POLÍTICA

Nicolás Maduro reeleito com 51,2% dos votos. Oposição alega fraude

Com 80% dos votos, Comissão Eleitoral considera reeleição irreversível. Participação eleitoral foi de 59%. Porta-vozes da oposição reagiram com alegações de fraude
Por Gilson Camargo / Publicado em 29 de julho de 2024
Nicolás Maduro reeleito com 51,2% dos votos. Oposição alega fraude

Foto: PSUV/ Redes Sociais/ Reprodução

Com 51,2% dos votos da eleição de domingo, 28, Nicolás Maduro é declarado reeleito na presidência da Venezuela

Foto: PSUV/ Redes Sociais/ Reprodução

Com os votos de mais de 21 milhões de venezuelanos, 59% dos eleitores aptos a votar no país, o atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela), foi declarado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Maduro teve 51,2% dos votos válidos, contra 44,2% do seu principal adversário, Edmundo González Urrutia, candidato da Plataforma Unitária Democrática, de centro, candidato apoiado por María Corina Machado, líder da opisição que foi barrada no pleito.

“Não os derrotamos política e moralmente, derrotamos com votos”, afirmou Corina em uma coletiva na qual não reconhece a vitória de Maduro. A líder da oposição considera que o seu candidato, Urrutia, foi quem venceu a eleição, com 70% dos votos e deveria ser considerado o presdidente eleito do país.

Além de Maduro e Urrutia, concorreram Enrique Márquez, Antonio Ecarri, Daniel Ceballos, Luis Eduardo Martínez, Javier Bertucci, Benjamin Rausseo, Claudio Fermín e José Brito.

Durante discurso no qual anunciou sua vitória, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, respondeu a provocações e questionamentos à legimidade do pleito. Ele atacou duramente um dos seus principais adversários na América Latina, o presidente argentino Javier Milei.

“De Caracas eu digo: não ao nazista fascista de Milei. Ele também tem cara de monstro. horas antes havia concedido a vitória eleitoral à oposição venezuelana e apelou para que ‘desta vez as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular’”, criticou.

Em sua conta em uma rede social, Milei escreveu “MADURO DITADOR, FORA!!!” antes mesmo da divulgação dos resultados oficiais, juntando-se a provocações dos governantes do Peru, Costa Rica e Uruguai.

O chanceler peruano, Javier González-Olaechea, disse que irá chamar o embaixador peruano na Venezuela para consulta “dados os gravíssimos anúncios oficiais das autoridades eleitorais venezuelanas”.

Depois de ter acesso aos resultados eleitorais que levaram à sua reeleição, Maduro aumentou o tom contra Milei. “Você é um fascista completo. Essas pessoas já disseram não ao capitalismo selvagem, não ao fascismo, não a Milei, não ao nazista fascista de Milei. Estamos dando um exemplo ao mundo”, disse  Maduro.

Quando da definição da data das eleições, o CNE convidou a União Europeis, o Centro Carter, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o bloco BRICS, a Comunidade Caribenha (Caricom), a União Interamericana de Organizações Eleitoral (Uniore) e a União Africana (UA) para observarem o processo eleitoral.

Após o pleito, Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru, Guatemala e Costa Rica emitiram comunicados oficiais rejeitando o resultado e pedindo transparência na apuração.

A reeleição de Maduro mobilizou chefes de estado por todo o continente e não faltou que atacasse até o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quem a extrema direita insiste em associar ao “ditador” Maduro.

O ex-presidente argentino, Mauricio Macri, “exigiu” que Lula se manifeste sobre as eleições na Venezuela.

Na manhã desta segunda-feira, 29, Macri pediu que Lula “não fique calado” e se pronuncie sobre “o que está a acontecer na Venezuela”, o que, segundo ele, “ataca a democracia”.

Lula saúda Maduro, mas pede publicação de atas

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil informou, por meio de nota, que aguarda a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela dos “dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.

O comunicado diz que o Brasil “reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observadora por meio da verificação imparcial dos resultados”. O Itamaraty também cumprimentou a Venezuela pelo fato das eleições terem sido realizadas em clima pacífico.

“O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem [domingo] na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração”, diz a nota do MRE.

O governo brasileiro enviou como representante para acompanhar a votação o embaixador Celso Amorim, assessor especial de Relações Internacionais da Presidência da República.

Há a expectativa de que o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela publique todas as atas com os resultados eleitorais por urna. Com isso, é possível verificar se as atas em mãos do CNE são as mesmas impressas na hora da votação e que foram distribuídas aos fiscais da oposição ou aos observadores nacionais e internacionais.

Antes do pleito, Lula e Maduro trocaram farpas em declarações à imprensa.

Sob suspeita

Nicolás Maduro reeleito com 51,2% dos votos. Oposição alega fraude

Foto: Partido Socialista Unido da Venezuela/ Reprodução

Maduro para os venezuelanos: “não se deixarem levar pelo fascismo”

Foto: Partido Socialista Unido da Venezuela/ Reprodução

O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, questionou os resultados das eleições venezuelanas e afirmou que “não se pode reconhecer uma vitória se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para alcançá-la”.

