Foto: Igor Sperotto
Pais e mães de estudantes do Colégio Estadual Emílio Massot, em Porto Alegre, vão receber neste ano, junto com os boletins de notas de seus filhos, folhetos sobre doação de órgãos e tecidos elaborados pelos próprios jovens. Pela primeira vez, nos cinco anos do projeto Cultura Doadora da Fundação Ecarta, uma escola inteira aderiu à proposta: ao longo dos últimos três meses, todos os professores, funcionários e alunos do Emílio Massot tiveram a oportunidade de assistir a palestras com especialistas e transplantados para falar sobre o tema e eliminar dúvidas ou medos, abraçando assim a ideia da cultura doadora.
O professor Francismar Alves, de Ciências, assistiu às palestras e decidiu transformar a doação de órgãos e tecidos em matéria de sala de aula, trabalhada junto com as disciplinas de Matemática, Artes e Português. Pediu aos alunos das nonas séries para pesquisarem em grupos sobre transplantes. A primeira parte do trabalho foi apresentada em grande grupo, com cartazes e slides informativos. A segunda foi uma pesquisa por escrito.
Professores das demais disciplinas participaram para ajudar na elaboração de infográficos, desenhos do corpo humano, correção ortográfica do trabalho por escrito. Nem os nomes mais difíceis, como imunossupressores, que confundiram alguns na hora da apresentação, tiraram o valor e a dedicação para preparar cartazes, desenhos, infográficos, slides para falar sobre doação de órgãos e tecidos. Transplantes e salvar vidas foram palavras que ecoaram pelos corredores, em uma exposição e nas palestras, cujos conteúdos foram comentados nas casas, após as aulas.
Por que alguém precisa de transplante? Quantos órgãos foram transplantados no Brasil? Como acontece o transplante de pulmão? E do coração? Quem pode doar? Alunos e alunas foram atrás das respostas, acumulando conhecimentos e compartilhando noções de solidariedade. Para apoiar a pesquisa feita por estudantes, Francismar contou também com a colaboração de cinco acadêmicos de Biologia do Programa de Incentivo à Licenciatura da Pucrs, convênio no qual atua como supervisor.
Entre uma e outra apresentação de estudantes, uma descoberta: a professora de Educação Física da escola Andreia Steffanello Pereira, 32 anos, recebeu um transplante de córnea quando tinha 16 anos por causa de uma doença chamada Ceratocone, que faz com que a imagem fique desfocada. A doença se manifestou apenas no olho esquerdo – no olho direito tem visão perfeita. Após o transplante, Andreia recuperou 60% da visão do olho esquerdo. A turma que havia escolhido falar de transplante de córnea ficou empolgada. Era a vida real entrando na escola pela porta da frente, sem intermediários. Assim, ficou mais fácil entender o princípio da doação de órgãos e tecidos.
“A doação permite que as vidas de outros sigam em frente. Podendo salvar alguém, por que não doar?”, perguntou Andreia. E as palestras nas escolas vão continuar semeando doadores.
No Colégio Bom Jesus Sévigné, em um encontro com professores, o médico Spencer Camargo reproduziu um diálogo:
“– Não quero ser doador.
– E receptor?
– Ah, receptor, sim”.
Camargo lembrou que a chance de alguém vir a precisar de um órgão é maior do que ser um doador. “Nós, professores, temos de estar bem informadas para passar informação para os estudantes”, observou Ana Lúcia Vargas, 55 anos, professora de História e Empreendedorismo do Sévigné, após assistir à fala de Spencer. “Tratamos da morte como um fim, mas pode ser um começo para outra pessoa”, refletiu.
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EXPEDIENTE – ESPECIAL DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
REDAÇÃO – extraclasse@sinprors.org.br
Coordenação: Valéria Ochôa
Edição: Gilson Camargo
Redação: Clarinha Glock e Marcia Santos
Diagramação e Projeto Gráfico: Fabio Edy Alves/ Bold Comunicação
Fotografia: Igor Sperotto
Revisão: Press Revisão