SAÚDE

Marchezan volta a restringir comércios e serviços

Previsão de que UTIs devem ultrapassar capacidade máxima até o final de junho faz prefeito de Porto Alegre voltar atrás em parte das flexibilizações ao distanciamento anunciadas em maio
Por César Fraga / Publicado em 15 de junho de 2020
Mesmo com reforços de mais leitos de UTI, até o final do mês haverá déficit para atendimento de pacientes graves de Covid-19

Foto: Prefeitura Municipal de Porto Alegre/Facebook

Mesmo com reforços de mais leitos de UTI, até o final do mês haverá déficit para atendimento de pacientes graves de Covid-19

Foto: Prefeitura Municipal de Porto Alegre/Facebook

No último domingo, 14 de junho, o prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Jr antecipou as medidas de distanciamento social que passam, a vigorar a partir de decreto municipal publicado desta segunda-feira, 15, com vigência na terça, 16.

De acordo com o que o prefeito disse aos jornalistas em coletiva de imprensa, a capital volta a ter mais restrições e explica os critérios adotados. No final de semana Porto Alegre alcançou, conforme boletim epidemiológico, a marca de 53 óbitos por coronavírus e mais de 2,1 mil pessoas infectados pelo vírus, dentre as quais 838 já foram consideradas recuperadas da Covid-19. Conforme previsão da prefeitura, as Unidades de Tratamento Intensivo destinadas para Covid-19 devem ter sua capacidade máxima ultrapassada até o final de junho.

A partir desta segunda, 15, somente pode haver o funcionamento presencial nos comércios e atividades cujo faturamento é igual ou superior a R$ 400 mil/mês (faturamento acima de R$ 4,8 milhões por ano). Diferente do informado na sexta-feira, quando o próprio prefeito disse que o valor seria de R$ 360 mil/mês. Shoppings seguirão abertos, a exceção das lojas com faturamento acima desto critério estabelecido no critério.

De acordo com a prefeitura podem funcionar microempresas (ME), empresas de pequeno porte (EPP) e o microempreendedor individual (MEI) que se enquadrem nos quesitos do decreto e não estejam dentro das restrições especificadas. Casas noturnas, pubs, boates e similares; teatros, museus, centros culturais, bibliotecas, cinemas, clubes sociais e semelhantes seguem fechados.

“Liberamos paulatinamente alguns setores e sempre alertamos que, se houvesse necessidade, poderíamos voltar a restringir. E isso infelizmente aconteceu, com o crescimento da velocidade de ocupação de leitos de UTI. Estas novas medidas visam a conter uma evolução descontrolada, o que poderia ampliar o risco de estrangulamento da nossa capacidade de atendimento em saúde. Ainda que indesejadas, essas regras são para evitar que pacientes que precisem de leitos fiquem sem atendimento”, avalia o prefeito.

Serviços essenciais serão mantidos

A excepcionalidade da regra será aplicada apenas aos serviços considerados essenciais, serviços de tecnologia (chips, consertos de computadores e assistências) e àqueles ligados a assistência de automóveis. Shoppings, que seguirão abertos, menos as lojas com faturamento acima deste patamar. A medida atinge cerca e 5 mil empresas.

Há também a limitação de funcionamento de bares e restaurantes, reduzida. Agora devem fechar 22 horas e não mais às 23 como anteriormente mas seguem com as medidas sanitárias de distanciamento anterior. Também estão suspensos os serviços presenciais exceto os essenciais, assim como os serviços públicos e os de contabilidade, por conta do prazo para declaração do Imposto de Renda.

De  acordo com Marchezan o critério utilizado foi o de  provocasse resultado na circulação, seguindo protocolos usados na Alemanha e em Portugal. “Entendemos que as empresas com tamanho menor recebem menos pessoas, está mais capilarizada pela cidade. As pessoas andam menos até elas, e normalmente não precisam utilizar ônibus ou outros meios de transporte, porque podem caminhar até o local, que é o mais recomendado. Então, a ideia é distribuir a oferta em ambientes menores, com menos pessoas e menos circulação”, justifica.

Marchezan informou também que foram feitos ajustes no decreto com base no cenário epidemiológico atual da metrópole e a projeção, levando em consideração os números atuais, de cenários para a ocupação de leitos de UTIs para os próximos dias do mês de junho.

O boletim deste domingo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) apontou que a Capital possui 110 pessoas internadas em leitos de UTI entre aquelas com diagnóstico confirmados e suspeitos. “Nos últimos 12 dias, nós tivemos um crescimento que projeta uma ocupação de 174 leitos extras de UTI no dia 30 de junho”, relatou.

