lula dez minutos antes, por exemplo. No caso do Lula, essa foi uma decisão que veio de cima”.

 

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