Paciente tratado com cloroquina morre em Veranópolis
Foto: Agência Brasil/Arquivo
Foto: Agência Brasil/Arquivo
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) negou nesta quarta-feira, 15, um recurso da prefeitura de Veranópolis, na serra gaúcha, para reverter o primeiro óbito da cidade causado pelo novo coronavírus. O paciente, com histórico de cardiopatia grave, foi tratado com cloroquina e morreu no último sábado, 11.
O atestado de óbito, lavrado pelo prefeito da cidade, Waldemar de Carli (MDB), indica que a morte foi causada por infarto agudo do miocárdio, seguido de parada cardiorrespiratória. O próprio prefeito , que é cardiologista, anunciou que ingressará com um novo recurso para tentar reverter o registro por Covid-19 por parte da Secretaria.
O caso passou por uma avaliação técnica da Vigilância Epidemiológica da SES, que apontou síndrome respiratória aguda grave como causa do óbito. Foram analisados os exames realizados pela vítima, o prontuário médico da internação e a própria declaração de óbito, onde consta a Covid-19 como “condição significativa para a morte”.
A SES informou que o diagnóstico positivo foi feito com o método padrão ouro para detecção do vírus no organismo (RT-PCR). O paciente também apresentou, nos exames de imagem do pulmão, um quadro compatível ao coronavírus. Também consta nas evoluções enviadas pelo município quadro de mialgia, hipertermia, tosse, fadiga, inapetência e dispneia, características da infecção pelo vírus.
De Carli considerou a decisão da SES “um acinte” e disse que não aceita a interpretação oficial sobre o caso. “Parece que o governo do Estado quer ter um monte de óbitos por Covid-19. É uma resposta totalmente equivocada”, reagiu.
A vítima era um homem de 61 anos que, segundo os registros oficiais, apresentou os primeiros sintomas de Covid-19 no dia 26 de junho. Segundo os dados da Secretaria de Saúde de Veranópolis, o homem ficou internado 72 horas para observação, entre os dias 4 e 6 de julho, mas não precisou de ventilação mecânica. A confirmação para a doença só saiu no dia 5.
Paciente seguiu protocolo de tratamento para Covid-19
Foto: Prefeitura de Veranópolis/Divulgação
Ainda segundo a secretaria, o paciente seguiu o protocolo de tratamento da prefeitura para a Covid-19, que indica uso de cloroquina de forma preventiva. Ele começou a tomar a medicação, juntamente com ivermectina e azitromicina, no dia 3 de julho, dois dias antes da confirmação da doença. A última das cinco doses prescritas foi administrada no dia 7, quando o paciente já estava em casa. Cinco dias depois, ele morreu de infarto.
De acordo com o Ministério da Saúde, o uso da cloroquina não tem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19 e pode causar efeitos colaterais graves, especialmente arritmias cardíacas. Mesmo assim, em junho houve alteração no protocolo de combate ao coronavírus e a cloroquina passou a ser recomendada nos tratamentos precoces de Covid-19 em toda a rede pública de saúde.
Foi o prefeito Waldemar de Carli (MDB) quem atendeu o paciente na noite de sábado. Embora o atestado de óbito atribua a morte ao infarto, o documento menciona fatores adicionais, como problemas de circulação, para o desfecho. “Era um paciente cardiopata, com histórico de outros dois infartos. Não consideramos como morte causada pela Covid-19”, disse De Carli.
O prefeito é um defensor incondicional do tratamento precoce para Covid-19 com cloroquina. Segundo ele, há “algumas evidências” de que a medicação funciona. “Claro que não é uma evidência classe A, mas não temos tempo para isso. Em algumas situações é importante, se o paciente concordar”, disse. Ele, entretanto, não afirmou que evidências são essas.
De Carli disse também que o paciente apresentou uma evolução satisfatória em relação ao quadro infeccioso de Covid-19, não precisando ser intubado e não registrando falta de ar ou outro sintoma grave, como alega o relatório da Secretaria Estadual da Saúde. “A oxigenação sanguínea dele nunca baixou de 95%. Não podemos atribuir todas as mortes à Covid-19, embora fosse um paciente de alto risco”, completou.
Prefeito defende o uso preventivo da cloroquina
Segundo o prefeito, o óbito também não pode ser atribuído ao uso da cloroquina. “O paciente teve acompanhamento hospitalar em parte do tratamento e morreu cinco dias depois da última dose. A cloroquina pode causar arritmias, mas não infarto”, explicou.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), porém, não recomenda o uso do medicamento para tratamento precoce da Covid-19 enquanto não surgirem “evidências científicas” sobre sua eficácia. Mas, nos casos em que pacientes optarem pelo uso, sugere a realização de eletrocardiogramas periódicos para subsidiar a decisão médica de manter ou não o tratamento.
A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas, por sua vez, advertiu que a cloroquina pode causar bloqueio atrioventricular total, “potencialmente fatal”, além de predispor os pacientes à taquicardia ventricular polimórfica, que aumenta o risco de morte súbita.
NÚMEROS – De acordo com dados do Governo do Estado, o Rio Grande do Sul registrou nesta quarta-feira 41 novas mortes de um total de 1.101, além de 1.321 casos a mais em relação a ontem, totalizando 42.239.