Comunidade judaica repudia youtuber por discurso de ódio
Foto: Reprodução
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) condenou as manifestações antissemitas de Bruno Aiub, o Monark, host do Flow Podcast, que na noite de segunda-feira, 7, defendeu a criação de um partido nazista e o suposto direito de pessoas serem antissemitas.
O discurso de ódio fomentado nas redes sociais pelo apresentador a pretexto de polemizar e defender a “liberdade de expressão” provocou notas de repúdio da comunidade judaica em todo o país. Em nota divulgada na tarde desta terça-feira, os Estúdios Flow comunicam o desligamento do youtuber.
Para o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs), Sebastian Watenberg, a legitimação do preconceito é inaceitável e extrapola os limites da liberdade de expressão. “Nossa posição é de profundo repúdio em relação a esse episódio e de preocupação com a forma pela qual as pessoas falam ou até defendem a legitimidade do nazismo, do antissemitismo e do racismo em geral. Evidentemente, somos favoráveis à liberdade de expressão, mas sabemos que ela tem limites”.
Na medida em que alguém defende determinado crime ou faz sua apologia, ressalva ele, “o conteúdo do que está sendo dito deve estar acima, em uma escala de gravidade, do direito de dizer. Se é crime, a pessoa responsável pela manifestação deve arcar com a punição cabível”.
Watenberg lembra ainda que há jurisdição firmada sobre os limites da liberdade de expressão e sobre valores civilizatórios que a superam. “A manifestação de algum crime ou a incitação a ele devem ser punidas, e a sua proliferação não pode ser permitida”, conclui.
Sem ética e sem noção
Na noite de segunda-feira, 7, durante uma “entrevista” dos deputados federais Kim Kataguiri (Podemos-SP) e Tábata Amaral (PSB-SP), o apresentador afirmou que a organização formal de um partido nazista no Brasil estaria amparada pela liberdade de expressão. Na conversa, Kataguiri afirma que não entendeu por que a Alemanha tenha criminalizado o nazismo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e faz comparações descabidas sobre defensores do nazismo terem menos espaço na imprensa do que os partidos comunistas.
Tábata rebateu o comentário de Monark, argumentando que a “liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco a vida do outro”. A parlamentar ainda tentou alertar que “o nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco”. Mas o apresentador foi em frente.
“Eu sou mais louco do que vocês. Eu acho que tinha de ter partido nazista reconhecido pela lei”, afirmou o youtuber, evocando um suposto “direito” de ser antissemita.
O programa de “entrevistas” criado por Aiub e Igor Coelho, que não são jornalistas, é apresentado nas redes sociais desde fevereiro de 2019. Tem 3,6 milhões de inscritos só no Youtube.
Cancelamento de patrocinadores
A repercussão foi imediata. Os termos “Monark” e “nazista” atingiram os trending topics e o programa perdeu patrocinadores e seguidores. A Flash Benefícios divulgou nota afirmando que “diante de absurdos como esse é preciso agir” e anunciou o “rompimento formal e imediato” do contrato de patrocínio. Os donos da marca, Pedro e Guilherme Lane, têm família de origem judaica.
Ressaca
Em vídeo divulgado no dia 8, o próprio apresentador pediu desculpas pelas declarações ao argumentar que estaria apenas tentando imitar blogueiros que fazem isso nos Estados Unidos e exagerou por que estava embriagado.
“Galera, eu queria fazer esse vídeo só para pedir desculpa mesmo porque eu errei, a verdade é essa. Eu tava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares no mundo, mas fui defender essa ideia de um jeito muito burro e tava bêbado. Eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Porra, eu peço perdão pela minha insensibilidade”, afirma Monark na gravação. O podcast foi retirado das redes sociais.
Discurso de ódio
Em nota, a Conib declarou que condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”. “O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera “inferiores”. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, reitera a entidade em um comunicado.
Monark defendeu, de forma expressa, o direito de alguém querer ser anti-judeu, bem como o direito à existência de um partido nazista no Brasil, reiterou a Federação Israelita de São Paulo. “Mesmo contestado pela deputada Tábata Amaral, Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias”. Para a entidade, manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos.
“Além de ser um desrespeito com convidados e ouvintes, assumiu o risco de fazer o programa bêbado por conta própria. Logo, precisa arcar com o que falou – fora que ele é reincidente no argumento bizarro de que as pessoas deveriam ser livres para advogar pela destruição de alguém”, reagiu no Twitter o grupo Judeus pela democracia.