30 anos de transplantes cardíacos no RS
O transplante cardíaco é hoje uma rotina não só no Instituto de Cardiologia, mas em todo o mundo. E especialmente no RS essa história teve mais um impacto: os transplantes cardíacos alavancaram outros tipos de transplantes no estado como de rins de doador cadáver, e, posteriormente, fígado, pâncreas e pulmão. E tudo graças a esse primeiro doador de coração e a todo o engajamento da sociedade que veio a seguir. Um primeiro coração mudou o rumo da história de muitas pessoas.
Falar sobre transplante de coração sempre mexe comigo, não só porque significa salvar vidas, mas também porque leva a um grande acontecimento para cirurgia cardíaca gaúcha e brasileira: a retomada dos transplantes cardíacos no Brasil.
Nos anos 1960, o homem estava protagonizando grandes avanços. Em 1968, o cineasta Stanley Kubrick lançou o filme de ficção científica 2001 – Uma Odisseia no Espaço. O homem pisou na lua em 1969. Pisar na Lua e trocar corações eram acontecimentos que faziam o homem acreditar que tinha poderes sobre-humanos. O primeiro transplante cardíaco foi feito por Christiaan Barnard em 3 de dezembro de 1967, na África do Sul. No Brasil, foi realizado em 1968, quando o professor Euryclides de Jesus Zerbini fez a cirurgia pioneira na América Latina, em São Paulo. Então, em 2 de junho de 1984, realizamos, no Instituto de Cardiologia, o primeiro transplante cardíaco no RS e quarto no Brasil, representando a retomada dos transplantes cardíacos, já que esse tipo de cirurgia havia tido uma pausa desde aqueles três primeiros transplantes feitos na década de 1960 pelo dr. Zerbini, em função do problema da rejeição do órgão pelo organismo do receptor. O próprio dr. Zerbini, a respeito deste feito do IC-FUC, chegou a escrever no seu livro intitulado Operário do Coração: “Em junho de 1984, um cirurgião brasileiro fora do eixo paulista – o dr. Ivo Nesralla, de Porto Alegre – realizou o primeiro transplante sul-americano dessa nova era, com emprego da ciclosporina, o quarto da história do país. O paciente não sobreviveu, mas estava aberta a nova temporada de transplantes”.
Comemoramos no dia 2 de junho deste ano os 30 anos desse primeiro transplante que tantas vidas mudou e me percebo emocionado. Estamos agora no transplante cardíaco número 199 da instituição e sinceramente espero que na publicação deste jornal Extra Classe estejamos festejando o txc nº 200. Olho para trás e vejo que valeu a pena não só para esses pacientes como para todos os transplantes de outros órgãos no estado. É o efeito locomotiva do transplante: puxando avanços científicos.
Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal
*Cirurgião cardiovascular pioneiro nos transplantes cardíacos. Professor da Ufrgs. Diretor-presidente do Instituto de Cardiologia do RS. Membro da Academia Brasileira de Medicina.