Bolsonaro é questionado pela Igreja e apoiadores tumultuam festa de Aparecida
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A presença do presidente Jair Bolsonaro (PL) no santuário de Nossa Senhora Aparecida na tarde dessa quarta-feira, 12, tudo indica, acabou não atendendo às suas expectativas. Com mensagens desconfortáveis da alta hierarquia católica no país, o candidato à reeleição ainda se viu como elemento de divisão em meio a data que homenageou a padroeira do Brasil.
Foram vaias e aplausos durante a chegada da comitiva presidencial. Mas, o clima ruim já havia se instalado antes.
Apoiadores de Bolsonaro agrediram profissionais da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, e membros da equipe da TV do próprio santuário que socorreram os colegas.
O motivo foi a tentativa da Vanguarda em registrar um fiel com a camisa do candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT) no meio de pessoas vestindo camisas verde e amarelas, símbolo apropriado pela candidatura da extrema-direita.
Segundo um missionário Redentorista, integrante da congregação responsável pelo santuário nacional, “dava para notar que tinha pessoas que destoavam dos romeiros que visitam o santuário todo o ano”. Ele pediu que sua declaração ficasse em anonimato.
Vaias e palavras de ódio por parte de bolsonaristas foram registradas na frente da basílica histórica, cerca de 2 quilômetros do Santuário.
Foi quando um sacerdote em sua pregação pontuou a necessidade da votação do segundo turno “garantir que nenhuma criança passe fome” no país.
Vídeos que registraram as duas ocasiões mostravam bolsonaristas com cervejas nas mãos incitando os tumultos.
Bolsonaro e a exploração da fé
Nota emitida na segunda-feira, 11, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e especialmente a homilia do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes na Missa Solene, a principal celebração, na parte da manhã acendeu para Bolsonaro o sinal de cautela.
Ao contrário do ano passado, ele não participou fazendo leituras. Se conteve ao lado do seu candidato ao governo de São Paulo, o evangélico Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Se de um lado a CNBB, sem citar nomes, criticou “a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno” e que “momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos”, Dom Orlando foi incisivo na indireta.
“Maria venceu o dragão. Temos muitos dragões que ela vai vencer. O dragão, que é o tentador. O dragão, que já foi vencido, a pandemia, mas temos o dragão do ódio, que faz tanto mal, e o dragão da mentira. E a mentira não é de Deus, é do maligno. E o dragão do desemprego, o dragão da fome, o dragão da incredulidade. Com Maria, vamos vencer o mal e vamos dar prioridade ao bem, à verdade e à justiça, que o povo merece, porque tem fé e ama Nossa Senhora Aparecida”, afirmou o prelado.
O presidente inclusive deixou de comparecer a um compromisso firmado com o Centro Dom Bosco (CDB), grupo ultraconservador católico que chega a questionar o Concílio Vaticano II e acusar a CNBB e diversos bispos de comunistas.
Era a reza de um terço às 15 horas em frente à basílica histórica, uma atividade paralela à tradicional consagração a Nossa Senhora que acontece no mesmo local há quase 70 anos e que foi desautorizada por Dom Orlando.
Repercussão
Momentos após sua celebração, Dom Orlando em coletiva demostrou constrangimento com a eminente chegada do presidente para participar de uma Missa às 14 horas.
“Não podemos julgar, mas precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Precisamos ser fiéis à nossa identidade católica, mas, seja qual for a intenção, vai ser bem recebido, porque é o nosso presidente”, afirmou.
Enquanto os fundamentalistas do CDB estavam na rua, o padre Camilo Júnior coordenava a consagração na Basílica Histórica. “Parabéns a você que está aqui dentro e está rezando, porque hoje não é dia de pedir voto, hoje é dia de pedir bênção”, alfinetou, sob aplausos, o grupo que declara abertamente o apoio a Bolsonaro.
Distante de Aparecida, mas em sintonia com as comemorações, o bispo emérito de Duque de Caxias (RJ) Dom Mauro Morelli disse ao Extra Classe: “Obviamente quem vai fechar as igrejas não será o Lula, mas o Bolsonaro que invade os espaços, persegue as religiões como perdigueiro, divide as comunidades, seduz e corrompe seus pastores. Agente de Satanás”.
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