Flexibilização fez crescer número de casos

De acordo com o prefeito, foram adotados critérios semelhantes aos da Alemanha e Portugal

Foto: Reprodução de Vídeo/Facebook

De acordo com o prefeito, foram adotados critérios semelhantes aos da Alemanha e Portugal

Foto: Reprodução de Vídeo/Facebook

“A última decisão de ampliar a flexibilização foi no dia 20 de maio. Ampliou a circulação e a contaminação de pessoas. Nós estamos retornando do cenário do dia 20 de maio ao cenário do dia 5 de maio”, explicou Marchezan ao não descartar que “outras decisões” restritivas poderão ser tomadas na Capital.

Segundo o prefeito, até semana anterior Porto Alegre tinha o “controle da contaminação”, quando a velocidade de ocupação de leitos por pacientes com coronavírus teria permanecido estabilizada desde 10 de abril.

Até domingo a taxa média de ocupação de UTIs estava em 77,29%. Porém, os hospitais como Cristo Redentor, Fêmina e Restinga apresentavam ocupação de 100%, justamente os que atentem predominantemente pelo SUS. Desses, apenas o Cristo Redentor tem, entre os pacientes da UTI, um enfermo com suspeita de Covid-19. Outros quatro hospitais apresentavam, igualmente, percentuais bem acima da média: Divina Providência (81,25%), Mãe de Deus (81,82%), Nossa Senhora da Conceição (82,67%) e Moinhos de Vento (89,29%).

Nesta segunda, há 79 pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva por coronavírus, um salto de 75% em relação ao início de junho, quando eram 45. A volta de algumas restrições tem o objetivo de evitar que a demanda de saúde extrapole a capacidade de atendimento da rede hospitalar.

A expectativa é de que quadro se torne menos grave com a abertura de novos leitos, no Hospital Independência, que já está 90% dos leitos de UTI ocupados, do módulo Covid HI. Com atendimento 100% SUS e 60 leitos, o novo espaço começa a funcionar já nesta segunda-feira. O

Prefeito mostrou preocupação com o elevado número de doentes da região metropolitana internados em UTIs da capital, provenientes Alvorada, Viamão, Guaíba e Novo Hamburgo.

PARQUES – Foi descartada pelo prefeito qualquer possibilidade de privar a população do uso do transporte público e dos espaços públicos de lazer da cidade, como a Redenção e a Orla do Guaíba. “Nós temos um lugar que é seguro: que é ficar em casa, não sair e não receber ninguém. O segundo lugar mais seguro é ao livre, isso nos leva a não fechar”, disse. Em relação ao transporte, ele disse que o governo municipal estuda hoje alternativas para o controle de contaminação nos veículos coletivos, mas não explicou quais seriam.

“Nós nos preparamos sim! Muito bem! Temos uma capacidade de testagem invejável. O mais transparente possível. Os cuidados pessoais e individuais são muito importantes, mas nenhuma política individual jamais conseguirá ser maior em seus reflexos do que uma política de ação social”, destacou ao pedir a colaboração da população no cumprimento dos protocolos de enfrentamento ao coronavírus.

Entenda as restrições 

Dentro das novas regras determinadas pela prefeitura para o comércio, estão autorizados a funcionar: microempresas, microempreendedores individuais (MEIs), empresas de pequeno porte (EPPs) e autônomos. O funcionamento fica liberado a partir das 9h, para evitar a superlotação de passageiros no transporte coletivo.

Restaurantes – Não há restrição de porte para funcionamento de restaurantes, bares e lancherias, que ficarão com atendimento permitido até as 23h. Delivery e take-away seguem autorizados em qualquer horário, desde que sem entrada de clientes no estabelecimento e sem formação de filas.

Shoppings – Dentro de shoppings centers e centros comerciais, locais de alta circulação de pessoas, seguem autorizados a funcionar: farmácias e lojas de comércio e serviços na área da saúde; mercados, supermercados e afins; restaurantes, bares e lancherias (até as 23h); bancos, terminais de autoatendimento, lotéricas e correios (atendimento a portas fechadas e na proporção de um cliente por atendente); estacionamentos e posto de atendimento da Polícia Federal. Lojas poderão abrir seguindo as regras dos demais estabelecimentos comerciais de rua (microempresas, MEIs e EPPs).

Serviços – Escritórios de advocacia, engenharia, consultorias, imobiliárias, serviços administrativos, entre outros com atendimento ao público, deverão retornar ao trabalho remoto.

Histórico – O primeiro caso de Covid-19 em Porto Alegre foi registrado no dia 8 de março. Uma semana depois, a administração municipal já havia determinado a suspensão das aulas e fechamento de shoppings, restaurante e bares, sendo Porto Alegre uma das capitais que primeiro agiram para achatar a curva. A cada dia, novas ações de isolamento eram implantadas. A primeira morte ocorreu em 24 de março. Hoje, cerca de três meses após a chegada do vírus, Porto Alegre registra 55 mortes pela Covid-19. Com as medidas de isolamento adotadas com a devida antecedência, a Capital teve tempo de ampliar o número de leitos e preparar o sistema de saúde para combater a pandemia.

 

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