Pesquisa define temperamento e aponta possíveis transtornos
Foto: Gilson Oliveira / divulgação
Elaborada por médicos e psicólogos da PUC/ RS, da Ufrgs e da UFCSPA, a pesquisa tem como objetivo descobrir como as pessoas são a partir do próprio temperamento e quais os riscos de desenvolverem transtornos psiquiátricos. Da primeira etapa, que ocorreu entre janeiro e abril deste ano, participaram cerca de 40 mil pessoas. O resultado apontou que cerca de 50% dos entrevistados têm temperamento estável, previsível, sem muitas alterações. Os outros 50% apresentam algum grau de instabilidade, não estão satisfeitos com seu temperamento porque este gera problemas e gostariam de ser diferentes do que são. Nesse segundo grupo, segundo Diogo Lara, psiquiatra, professor da PUC/RS e coordenador da pesquisa, a chance de ter recebido algum diagnóstico é seis vezes maior do que no primeiro.
A primeira fase do questionário é psicológica e mede particularmente o grau de medo, vontade, controle, raiva e sensibilidade aos fatores de estresse. A partir daí define em qual categoria de temperamento a pessoa melhor se encaixa (irritável, eutímico, depressivo, hipertímico, ciclotímico, obsessivo, ansioso, disfórico, apático, lábil, desinibido). O excesso de medo, raiva e sensibilidade é traduzido em problemas, explica Lara. “A melhor configuração de temperamento, que representa 20% da população, é composta por medo médio, vontade alta, controle alto, raiva baixa e sensibilidade baixa”, informa o psiquiatra. Ele garante que a pesquisa, embora objetiva, é capaz de avaliar o lado subjetivo de cada participante.
Na segunda fase de perguntas são avaliados aspectos psiquiátricos do passado e do presente, para então se apontar os possíveis transtornos que a pessoa teve ou tem atualmente. A sinceridade com que cada um responde às perguntas é fundamental para uma maior precisão no diagnóstico. O fato de se responder a um computador e não a uma pessoa, ressalta o coordenador da pesquisa, aumenta a probabilidade de um maior grau de sinceridade das respostas. Isso porque a presença de um entrevistador pode inibir o entrevistado ou ainda influenciar nas respostas. Ainda mais quando se trata de uma pesquisa que aborda questões muito íntimas como preferência sexual, uso de drogas, entre outras. Provavelmente poucos ou ninguém, na presença de outro, diria a verdade se lhe perguntassem, por exemplo, “você já roubou algum objeto?”, ou “já tentou o suicídio?”.
Outra vantagem da pesquisa online, segundo Diogo Lara, é o baixo custo e a maior abrangência, tendo em vista que qualquer pessoa maior de 18 anos, de qualquer lugar do Brasil ou do mundo, que tenha um computador ligado à internet pode participar.
Mas atenção, o questionário funciona como uma espécie de triagem, que indica ou não problemas. A confirmação só pode ser feita por um médico especialista depois de examinar o paciente. Ao todo, a pesquisa trabalha com 19 transtornos mais comuns na população, entre eles depressão, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Esquizofrenia, Bulimia, Anorexia, Déficit de Atenção e Hiperatividade.
O questionário pode ser respondido em partes. A pesquisa é anônima, só pede e-mail para que o sistema possa enviar a senha de acesso. No final de cada fase, o participante recebe retorno via e-mail. Também foi medida a satisfação das pessoas após a participação. Segundo Diogo Lara, 75% acharam muito útil o retorno e 25% acharam útil. Quase a totalidade (90%) se reconheceu na descrição. Ele garante que os riscos de fraude são mínimos, pois o questionário foi elaborado de tal forma que se alguém decidir “brincar”, respondendo com inverdades, provavelmente vai se contradizer em um próximo passo e será eliminado automaticamente.
A segunda etapa da pesquisa começa em outubro de 2010. A meta, de acordo com o coordenador, é chegar a 500 mil participantes. O acesso se dá através do www.temperamento.com.br. (Maricélia Pinheiro)