PF cumpre mandados nas casas de empresários pró-golpe
Foto: Polícia Federal/Divulgação
Na manhã desta terça-feira, 23, a Polícia Federal informou discretamente em menos de duas linhas no seu site, que cumpre oito mandados de busca e apreensão, expedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. As ações ocorrem no âmbito de inquérito policial em tramitação no STF.
O que a lacônica nota não disse é que Moraes autorizou operação da PF contra oito empresários bolsonaristas que teriam defendido em grupo de WhatsApp, vazado ao público na semana passada, que se cometa um golpe de estado em caso de vitória de Luís Inácio Lula da Silva e derrota de Jair Bolsonaro.
Além dos mandados
Além dos mandados de busca e apreensão, Moraes também autorizou que os empresários sejam ouvidos pela Polícia. Trata-se de Afrânio Barreira Filho, do grupo Coco Bambu; Ivan Wrobel, da construtora W3; José Isaac Peres, da Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping; Luciano Hang, das lojas Havan; Luiz André Tissot, do grupo Sierra; Marco Aurélio Raymundo (Morongo); das lojas Mormaii; Meyer Joseph Nigri, da Tecnisa.
Além das buscas, Alexandre de Moraes também determinou bloqueio das contas bancárias dos empresários, bloqueio das contas nas redes sociais, tomada de depoimentos e quebra de sigilo bancário. Na tarde desta terça o ministro do STF também determinou a quebra dos sigilos bancários dos empresários para aferir se os suspeitos financiaram atos antidemocráticos.
Crime previsto
Planejar e apoiar tentativas de ruptura do Estado Democrático de Direito é crime previsto no Código Penal que tem pena de 4 a 8 anos de prisão. As conversas foram reveladas pelos jornalistas Guilherme Amado, Bruna Lima, Edoardo Ghirotto no site Metrópoles.
A ação da PF ocorre no mesmo dia em que Alexandre Moraes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem reunião com o Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, foi encarada no Palácio do Planalto como provocação ao governo.
Entenda o caso e a motivação dos mandados
Conforme o blog de Guilherme Amado, no dia 17 de agosto, o apoio a um golpe de estado seria para impedir uma eventual posse de Lula ficou explícito no dia 31 de julho. José Koury, proprietário do shopping Barra World e com extensa atuação no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, foi quem abordou o tema, ao dizer que preferia uma ruptura à volta do PT. Koury defendeu ainda que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos. “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, disse.
Ainda segundo o blog, a discussão sobre o tema havia começado às 17h23 daquele dia, após postagem de Ivan Wrobel, proprietário da W3 Engenharia, construtora especializada em imóveis de alto padrão, principalmente na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ao se apresentar ao grupo, Wrobel disse ser eleitor de Bolsonaro desde o segundo mandato do ex-capitão na Câmara dos Deputados :“Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, publicou. O ato na Avenida Atlântica, em Copacabana, de fato estava previsto para o Sete de Setembro, e haveria um desfile militar, com presença do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O prefeito Eduardo Paes informou nesta quarta-feira que não haverá nenhum ato em terra, apenas apresentações da Marinha e da Aeronáutica.
Desfile militar
Segundo Amado, a mesma visão sobre o aspecto simbólico do desfile militar na orla de Copacabana foi compartilhada pelo médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo e dono da rede de lojas Mormaii, uma das principais marcas de surfwear do país. “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu.
Conforme o jornalista, Morongo é um dos empresários com visões mais extremistas no grupo e defende que o Brasil está em guerra contra os adversários de Bolsonaro. Ao responder à defesa do golpe feita por Koury (dono do shopping Barra World) Morongo escreveu três mensagens consecutivas: “Golpe foi soltar o presidiário!!!; Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”.
Segundo a apuração dos jornalistas, o empresário Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu e conhecido eleitor de Bolsonaro, também respondeu à mensagem de Koury, com a figurinha de um rapaz aplaudindo. A rede de restaurantes, fundada em 2001 por Barreira, tem faturamento superior a R$ 1 bilhão anual e 64 lojas em funcionamento no país. Recentemente, ele se envolveu em discussão pública com o candidato Ciro Gomes, que o havia acusado de sonegar impostos. Barreira negou ter cometido qualquer ato ilícito. Mais à noite, no mesmo dia da mensagem pró-golpe de Koury, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo, defendeu que uma intervenção deveria ter ocorrido há mais tempo. “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. Em 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, publicou.