POLÍTICA

Milton Ribeiro deve ser afastado do Ministério da Educação

Após escândalo do Bolsolão do MEC e sob pressão da cúpula do PL, Bolsonaro procura uma “saída honrosa” para o ministro antes de abril
Por Gilson Camargo / Publicado em 28 de março de 2022

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Abandonado por Bolsonaro, ministro estaria de saída do MEC nas próximas horas

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e apadrinhado de Valdemar da Costa Neto, dono do PL, deverá assumir o Ministério da Educação em abril, no lugar do pastor presbiteriano Milton Ribeiro.

O atual ministro de Bolsonaro não deverá sobreviver no cargo após o escândalo do Bolsolão do MEC. A queda dele deve ocorrer nos próximos dias por pressão da cúpula do PL, comandada por Neto.

Ribeiro é alvo de investigações da Procuradoria-Geral da República, do MPF e da Polícia Federal depois que reportagens dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo revelaram a existência de um gabinete paralelo comandando a agenda e gestando os recursos do MEC com a conivência do ministro.

Dois pastores evangélicos alheios ao governo interferiam no processo de liberação de recursos por parte do ministério.

Lobby de pastores

Foto: Instagram/ Reprodução

Reunião fora da agenda do MEC entre o ministro e pastores foi registrada por contrabandista de ouro

Foto: Instagram/ Reprodução

O escândalo estourou no dia 19 de março, com a revelação de que o ministério havia caído nas mãos de dois pastores evangélicos que controlaram a agenda e as verbas da pasta.

Na segunda-feira, 21, apareceu uma conversa gravada de Milton Ribeiro, afirmando que sua pasta prioriza as demandas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que desde janeiro de 2021 intermediam repasses de recursos federais para prefeituras em obras de creches e escolas, quadras de esportes e aquisição de equipamentos.

Em um dos casos denunciados, o prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB) afirma que, após ser recebido pelo ministro da Educação, se encontrou com Santos, que teria cobrado “uma soma em dinheiro” para protocolar no MEC seus pedidos.

Após a liberação dos recursos, relatou, foi informado que deveria pagar “um quilo de ouro”.

Preso por extração e venda ilegal de ouro e libertado após conseguir um habeas corpus, o prefeito de Centro Novo de Maranhão, Junior Garimpeiro, revelou em uma postagem no Instagram, em 27 de março, que havia se encontrado fora do MEC e da agenda com o ministro Milton Ribeiro e Gilmar Santos, o pastor da barra de ouro.

Sangrando

No dia 24, Bolsonaro saiu em defesa do ministro. “O Milton, coisa rara de eu falar aqui. Eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele”, disse em vídeo nas redes sociais.

Neste final de semana, no entanto, teria mudado de ideia e decidido afastar Ribeiro para evitar mais desgaste.

“Jair Bolsonaro já rifou o ministro da Educação, Milton Ribeiro”, revelou o site O Antagonista, que apurou que ele deixará o cargo no dia 1º de abril e será substituído por Amarante.

Bolsonaro teria sido convencido pelo cacique do PL de que não valeria a pena “deixar o governo sangrando”, uma vez que a própria bancada evangélica lavou as mãos em relação ao ministro e seus pastores lobistas”.

Homofóbico e capacitista

Nascido em Santos (SP), pastor da Igreja Presbiteriana, Milton Ribeiro tem 63 anos, é teólogo e advogado, com doutorado em Educação. Ele assumiu o MEC em julho de 2020 por indicação do também pastor André Mendonça que ocupava a Advocacia Geral da União (AGU), foi ministro da Justiça de Bolsonaro e virou ministro do STF.

Em maio de 2019, Ribeiro foi nomeado por Bolsonaro para a comissão de ética pública ligada à Presidência da República, com a função de investigar ministros e servidores do governo.

Ribeiro foi denunciado em setembro de 2020 pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo crime de homofobia após afirmar em entrevista ao Estadão declarando que adolescentes “muitas vezes optam pelo caminho do (sic) homossexualismo” e atribuiu a orientação sexual à influência de “famílias desajustadas”.

As declarações do ministro motivaram uma ação civil pública de entidades de defesa dos direitos da população LGBTQI+ que pediram uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 5 milhões. O caso foi julgado pela Justiça Federal de São Paulo, que condenou a União ao pagamento de R$ 200 mil. O pastor foi protagonista de inúmeras polêmicas após fazer declarações preconceituosas. Em agosto do ano passado, reafirmou uma posição contra a inclusão de alunos deficientes: “tem grau de deficiência que é impossível a convivência”, declarou à época.

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