Foto: Igor Sperotto
O projeto Cultura Doadora, instituído em 2012 pela Fundação Ecarta, tem como objetivo contribuir na formação de uma cultura de solidariedade e de uma atitude proativa para a doação de órgãos e tecidos, bem como na qualificação da infraestrutura de atendimento à saúde no Rio Grande do Sul. A formação dessa cultura, na concepção do projeto, é tarefa da família, mas também da escola. Por isso, o Cultura Doadora é direcionado aos professores e às instituições educacionais.
Nesses cinco anos de atividades, o projeto já realizou mais de 40 eventos, proporcionando a mais de 7 mil pessoas o envolvimento com os temas relacionados aos transplantes e à doação de órgãos, na sua maioria professores e estudantes. Apesar de demandas por debate sobre o tema no ambiente educacional, as escolas, no geral, geraram certa frustração em termos de possibilidades de formação de uma cultura doadora. A avaliação é do professor Marcos Fuhr, coordenador do projeto.
O engajamento do professor Fuhr no Cultura Doadora foi motivado por uma experiência pessoal não exitosa. Quando a mãe dele faleceu de câncer, há 12 anos, a equipe de captação solicitou a doação de suas córneas, mas um familiar informou que nunca tinham discutido o tema e ele não insistiu. “Deveria ter tido uma atitude mais proativa.” O que faltou para ele na época, diz, foi o propulsor de um trabalho desenvolvido até os dias de hoje. “Nós instituímos o projeto na perspectiva de que pudesse contribuir na formação de uma consciência doadora de órgãos e tecidos a partir da adesão dos professores e dos agentes educadores, uma vez que a Fundação Ecarta tem muita proximidade com o meio educacional”, explica.
Para o dirigente, há uma grande resistência nas instituições de ensino ao tema. “A impressão é que a escola privada, em especial, é resistente a qualquer coisa que possa ter polêmica, que cause estranheza, manifestação de contrariedade dos pais, das famílias, dos tomadores do serviço educacional. Doação de órgãos e tecidos envolve morte, que é tabu na nossa cultura, com raras e honrosas exceções, não se fala. Ninguém tem preocupação em preparar as pessoas para a morte, apesar de ser a única coisa certa”, pondera.
Ao longo de cinco anos, houve algumas oportunidades de acesso aos professores e estudantes, o que sempre é precedido de muita insistência. “A perspectiva da continuidade da vida depende da morte de quem vai doar. Isto é uma dificuldade. Os educadores e as direções das escolas precisam repensar o seu papel nesse contexto”, alerta.
A proposta agora é perseverar no projeto, ampliando a inserção do debate sobre doação de órgãos não só nas escolas, mas também na sociedade em geral. “Estamos buscando diferentes espaços de convivência para levar a mensagem da cultura doadora. Apesar da extrema dificuldade para ocupar esse espaço que seria prioridade, não desistimos da escola. Ao longo desses anos e frente a essas dificuldades, temos procurado outros espaços, como associação de moradores, sindicatos, que oportunizem palestras, painéis com profissionais de saúde, pessoas que são transplantadas”, revela.
Uma das marcas do projeto Cultura Doadora é, inclusive, a capacidade de sensibilizar pessoas para o sentido e a importância da doação de órgãos. “Que seja tema de conversa nas famílias, de modo que se comprometam com a autorização. Todos precisam entender que a possibilidade de se precisar de um órgão é muito maior do que de ser doador”, ressalta.
Como multiplicar a Cultura Doadora na escola
Foto: Igor Sperotto
O site da Fundação Ecarta traz amplos subsídios para que os professores proponham múltiplas abordagens sobre doação de órgãos em salas de aula. Há sugestões de atividades e farto material pedagógico, com informações em linguagem acessível para pesquisa e discussão por faixas etárias.
Para os anos finais do ensino fundamental, o conteúdo propõe a organização de um jogo sobre o tema doação de órgãos e tecidos, utilizando os conhecimentos em Ciências sobre corpo humano para envolver estudantes, familiares e amigos.
Também é possível se inspirar na experiência de educandos e educadores da Escola de Educação Básica Rainha do Brasil, que criaram o projeto “Doe sangue, doe vida”.
Todos os conteúdos estão disponíveis para download.
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