Foto: Igor Sperotto
Ás 6 horas do dia 1º de agosto de 2012, pouco depois de ter dado uma entrevista para o 1º caderno da Campanha Cultura Doadora do Jornal Extra Classe, o motorista aposentado Erni Sebastião Paiva Barros, então com 50 anos, entrou no bloco cirúrgico do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul para receber um transplante de coração. Às 9h54, seu novo coração começou a bater. A precisão do relógio é confirmada pelo médico. Desde que se descobriu com problemas cardíacos, cada segundo em sua vida é precioso.
Dois infartos, uma ponte mamária, duas safenas, 14 cateterismos, uma angioplastia, uma tentativa de tratamento com células-tronco e um marca-passo com desfibrilador, anteriores ao transplante, não haviam sido suficientes para evitar que a bomba-relógio dentro do peito de Barros ameaçasse explodir a qualquer momento, como aconteceu com seus pais, um filho e um irmão que morreram com problemas cardíacos. Ainda assim, ele relutava em entrar na fila para transplantes. Foi convencido pela vontade de ver nascer o neto e acompanhar a educação do enteado que tem o nome de seu filho.
Tudo isso agora é passado. Ao despertar da cirurgia, já com o coração novo, Barros não sabia se ria de alegria pela chance renovada de vida, ou chorava de emoção pela dor da família que fez a doação. “Descobri que meu coração veio de um rapaz de 19 anos que teve morte encefálica após levar um tiro na cabeça quando saía de uma boate, por causa de uma briga no outro lado da rua”, conta.
Dois anos depois do transplante, Barros diz que sua meta agora é “viver bastante”. Faz a biópsia de controle a cada três ou cinco meses, controla a alimentação, e, de resto, cuida do jardim, capina, corta grama, anda de bicicleta e brinca com o enteado. Não teve depressão pós-operatória como é comum, diz Barros, porque não se permite ficar parado “pensando em bobagem”. Vive em torno da família, e seu trabalho agora é ajudar os que estão na fila esperando por um transplante, para não deixá-los desanimar. Em Rio Pardo, segue distribuindo adesivos e conselhos na campanha para que as pessoas falem com suas famílias e se manifestem a favor da doação de órgãos.
Ao final desta entrevista, Barros aponta para o relógio pendurado em cima da porta principal de entrada e saída do Instituto de Cardiologia e sorri: “No dia em que entrei aqui, antes da primeira entrevista (e do transplante), olhei para cima e pensei… tá parado. Outro dia, reparei que havia voltado a funcionar. Sempre que chego aqui, penso: agora está funcionando, como eu. Tomara que nunca mais pare”.