Paraíso e inferno são lados da mesmo moeda
Somos levados a questionar o real significado de Qualidade de Vida (QV) quando percebemos o tanto que se pensa, fala e sonha com ela. Sabemos que os conceitos de bem-estar, satisfação vital, QV e felicidade estão bastante relacionados. Entendemos QV como uma dimensão
intermediária entre o limitado conceito de bem-estar e o relativizado conceito de felicidade. Para Csikszentmihalyi (1997), a felicidade não é algo que depende dos acontecimentos externos, mas sim de como os interpretamos: “…as pessoas que sabem controlar sua experiência interna são capazes de determinar a qualidade de suas vidas e isso é o mais próximo que podemos estar da felicidade”.(Csikszentmihalyi,1997, p.13)
O termo QV surge nos anos 60, quando a lógica da quantidade oriunda da ênfase na produtividade cede espaço para a valorização da qualidade. Com o tempo perdemos seu sentido original que era propor um modelo de desenvolvimento humano e social. Diz Setién: “aquele termo que surgiu como crítica a um modelo economicista e materialista de sociedade, hoje é utilizado para classificar o modo de vida da atriz, do cantor, do futebolista da moda. Em resumo, a qualidade de vida parece um totum revolutum”.(Setién, 2000, p.34)
Já na Universidade de Toronto, QV é entendida como “o grau que uma pessoa desfruta das oportunidades importantes de sua vida” (Renwick y cols, 1996, p.80 in Gorbeña, 2000). Este conceito se fundamenta em três áreas da vida: o Ser (físico, psicológico e espiritual), o Pertencer (físico, social e comunitário) e o Vir a Ser – aspirações pragmáticas e do âmbito do ócio construtivo (atividades de desenvolvimento de conhecimentos e habilidades pessoais).
As investigações sobre satisfação geral com a vida apontam que as condições concretas de vida não são importantes no momento de avaliar a satisfação vital, mas a alegria sim.(Argyle, 1992). Contudo, a personalidade saudável não se fundamenta nos prazeres instantâneos ou que tornam a vida temporariamente mais tolerável. O desafio estaria em “cultivar formas mais significativas e absorventes” de ocupar o tempo. Por isso, uma vida com qualidade teria equilíbrio entre as áreas de vida (trabalho, lazer, família e vida comunitária) e entre as habilidades físicas, intelectuais e emocionais. (Jourard y Landman, 1987)
Para finalizar, uma metáfora inspiradora: “quando o discípulo pergunta se o paraíso existe, o maestro Paracelso responde dizendo que tem certeza que o paraíso existe: e é nesta terra. Porém, o inferno também existe: e consiste em nos darmos conta de que vivemos em um paraíso”. (Borges, in Demasi, 2000, p.319)
O conto de Borges aqui estaria representando as distintas formas de viver num mesmo contexto socioeconômico e cultural. A atitude adotada frente a estas condições, o que se valoriza ou prioriza e o olhar pessoal sobre a realidade, pode fazer com que a QV se diferencie entre pessoas muito próximas. A questão é tomar consciência ou não do “ paraíso” no aqui e agora. Se conseguirmos, a vida terá mais qualidade, se não, se aproximará do que para nós pode ter sabor de “inferno”.
O valor individual na busca
pela Qualidade de Vida
Cecília Shibuya*
O conceito de Qualidade de Vida é muito subjetivo. O que é “qualidade de vida” para um, pode não ser para o outro. Muitas definições vão além do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. O que importa, no entanto, é entender o valor individual na busca desse equilíbrio.
Viver com mais qualidade exige um constante esforço. Cada um é responsável pela sua qualidade de vida. Nossas ações, atitudes e modo de ser fazem a diferença em todos os aspectos: pessoal, familiar, profissional, espiritual, físico, entre outros.
Somos as pessoas mais importantes para nós mesmos. Portanto, se não cuidarmos deste patrimônio, não teremos felicidade, já que tudo em nossa vida depende de nós. Precisamos parar de culpar os outros, reclamar, seguir exemplos que não são certos, ir contra as nossas crenças e valores, pois tudo isso nos enfraquece.
O mundo cada vez mais agitado obriga-nos a conviver diariamente com pressões, cobranças, pouco tempo para a família e para cuidar da saúde. Como conseqüência, vivenciamos com mais intensidade os efeitos negativos do estresse. É preciso lembrar que atitudes inadequadas interferem em nossa dinâmica pessoal e em todos os campos de nossa vida.
Para chegarmos a um equilíbrio entre corpo, mente e espírito, devemos estar atentos aos sinais que nosso corpo nos fornece e adotar atitudes preventivas. Precisamos nos abrir às mudanças necessárias e fazer opções que nos levem a superar as pressões e conflitos do dia-a-dia, sempre em busca de nosso bem-estar, que não é estático.
Um alto nível de qualidade de vida envolve cuidar de nossa saúde física, usar a mente de forma construtiva, expressar emoções de maneira efetiva, ser criativo com as coisas que nos cercam e estar consciente a respeito do ambiente físico, psicológico e espiritual que nos envolve.
Na última década, as pessoas começaram a perceber que viver com qualidade de vida é uma questão de “escolha”. Ao nos exercitarmos regularmente e praticarmos outros hábitos positivos em relação ao nosso estilo de vida, tornamo-nos menos vulneráveis a doenças, incapacidades físicas e até morte prematura. Qualidade de Vida é uma longa jornada na busca de uma maneira de vivermos que só é possível à medida que tenhamos condições de aprender e reaprender, de conseguir sempre coisas melhores, desde que queiramos realmente alcançá-las.