Lula vence segundo turno e cumprirá terceiro mandato de presidente da República
Foto: Ricardo Stuckert
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito neste domingo, 30, presidente da República pela terceira vez, na campanha mais disputada da história do país desde a redemocratização – marcada pelo jogo sujo, fake news, ataques a religiosos e uso ostensivo da máquina pública pelo seu adversário, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
O resultado do segundo turno foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às 19h57, com 98,91% das urnas apuradas. Com 50,83% dos votos válidos, naquele momento Lula não poderia mais ser alcançado por Bolsonaro.
Desde o início da apuração, a diferença entre os dois candidatos oscilou em cerca de 800 mil votos a favor de Bolsonaro. A virada começou pouco antes das 19h, com 67% das urnas apuradas e Lula assumiu a liderança até o final.
Às 22h, com, 99,99% dos votos apurados, Lula tinha 60.345.825 votos (50,90%) contra 58.206.322 votos de Bolsonaro (49,10%). A diferença de 2.139.503 votos é o menor percentual entre o eleito e o segundo colocado desde que os brasileiros reconquistaram o voto livre, em 1989. O segundo turno superou os 118,5 milhões de votos válidos. Mais de 3,9 milhões de eleitores anularam o voto e 1,7 milhão votaram em branco.
Com um mandato polêmico, Bolsonaro entra na história como o primeiro presidente a não conseguir a reeleição desde que ela foi estabelecida em 1997 pela Emenda Constitucional 16, de 4 de junho daquele ano.
Nesse segundo turno das eleições nacionais também foram eleitos 12 governadores. Confira abaixo.
“Não existem dois Brasis”, diz presidente eleito
Foto: Ricardo Stuckert
Após a confirmação do resultado da eleição pelo TSE, Lula, que estava em São Bernardo do Campo, onde votou pela manhã, fez um pronunciamento de 40 minutos a jornalistas e apoiadores, em um hotel no Jardins. Ele estava acompanhado de correligionários, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o candidato derrotado para o governo paulista Fernando Haddad, o seu vice Geraldo Alckmin e Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições.
Lula afirmou que não enfrentou um adversário, mas “a máquina do Estado brasileiro colocada a serviço do candidato da situação para tentar evitar que nós ganhássemos as eleições”.
Lula disse que viveu um “processo de ressurreição”, porque “tentaram me enterrar vivo e eu tô aqui” e afirmou que irá governar para “restabelecer a paz entre os divergentes, governar para todos os brasileiros”. “A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação”, disse.
O petista destacou que sua eleição é resultado de uma mobilização que extrapolou os partidos. “Não é uma vitória minha, nem do PT ou dos partidos que me apoiaram. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, da ideologias, para que a democracia saísse vencedora”.
O presidente eleito afirmou que seu compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome. “Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário”, apontou.
Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil
“Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã, almoçar e jantar todos os dias”, prosseguiu o petista”.
Reafirmou propostas como a retomada de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida e ressaltou que o país deve assumir um papel de protagonismo no cenário internacional. “O novo Brasil que vamos construir não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade em qualquer parte do mundo”, afirmou o presidente eleito.
No final da noite, Lula, que tem 77 anos e volta a governar 20 anos depois de sua primeira eleição à Presidência, foi para a avenida Paulista lotada. Do alto de um caminhão de som, de improviso, ele teve que fazer três discursos para alcançar as milhares de pessoas que ocuparam vários quarteirões. “Derrotamos o autoritarismo e o fascismo deste país”, comemorou.
PRF montou barreiras no Nordeste
Na região Nordeste, onde o presidente Lula venceu em todos os estados, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) montou blitze e reteve 610 ônibus que transportavam eleitores.
Iniciadas na madrugada, ações de bloqueios realizados pela PRF na região, descumprindo uma ordem do TSE, acabaram se tornando o principal foco de denúncias e discussões nas redes sociais.
A ação começou a ser montada no dia 19 de outubro em uma reunião no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, segundo o colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim. Na ocasião, o “núcleo duro” da campanha de Bolsonaro teria traçado as ações fundamentais para a reta final do segundo turno.
Chefes de órgão do governo federal que auxiliam a Justiça Eleitoral, registrou Jardim, “seriam instruídos para que os seus comandados ficassem atentos ao transporte irregular de eleitores, sobretudo no Nordeste”. Para o jornalista, “nunca se tratou de uma preocupação com a marca da imparcialidade. Desde sempre, a expectativa do comando bolsonarista é que fossem barradas, impedidas ou dificultadas apenas eventuais locomoções irregulares de eleitores de Lula”.
Em um despacho no qual intimou o diretor da PRF, Silvinei Vasques, a prestar esclarecimentos sobre as blitze, o ministro Alexandre de Moraes, apontou “a instrumentalização da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal voltada a eventualmente interferir no processo eleitoral, durante o segundo turno das Eleições de 2022, no intuito de criar fatos políticos artificiais, em benefício da candidatura à reeleição ao cargo de Presidente da República do Sr. Jair Messias Bolsonaro, em detrimento ao seu adversário político, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva”.