“Era um segredo aberto. Eles iam ‘ganhar’ sem prejuízo dos resultados reais. O processo até ao dia da eleição e da contagem foi claramente falho”, atacou Pou em uma rede social.

O presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, declarou em mensagem por rede social que “repudia categoricamente a proclamação de Nicolás Maduro como presidente da República Bolivariana da Venezuela, que consideramos fraudulenta”.

A China felicitou Maduro pela sua reeleição. “A China está disposta a enriquecer a parceria estratégica e a beneficiar os povos dos dois países”, afirmou a jornalistas um porta-voz da diplomacia chinesa, Lin Jian.

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, parabenizou nesta segunda-feira, 29, Maduro por sua reeleição: “vitória inquestionável”.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, pediu à Venezuela que garanta “total transparência” na contagem dos votos.

“Queremos total transparência e por isso pedimos a publicação da ata tabela por tabela”, disse Albares em entrevista à rádio Cadena Ser: “Queremos que a transparência seja garantida”, reiterou.

“Neste momento temos alguns números brutos que foram fornecidos e que, como podem ver, há uma divisão de opiniões”, acrescentou Albares nesta manhã. “A vontade democrática do povo da Venezuela deve ser respeitada. Pedimos que se mantenha a calma e o civismo com que decorreu o dia das eleições”, acrescentou.

O Presidente russo, Vladimir Putin, felicitou nesta segunda-feira a Nicolás Maduro pela reeleição como presidente da Venezuela.

“As relações entre a Rússia e a Venezuela constituem uma parceria estratégica. Confio que o seu trabalho à frente do Estado continuará a contribuir para o seu desenvolvimento progressivo em todas as áreas”, disse em telegrama enviado a Maduro, conforme informou nota do Kremlin. “Lembre-se de que você é sempre bem-vindo em solo russo”, reforçou.

Aliança Bolivariana

Se por um lado os resultados da eleição provocaram repúdio e questionamento por parte de diversos países latino-americano, por outro, o reconhecimento é unânime entre os países que compõem a Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA).

“Hoje a dignidade e a coragem do povo venezuelano triunfaram sobre as pressões e manipulações”, comemorou o presidente de Cuba , Miguel Díaz-Canel.

A Maduro “nossa homenagem e saudação, em honra, glória e por mais vitórias”, o governante nicaraguense , Daniel Ortega.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, manifestou sua expectativa que “a vontade do povo venezuelano tenha sido respeitada nas urnas” e reiterou sua “vontade de continuar fortalecendo nossos laços de amizade”.

Por sua vez, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, parabenizou Maduro por “seu triunfo inquestionável, que reafirma sua soberania e o legado histórico do comandante @chavezcandanga”. A referência é ao falecido Hugo Chávez, que governou o país por 14 anos, entre 1999 e 2013, e ungiu Maduro seu sucessor.

O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, manifestou do Japão, onde se encontra em missão diplomática, sua “séria preocupação” de que o resultado eleitoral anunciado na Venezuela “não reflita a vontade do povo”.

O presidente chileno, Gabriel Boric, disse que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral venezuelana são “difíceis de acreditar” e que “do Chile não reconheceremos nenhum resultado que não seja verificável”, avisou.

Maduro pede diálogo

Em um discurso diante do Palacio de Miraflores, sede do governo, após tomar conhecimento da sua vitória com 51,2% dos votos, Maduro afirmou que “este é um triunfo da esperança, da verdade e sinaliza o camino do comandante Hugo Chavez”.

Maduro avaliou que a reeleição permitirá “perseverar na construção de um país alternativo ao capitalismo selvagem e avançar em direção ao nosso socialismo com raízes indo-americanas”.

Nesse novo mandato, “juro que darei toda a minha vida para realizar todas as mudanças e transformações que o país necessita para caminhar em direção a um destino de paz, felicidade social e resgatar todos os direitos violados pelo guerra econômica”.

“A voz da paz triunfou e na Venezuela haverá paz”, comemorou Maduro, advertindo que não permitirá “uma espiral de violência”. Também pediu aos venezuelanos para “não se deixarem levar pelo fascismo”.

Antes do pleito, ele havia alertado para o risco de um banho de sangue supostamente promovido pela oposição ao seu governo caso não fosse reeleito. Essa declaração foi explorada à exaustão pela imprensa internacional, inclusive no Brasil, como uma ameaça de Maduro para assegurar a vitória nas urnas.

O presidente reeleito reiterou o apelo a um “diálogo harmonioso” e disse: “eu sei como fazer, nós queremos”. “Quero amor, diálogo e compreensão e tenho o poder que vocês me deram e à união cívico-militar-polícia para promover o diálogo económico, social, cultural, moral, espiritual”, discursou.

*Com informações do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, Agência Brasil e Página 12.

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