POLÍTICA

Trump declara guerra comercial ao mundo e ameaça anexações territoriais

Presidente dos Estados Unidos segue negando derrota em 2020 e promete retaliações para quem não se alinhar às suas políticas comerciais
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de março de 2025
Trump declara guerra comercial ao mundo e ameaça anexações territoriais

Foto: Shealah Craighead/ Casa Branca

Críticos já falam de instabilidade mundial e alertam que Trump criou um mundo paralelo para esconder seu verdadeiro perfil

Foto: Shealah Craighead/ Casa Branca

No primeiro discurso ao Congresso dos Estados Unidos no seu novo mandato, Donald Trump oficializou uma guerra comercial global e manteve suas ameaças de expansão territorial. Para Trump, a Groenlândia será dos EUA “de um jeito ou de outro” e já foi iniciada a retomada do controle sobre o Canal do Panamá. Críticos falam de instabilidade mundial e governo que cria mundo paralelo para esconder seu real perfil.

Em um primeiro momento, o presidente norte-americano anunciou tarifas severas contra Canadá, México e China. O Brasil também está em sua mira e foi, ao lado da Índia, igualmente ameaçado de tarifação retaliatória.

Trump impôs tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México e aumentou para 20% as taxas sobre produtos chineses, alegando que Pequim falhou em conter o fluxo de fentanil para os EUA. O Fentanil é um opioide sintético extremamente potente, usado principalmente para tratar dores intensas, como as causadas por câncer ou cirurgias.

Nos últimos anos, a substância tem sido um grande problema de saúde pública nos EUA. Lá, versões ilegais de Fentanil são frequentemente misturadas a outras drogas e aumentam o risco de overdose nos usuários.

A solução proposta

Para Trump, quem não quiser sofrer com as taxas que vai aplicar como forma de retaliação aos mais variados países é simples: “o que eles (empresários) precisam fazer é construir suas fábricas nos EUA, e aí não terão tarifas”, disse o presidente.

A resposta não tardou. A China taxou produtos agrícolas americanos, o Canadá adotou tarifas recíprocas e o México promete anunciar medidas contra os EUA no próximo domingo.

Fora isto, a província de Ontário no Canadá já cancelou todos os seus contratos com a Starlink do bilionário Elon Musk e proibiu outras empresas norte-americanas de participarem de contratos locais até que as tarifas impostas por Trump sejam revogadas.

A política tarifária de Trump pode afetar US$ 1,4 trilhão em importações, impactando indiretamente o Brasil. Segundo economistas, as medidas protecionistas devem gerar inflação nos EUA e queda no PIB global.

O Brasil será diretamente atingido a partir de 12 de março, quando tarifas sobre exportações nacionais entrarão em vigor. Especialistas alertam para um possível cenário de estagflação. Essa é uma situação econômica rara e desafiadora, com a economia já enfrentando baixo crescimento ou recessão, alta inflação e alto desemprego ao mesmo tempo.

Expansão territorial, reações e desdobramentos

Em um dos momentos mais controversos do discurso, Trump declarou que os EUA ficarão com a Groenlândia “de um jeito ou de outro”. O presidente voltou a sugerir a anexação do território, alegando razões estratégicas. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, repudiou a fala, classificando-a como “um insulto à soberania da Dinamarca”.

Trump também afirmou que os EUA retomarão o controle do Canal do Panamá. Ele destacou a compra de portos estratégicos por empresas americanas. O governo do Panamá reafirmou sua soberania sobre o canal e negou interferência chinesa em sua administração.

O mercado reagiu negativamente ao discurso, com bolsas em queda e o dólar perdendo valor frente a outras moedas. Líderes internacionais condenaram a postura agressiva de Trump.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, acusou Trump de querer desestabilizar sua economia para facilitar uma anexação. “O que ele quer é ver um colapso total da economia canadense, porque isso tornaria mais fácil nos anexar”, afirmou.

No Brasil, o governo mantém cautela e aguarda negociações com Washington. A escalada da guerra comercial pode prejudicar exportadores brasileiros, especialmente nos setores de madeira e móveis, que podem ser alvos de novas tarifas americanas.

Parlamentar retirado por protestar

Durante o discurso de Trump, o congressista democrata Al Green foi expulso do plenário. Ele interrompeu Trump ao gritar que o presidente “não tem mandato” para as ações que pretende adotar nos EUA e no mundo.

Veterano na defesa dos direitos civis e representante do 9º distrito de Houston desde 2005, Green já havia defendido o impeachment de Trump no primeiro mandato. Ele continua sendo uma voz ativa contra suas políticas. Sua expulsão gerou reações entre os democratas que também protestaram de outras formas.

Durante a fala de Trump pode se ver parlamentares vestindo rosa contra o impacto da inflação sobre as mulheres, gravatas com as cores da bandeira ucraniana e cartazes denunciando “roubo” de Elon Musk e cortes nos investimentos em saúde no país.

O veterano senador democrata, Bernie Sanders, após o discurso denunciou que entende que a estratégia de Trump é a de criar um “universo paralelo” repleto de mentiras para desviar o foco dos problemas reais da população dos Estados Unidos.

Entre uma série de mentiras, o senador lembra a insistência da afirmação de Trump de que foi roubado nas eleições de 2020, que a invasão do Capitólio foi pacífica e que milhões de imigrantes ilegais votam nos EUA.

O objetivo, segundo Sanders, é ocultar a crescente desigualdade econômica, a precarização do sistema de saúde e a crise habitacional. O senador ainda destacou que, enquanto a classe trabalhadora americana sofre para pagar contas básicas, a administração Trump governa para bilionários como Musk, Bezos e Zuckerberg. Sanders defendeu ampliar o acesso à saúde, taxar os mais ricos e combater a influência dos ultrarricos na política.

Fundador expulso do Novo critica autoritarismo

No Brasil, uma das principais críticas veio de João Amoedo, fundador do partido Novo que foi expulso por não apoiar a reeleição de Bolsonaro.

Amoêdo, engenheiro, empresário e ex-diretor do Banco Itaú, destacou o impacto global negativo das políticas de Trump. Para ele, em apenas cinco semanas, o presidente de extrema-direita instaurou uma guerra comercial e uma corrida armamentista que resultam em menor produtividade e maior inflação mundial.

Segundo o empresário, no mercado financeiro, empresas de tecnologia perdem valor enquanto o setor de armamentos cresceu. Em especial na Europa, que anunciou bilhões em investimentos militares.

Para Amoêdo, Trump abandona o princípio de apoiar vítimas de guerra e impõe a “lei do mais forte”. Isso, entende, incentiva líderes autoritários a atacar nações mais fracas.

O ex-diretor do Itaú conclui ao afirmar que a devoção cega a Trump sobrepõe-se à razão e à moral, ignora os perigos de um isolacionismo autoritário e lembra tempos obscuros na história da humanidade.

Derrota na Suprema Corte

A Suprema Corte dos Estados Unidos rejeitou, nesta quarta-feira, 5, a tentativa do presidente Donald Trump de impedir o pagamento de US$ 2 bilhões a organizações de ajuda internacional por serviços prestados ao governo.

A decisão representa um revés para Trump, que, desde seu retorno à Casa Branca em 20 de janeiro, tem adotado medidas para restringir iniciativas humanitárias financiadas pelos EUA. Entre suas ações, está o desmonte da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), responsável pela implementação de projetos globais de assistência.

 

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