Na região Sudeste, o TSE restabeleceu o transporte gratuito no dia da eleição. Pela manhã, a justiça eleitoral havia determinado que a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) adotasse medidas necessárias para garantir transporte gratuito do metrô de Belo Horizonte (MG) em todas as estações da cidade neste segundo turno, sob pena de ser enquadrada por crime eleitoral e multada em R$ 150 mil por hora de descumprimento.
Assédio eleitoral
O Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS) registrou, em seus canais de denúncia, 44 notícias de assédio eleitoral em 27 empresas entre sábado, 29, e as 17h deste domingo. De agosto a 30 de outubro, foram 238 denúncias envolvendo 182 empresas no estado. O Rio Grande do Sul é o quarto estado da Federação com o maior número de denúncias, atrás de Minas Gerais (584), Paraná (285) e São Paulo (266). Em todo o país, foram registradas neste ano 2.544 denúncias contra 1.945 empresas/empregadores.
Neste fim de semana eleitoral, as unidades do MPT-RS no enterior e a sede em Porto Alegre funcionaram em regime de plantão, inclusive em caráter presencial, com o objetivo de permitir uma resposta rápida e efetiva frente ao aumento expressivo de denúncias da prática de assédio eleitoral no ambiente de trabalho.
A atuação do MPT sobre denúncias de assédio eleitoral não acaba com o resultado das eleições. As denúncias registradas não perdem objeto e, por isso, terão andamento normal. Em caso de infrações devidamente comprovadas, poderão ser propostas novas Ações Civis Públicas (ACPs) e/ou firmados Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) – inclusive com a penalização das empresas com multas por danos morais coletivos ou individuais. No segundo turno, o MPT-RS ajuizou três ACPs e firmou 15 TACs ou acordos judiciais, além de emitir dezenas de recomendações.
Denúncias que cheguem depois do pleito também serão investigadas. Podem ser feitas a qualquer dia e horário pelos sites das unidades do Ministério Público do Trabalho e pelo aplicativo MPT Pardal (disponível nas principais lojas de aplicativos).
Uso da máquina incluiu PF e Exército
Além de relatos de moradores de diversos municípios da Região Nordeste que foram parados em bloqueios da PRF e da Polícia Federal (PF), o Exército também chegou a participar de pelo menos uma operação ostensiva.
A ação ocorreu ao lado da PRF na ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro. Vídeos nas redes sociais mostraram a parceria em uma blitz no principal meio de ligação da capital fluminense com a cidade que deu vitória à Lula no primeiro turno. Nas publicações, é possível ver agentes armados impedindo o tráfego em pelo menos duas pistas da via.
O engarrafamento na região tirou a calma de muitos motoristas que estavam em deslocamento e registraram entender que o intuito da ação era para impedir e retardar a votação neste segundo turno.
Com 57,1% dos votos, Leite vai governar o RS
Foto: Instagram/ Reprodução
Desde o início da apuração, às 17h deste domingo, 30, o candidato ao governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) liderou, confirmando o resultado das últimas pesquisas eleitorais.
A apuração se encerrou às 20h35min. Leite ficou com 57,1% dos votos válidos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, contra 42,8% de Onyx Lorenzoni (PL).
No primeiro turno, Lorenzoni foi o candidato a governador mais votado no estado, com um total de 2.382.026 votos, ficando com 37,50% no pleito. Eduardo Leite teve uma desvantagem de mais de 10% dos votos, ficando em segundo lugar com um total de 1.702.815 votos, ou 26,81% dos votos válidos no primeiro turno. O terceiro colocado foi Edegar Pretto (PT), com um total de 1.700.374, ficando com 26,77%.
Afastado do cargo de governador do RS desde abril, Leite, 37 anos, é o primeiro governador a se reeleger no estado desde a redemocratização. Seu vice-governador é Gabriel Souza (MDB). No segundo turno, o tucano contou com os votos da militância do Partido dos Trabalhadores – embora tenha negado qualquer apoio a Lula no estado no segundo turno.
Em entrevista coletiva à imprensa, Leite agradeceu a “generosidade do povo gaúcho” e aos partidos que estiveram junto desde o primeiro turno, além de ressaltar a adesão do PSB, do PDT, do Solidariedade e do voto crítico do Partido dos Trabalhadores (PT). “Este voto vem na convergência em torno da democracia, do respeito e do diálogo”, reconheceu.
Governadores eleitos no segundo turno
Alagoas: Paulo Dantas (MDB)
Amazonas: Wilson Lima (União Brasil)
Bahia: Jerônimo (PT)
Espírito Santo: Renato Casagrande (PSB)
Mato Grosso do Sul: Eduardo Riedel (PSDB)
Paraíba: João Azevêdo (PSB)
Pernambuco: Raquel Lyra (PSDB)
Rio Grande do Sul: Eduardo Leite (PSDB)
Rondônia: Coronel Marcos Rocha (União Brasil)
Santa Catarina: Jorginho Mello (PL)
São Paulo: Tarcisio Freitas (Republicanos)
Sergipe: Fabio (PSD)