SAÚDE

Governo fracassa na compra de seringas

No pregão eletrônico realizado para compra de seringas, o governo conseguiu comprar apenas 7,9 milhões de unidades das 331 milhões planejadas e necessárias; técnicos subestimaram leis do mercado
Por César Fraga / Publicado em 30 de dezembro de 2020
Ministério da Saúde ao subestimar valores de mercado adquiriu apenas 7,9 milhões das 331 milhões necessárias

Foto: Marcello Casal Jr/AgenciaBrasil

Ministério da Saúde ao subestimar valores de mercado adquiriu apenas 7,9 milhões das 331 milhões necessárias

Foto: Marcello Casal Jr/AgenciaBrasil

O país ainda não tem nenhuma vacina aprovada pela Anvisa e não há  data prevista para começar a vacinação em massa para imunização da população brasileira contra o novo coronavírus (covid-19). No governo, fala-se em 20 de janeiro, na melhor hipótese ou em 10 de fevereiro, na pior. Para deixar o quadro mais dramático,  na terça-feira, 29, o Ministério da Saúde (MS) fracassou na primeira tentativa de comprar seringas e agulhas. No pregão eletrônico realizado realizado para este fim, o governo conseguiu comprar apenas 7,9 milhões de unidades das 331 milhões planejadas e necessárias. De acordo com técnicos do MS, os preços cobrados pelos fornecedores estavam acima do que o governo queria pagar. Como resultado, a aquisição representa apenas 3% do que se esperava.

Logo após o episódio, as críticas de Leandro de Oliveira, membro Conselho Municipal de Saúde de São Paulo (CMS-SP) já ecoavam na imprensa e nas redes sociais:  “Nesse momento, temos um ministério coordenado por alguém que não se antecipa. Precisamos de um ministro à altura do sistema de Saúde que os brasileiros construíram”.

O conselheiro afirmou, em entrevista à RBA, que, em São Paulo, autoridades estaduais e municipais de saúde “vêm fazendo sua parte”, na aquisição de insumos. Segundo ele, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) disse ter estoque de 4,5 milhões de seringas. Outras 6 milhões de unidades estão em fase de licitação. Já o governo estadual espera receber outras 12 milhões. As informações foram transmitidas em reunião, na semana passada, entre a Covisa e CMS-SP, para coordenar os esforços logísticos da vacinação no município.

Trapalhadas

Contudo, o conselheiro apontou prejuízos à população pela falta de coordenação entre as esferas de governo, esforço que deveria ser realizado pelo ministério. Ele citou, por exemplo, o caso revelado, no mês passado, dos 6,8 milhões de kits de testes de covid-19 que não foram distribuídos. Problemas anteriores de gerenciamento e logística também haviam comprometido a compra de ventiladores e equipamentos de proteção individual (EPIs).

Tais testes, se aplicados numa estratégia que incluísse a participação dos médicos e vigilantes do Programa Saúde da Família, poderiam ter assegurado um maior controle da disseminação da doença, segundo o especialista. “Foram R$ 290 milhões jogados no lixo”, disse Leandro, sobre os kits de testes com validade que expira entre dezembro e janeiro.

Realidade e devaneios

Sobre o fracasso das seringas, o experiente jornalista Josias de Souza, cravou em seu Blog dura crítica: “sob o comando de Mãe Joana, como se vê, o Ministério da Saúde virou uma pasta de ficção, gerida por gênios incompreendidos. Há apenas dois problemas: 1) a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites; 2) a ficção é muito confortável, mas a realidade ainda é o único lugar onde se pode obter vacinas e seringas”

Bastidores

A episódio do pregão eletrônico está sendo considerado por uns como enorme vexame. A compra de agulhas e seringas, além de tardia fracassou. Motivo principal de o governo ter comprado uma quantia muito pequena diante da necessidade real ( apenas 7,9 milhões de 331 mi almejadas) revela um erro de cálculo. Os preços foram subestimados pelo ministério chegaram a ficar 70% abaixo do mínimo pedido pelos fabricantes. isso significa desprezo das regras elementares de mercado. Segundo a coluna da jornalista e escritora Thaís Oyama, do Uol, fala-se, entre assessores,  que o governo aguarda apenas o início da vacinação para substituir o general Eduardo Pazuello pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), que já ocupou a pasta no governo Michel Temer.

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