Cobrado por ausência no RS, Mourão informa que veio mais de 20 vezes ao estado em 15 meses de mandato

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

No dia 22 de abril, Mourão foi à Base Aérea de Brasília para acompanhar a campanha “Todos Unidos pelo Sul”, coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB), que mobilizou diversas instituições e integrantes da sociedade civil na ajuda humanitária para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Desde eleito, o senador esteve três vezes no estado

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Relatório Passagens aéreas, aquáticas e terrestres nacionais vinculadas ao gabinete do senador Hamilton Mourão (Republicanos) no Portal da Transparência do Senado Federal indica que procedem as cobranças do povo gaúcho em relação à ausência do senador Hamilton Mourão (Republicanos) na vida política e social do estado que o elegeu.

O general reformado do Exército e ex-vice presidente da República do governo Jair Bolsonaro (PL) tem seu nome registrado em apenas duas passagens de ida e volta de Brasília a Porto Alegre desde que tomou posse na Câmara Alta do parlamento brasileiro, em 1° de fevereiro de 2023.

Até semana passada quando integrou comitiva da Comissão Especial do Senado presidida pelo senador Paulo Renato Paim (PT) nas cidades de Canoas e São Leopoldo, Mourão viajou para a capital riograndense usando a cota de seu gabinete nos dias 15 de fevereiro e 11 de maio de 2023.

Em setembro de 2023, quando cidades do Vale do Taquari registraram o que um estudo da Universidade do Vale do Taquari (Univates) apontou como as maiores enchentes dos últimos 150 anos, Mourão realizou viagem ao estado de São Paulo.

Passagens à disposição

Chegando de Brasília ao aeroporto de Congonhas no dia 11 de setembro e retornando à capital federal no dia 12, o senador do Republicanos conseguiu ficar só nessa viagem mais tempo em solo paulista do que gaúcho até a recente vinda ao estado na semana passada.

As duas viagens ao Rio Grande do Sul, conforme computadas pelo Portal da Transparência do Senado, foram do estilo bate e volta, com o viajante indo a uma localidade e retornando ao seu ponto de partida no mesmo dia.

Mourão ainda realizou uma viagem ao Rio de Janeiro no dia 24 de agosto de 2023.

Como todo parlamentar federal, o senador Mourão tem a disposição para o exercício do seu mandato cinco passagens de ida e volta, com preço cheio, para deslocamentos.

Comissionados

A não presença física de Mourão no Rio Grande do Sul não significa necessariamente falta de atuação política, nem pouca utilização de passagens aéreas. O senador mantêm um escritório político na rua Riachuelo, centro da capital, e a maioria das viagens feitas ao estado são realizadas por cargos comissionados, assessores de seu gabinete em Brasília e em Porto Alegre.

De março a dezembro de 2023, sem contar o valor de R$ 4.397,79 utilizado em nome do próprio senador nas suas quatro viagens registradas (duas ao RS, uma para São Paulo e uma para o Rio de Janeiro), R$ 85.295,43 foram para cobrir passagens aéreas de assessores do gabinete do parlamentar.

Em 2024, conforme computado até abril, último mês consolidado, não há despesa com passagem aérea em nome do passageiro Hamilton Mourão, mas estão registrados gastos de R$ 37.659,04 com viagens em nome de assessores.

Para um experiente alto servidor do Senado que pediu para não ser identificado, tudo indica que o senador Mourão terceiriza a presença pessoal no estado que o elegeu para seus assessores comissionados.

Na defensiva

Na sexta-feira, 24, ao ser questionado sobre o que estava fazendo pelo seu estado atingido pelas enchentes, o senador recorreu à condição de idoso para justificar sua ausência nas ações de socorro às vítimas.  “Vamos lembrar que eu sou um homem de 70 anos. Quantos homens de 70 anos estão aí, no meio da água?”, reagiu durante entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Para ele, uma ação mais enérgica no enfrentamento da calamidade seria “desvio de função”.

“O que um senador da República pode fazer? Encaminhar recursos”, defendeu-se. “Eu não sou do Executivo, eu não tenho a missão de estar me deslocando do ponto A para o ponto B. Eu tenho de criar facilidades para os responsáveis por executar as tarefas”, esquivou-se.

Assessoria atualiza dados

O Extra Classe entrou em contato com a assessoria do senador por telefone, e-mail oficial e WhatsApp, buscando informações sobre a agenda pública de Mourão e para saber se ele esteve no RS mais vezes, utilizando-se de outro meio de transporte, além das passagens aéreas comerciais apontadas em seu nome no Portal da Transparência da casa. Também foi pedido um posicionamento do senador.

No final da tarde de segunda-feira, 27, três horas após a publicação da matéria, a assessoria do senador Mourão apontou informações suplementares ao campo Passagens aéreas, aquáticas e terrestres nacionais do centro de custos do gabinete.

Na classificação Aquisição de passagens aéreas, no ano de 2023, há 21 viagens de Mourão para o Rio Grande do Sul, quatro idas para São Paulo, três para o Rio de Janeiro e uma para Belém (PA).

Das viagens ao Rio Grande do Sul, 14 foram feitas ida e volta no mesmo dia, seis tiveram a ida em um dia e a volta no outro e uma com o retorno dois dias após a chegada do senador.

Todas as viagens a São Paulo foram feitas da forma bate e volta; na de Belém, o senador chegou em um domingo e retornou no primeiro dia útil. Das três idas ao Rio, em uma ocasião o parlamentar ficou na região quatro dias (de quinta-feira a domingo).

Em 2024, o senador realizou, até a última semana, nove viagens ao estado que o elegeu.

Desta vez, apenas duas foram ida e volta no mesmo dia, com Mourão aumentando o tempo de presença no estado. Em cinco ocasiões, voltou à Brasília dois dias após sua chegada ao Rio Grande do Sul e, em uma, um dia após.

Por outro lado, em meio ao recesso parlamentar, Mourão passou cinco dias direto no Rio de Janeiro.

As informações suplementares agregam mais R$ 103.644,77 às despesas do senador com passagens aéreas.

Ao contrário do campo Passagens aéreas, aquáticas e terrestres do Portal da Transparência do Senado, o espaço Aquisição de passagens aéreas não apresenta passagens adquiridas para o uso de assessores do gabinete e só se referem aos bilhetes aéreos de Mourão.