Medalha da Ordem do Mérito do Livro a Daniel Silveira gera revolta
Foto: Redes Sociais/ Reprodução
A entrega da Medalha Biblioteca Nacional – Ordem do Mérito do Livro ao deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB/RJ) provocou revolta e manifestações de repúdio nesta sexta-feira, 1º.
A provocação teve diversos desdobramentos. Após membros da Academia Brasileira de Letras (ABL) recusarem a honraria, a família de Carlos Drummond de Andrade também se manifestou dizendo que o poeta devolveria a condecoração.
Ao tomar conhecimento da condecoração ao miliciano, o escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi, ex-presidente da ABL, reagiu depois de ressalvar que a Biblioteca Nacional “é uma casa que me recebe desde os meus 14 anos de idade. Uma das dez maiores do mundo. Um acervo absolutamente colossal, um privilégio para o Brasil”.
Intelectuais recusaram a medalha
Lucchesi explica por que irá declinar da condecoração: “estou impedido de receber, porque não posso codividi-lo com o presidente da República, que persegue políticas do livro, destruiu bibliotecas. Eu tenho um compromisso de levar os livros e as bibliotecas nas prisões, nas comunidades indígenas e quilombolas. Portanto, é impossível. Além disso, eu não posso receber uma medalha junto com alguém que tem um grande desprezo diante da querida e saudosa vereadora Marielle e que quebrou a placa da vereadora Marielle e que é legitimamente alguém que está rompendo com o que significa justiça em nosso país”, completa Lucchesi.
Outro imortal da ABL, o professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antonio Carlos Secchin, também recusou a medalha. Secchin justificou sua posição ao dizer que a cerimônia “se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura”.
A honraria costuma ser concedida pela Biblioteca Nacional a personalidades que contribuem com a literatura. Além de Drummond, Gilberto Freyre, escritor e um dos maiores sociólogos do país, está entre os intelectuais brasileiros já agraciados com a Medalha da Ordem do Mérito do Livro.
Revolta nas redes
Como era de se esperar, a informação foi fortemente repercutida nas redes sociais entre anônimos e personalidades.
O jornalista Reinaldo Azevedo resumiu: “Drummond e Gilberto Freyre estão na lista histórica de laureados. Silveira é o Drummond “deles”; Silveira é o Freyre “deles”.
Já a deputada federal Fernanda Melchiona (PSol/RS), considerou ridícula a situação e desabafou. “Como bibliotecária me sinto ofendida!”. Antes, disse a parlamentar, “não pode ser que um ser asqueroso, condenado pelo STF, golpista, receba uma medalha da Biblioteca Nacional. Daniel Silveira veio direto do esgoto da política e jamais chegará perto de nomes como o de Carlos Drummond de Andrade”.
Para Cida Pedrosa, advogada e poeta que recebeu o Prêmio Jabuti em 2020 com Solo para Vialejo,“é um acinte que o deputado Daniel Silveira seja indicado para receber a medalha de Ordem do Mérito do Livro da Biblioteca Nacional. A principal obra dele foi ser condenado a quase nove anos prisão por ameaça às instituições democráticas. E desde quando bolsonarista valoriza livro?”, questionou.
Mário Magalhães, jornalista e escritor, ex-ombudsman da Folha de São Paulo disse que a decisão dos imortais foi digna. Segundo ele, Daniel Silveira é inimigo dos livros, das letras e das luzes. Ele ainda soltou uma provocação. “Curiosidade: a ABL se calará sobre a homenagem da Biblioteca Nacional ao deputado bolsonarista?”.
O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Sérgio Nobre também se manifestou. “Por que um ex-policial que fraudava atestado médico, virou deputado bolsonarista e foi condenado à prisão e perda de mandato pelo STF (perdoado por decreto presidencial) foi agraciado com a medalha de Ordem do Mérito do Livro, da Biblioteca Nacional? #basta”, concluiu.
Escolhidos à dedo
A Biblioteca Nacional não divulgou com antecedência a listagem de todos os 200 homenageados. Disse somente que foram escolhidos pelo presidente Luiz Carlos Ramiro Júnior e pelo secretário especial da Cultura, Hélio Ferraz de Oliveira.
Ramiro foi nomeado em março desse ano para a presidência da Fundação Biblioteca Nacional. Ultraconservador, ele é conhecido como antivacina e já chegou a dizer que a covid-19 foi uma criação para uma “guerra bioideológica”.
Para completar, a tradicional honraria ainda incluiu de forma póstuma o escritor Olavo de Carvalho, o filósofo do bolsonarismo.