País tem 159 mortes e supera 4,5 mil infectados por coronavírus
Foto: Warley de Andrade/TV Brasil
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
Balanço divulgado na tarde desta segunda-feira, 30, pelo Ministério da Saúde mostra que o número de vítimas fatais em decorrência do contágio do novo coronavírus aumentou de 136 para 159 nas últimas 24 horas. O país tem 4.579 casos confirmados de covid-19, 323 a mais em relação à última atualização. Os dados do ministério com base nas notificações dos estados referem-se ao total de casos de contágios e óbitos até às 15h – ou seja, os casos confirmados pelos estados após esse horário não foram contabilizados. Epicentro da pandemia, o estado de São Paulo registra um total de 113 óbitos relacionados ao novo coronavírus, 15 confirmadas nesta segunda-feira. O estado tem 1.517 casos de contágio confirmados.
Com dois novos casos em residentes de Bagé, o Rio Grande do Sul passou para 241 casos confirmados por coronavírus (números atualizados nesta noite pela SES/RS) e três óbitos.
As mortes estão localizadas nos estados do Amazonas (1), Bahia (1), Ceará (5), Maranhão (1), Pernambuco (6), Piauí (3), Rio Grande do Norte (1), Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (18), São Paulo (113), Distrito Federal (1), Goiás (1), Paraná (3), Rio Grande do Sul (3) e Santa Catarina (1). Após o agravamento das tensões com Jair Bolsonaro e a cúpula do governo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, reiterou a disposição de manter o protocolo de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS) que foi desrespeitado pelo presidente que foi às ruas cumprimentar populares no Distrito Federal, mas ao mesmo tempo sinalizou um abrandamento nas medidas. “Ainda não é momento de isolamento total, mas se você puder evitar ao máximo sair de casa o faça. Ajude a proteger você, a sua família e os nossos idosos”, destacou.
Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Braga Netto, Mandetta concedeu entrevista coletiva virtual no final da tarde, no Palácio do Planalto, para detalhar as ações de enfrentamento ao coronavírus. Também participaram Onyx Lorenzoni (Cidadania), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e André Luiz de Almeida Mendonça (Advocacia-Geral da União). O ministro da Casa Civil anunciou que todas as coletivas da equipe da Saúde passam a ter a presença de outros ministros e que as perguntas de jornalistas agora serão submetidas com antecedência ao gabinete da presidência.
LETALIDADE – O ministro da Saúde explicou que a taxa de letalidade da pandemia, que atingiu 3,4%, deve cair à medida em que o ministério realiza mais testes com a população, já que a limitação do número de testagens representa uma subnotificação. “O número de casos confirmados é muito maior do que o que é do conhecimento do ministério devido ao baixo número de testes que estamos conseguindo fazer, quanto mais testes, menor é a letalidade”. Com a testagem em massa, as estatísticas de contágio devem se multiplicar, avisou. “Vai aumentar muito o número de casos confirmados. Esperem para essa semana um aumento significativo”, projeta.
No dia 24 de março, o ministério já vinha anunciando a ampliação para 22,9 milhões o número de testes que serão distribuídos para diagnosticar o covid-19 no país. São dois tipos diferentes de testes: aqueles que detectam o vírus na amostra (RT-PCR) e outros que verificam a resposta do organismo ao vírus, o teste rápido de sorologia, quando são verificados os anticorpos, na resposta imunológica do corpo ao micro-organismo invasor. Do total de kits, oito milhões são testes rápidos.
O ministro voltou a alertar sobre a gravidade da pandemia, afirmando que para as autoridades de saúde “essa patologia é nova, ela está escrevendo a sua história, vai se mostrar de maneiras assimétricas até que nós tenhamos no mundo uma uniformidade. Algumas coisas a gente já conhece, como a morbidade e que São Paulo é o ponto fora da curva devido a um hospital só de idosos que iniciou o processo de contaminação. É um case que está sendo monitorado, e não se repete em outros estados”.
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
DEMISSÃO – Questionado sobre os atritos com o presidente Jair Bolsonaro que se agravaram no último sábado, e também se estaria se sentindo ameaçado de demissão ou se pretende deixar o cargo, Mandetta minimizou o clima tenso entre Bolsonaro, a cúpula militar e a equipe da saúde e só piorou durante o final de semana. Bolsonaro, que violou todos os protocolos de restrição em vigor por causa da pandemia ao passear por Brasília cumprimentando populares e até pegando crianças no colo, chegou a confidenciar a assessores com seu linguajar peculiar que estaria “de saco cheio” do ministro e da sua “obsessão” com o isolamento social, com a quarentena e a gravidade da crise – realidade da qual Bolsonaro desdenha.
Antes que Mandetta pudesse formular uma reposta aos jornalistas que faziam perguntas on-line na coletiva desta tarde, o ministro da Casa Civil, que coordenava a mesa, atalhou: “Não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta”. Ao retomar a palavra após a tentativa de apaziguamento de Braga Netto, o ministro da Saúde apontou em outra direção: “em política, quando a gente diz que não existe é porque existe…”, ironizou.
Em seguida, Mandetta emendou que o espírito de todos é tentar ajudar. “A gente vem procurando fazer o melhor para o povo brasileiro. O presidente também. As tensões são proporcionais ao tamanho da crise”. E voltou a alertar para a gravidade da pandemia. “Não vamos perder o foco. Gente, é um vírus corona novo que derrubou um sistema mundial, é mais dramático que as guerras mundiais, atacou o país que mais produz insumos. Nova York baixou a regulamentação para que a máscara N95 seja usada por cinco dias, aliás, quem tiver dessas máscaras passa num hospital e deixa que nós vamos precisar”. O vírus, sublinhou o ministro, “ataca tudo. É sistêmico. Enquanto não temos uma resposta mais cientificamente comprovada, a saúde vai dizer para ficarmos em distanciamento ou isolamento social. É o nosso instituto preservação”, explicou, citando um clássico do misticismo oriental da literatura de consultório, o libanês Khalil Gibran: “é a ânsia da vida por ela mesma, mais forte que o instinto econômico”. “Enquanto eu estiver nominado eu vou trabalhar com a ciência com a técnica e com o planejamento”, completou, justificando que “todo mundo briga e puxa a orelha de todo mundo, estamos estressados por conta de um enorme problema que atinge todas as nações do mundo”.
CRITÉRIOS TÉCNICOS – Os critérios para as ações do ministério, reforçou o ministro ao ser questionado sobre o contraste entre o comportamento de Bolsonaro e as diretrizes da pasta, serão “sempre técnicos, sempre científicos e pelo máximo que a gente puder fazer pra preservar vidas. Todos, sem distinção. Qual é a razão desse posicionamento? No momento se deve manter o máximo de distanciamento social para que o sistema se consolide. Estamos mudando o sistema, estão chegando equipamentos, hospitais de campanha estão sendo construídos. Os EPIs começaram a chegar aos estados a partir de sexta-feira”, argumentou. Ao final, Mandetta ensaiou um desabafo, possivelmente endereçado a Bolsonaro. “A burocracia mata. Ela está muitas vezes entre o que se vota e o que chega ao cidadão. Mas o momento exige que não faça movimento descoordenado nem movimento em manada, caso contrário teremos um megaproblema de doença e de economia”.
Diante da insistência de jornalistas sobre a rota de colisão entre o Palácio do Planalto e o ministério da Saúde, Mandetta ponderou que a crise vem sendo pauta de reuniões diárias e mandou um duplo comando ao dizer que não estariam descartadas “outras estratégias”, o que equivale a admitir que pode ceder à pressão de Bolsonaro pelo abrandamento dos protocolos. “Precisamos levar ao presidente o conjunto da obra. O próprio ministro Paulo Guedes (Economia) sabe que a pandemia tem condicionantes e que não temos tempo”.
“VAMOS REZAR” – O ministro alertou, no entanto, que “todos os países do mundo que se comprometeram com tempo bateram com a cara na porta. Trump teve que mudar o prazo previsto para o fim do isolamento da Páscoa para 30 de abril. Já nós estamos sempre um pouquinho à frente, vamos colher o fruto do isolamento social que estamos fazendo agora só na próxima quinzena. O que você fez nos 14 dias anteriores é o que reflete nas semanas seguintes. E parar no pico do morro como fez a Itália e a Espanha, aí a epidemia vai seguir o seu curso até o final”. Com frases pouco articuladas, Mandetta disse que as ações da sua pasta estão sendo estruturadas de acordo com as desigualdades sociais e econômicas. “Vamos fazer as coisas do nosso jeito, sabendo que a gente tem favelas, tem problemas de saneamento, famílias com a geladeira vazia e todas as nossas fragilidades”.
Na semana passada, o ministro subiu o tom ao atacar os meios de comunicação ao qualificar a imprensa de “sórdida” e sensacionalista. Desta vez, Mandetta ensaiou um pedido de desculpas, mas voltou a atacar a cobertura da pandemia, sugerindo que a população se aliene do noticiário. E concluiu: “vamos rezar”. “Procurem outras possibilidades, nós estamos na Quaresma, leiam a bíblia. Televisão é estresse. Nós temos um exército de solidariedade, empresários ligando e perguntando o que pode fazer, não o que o governo vai fazer, vamos fazer nós… Vão ser dias duros, vamos ter dias bons, acertar e errar, e todos tem que fazer sua autocrítica. Vamos rezar. Não estamos ainda em lockdown absoluto, mas não exponham seus idosos ao vírus”.