CUT-RS repudia fura-fila na vacinação contra covid-19
Fotos: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul divulgou nota de repúdio à manobra de gestores municipais em parceria com conselhos profissionais, sob a conivência do governo Eduardo Leite (PSDB), que levou à aplicação de vacinas para profissionais da saúde que não atuam na linha de frente no combate à covid-19, Segundo a entidade, essa conduta “ignora o princípio da equidade e os grupos definidos como prioritários para a vacinação, no momento em que há enorme falta de doses de vacinas no Brasil”.
Denúncias ao MPRS
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) investiga ao menos 46 denúncias de pessoas que furaram a fila da vacina contra a covid-19 no estado. Entre 21 de janeiro e 4 de fevereiro, o MPRS recebeu 487 notícias de irregularidades que foram analisadas individualmente pela equipe do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAODH). De acordo com a procuradora Angela Salton Rotunno, os casos mais comuns são de pessoas que são do grupo prioritário, mas que anteciparam a vacinação e que foram encaminhados às promotorias nos municípios para investigação.
“Na maioria das situações, ou são funcionários públicos de uma área administrativa, não profissionais da saúde, que receberam a vacina. Temos algumas situações de agentes políticos que se vacinaram e não deveriam, nem poderiam, e situações que envolvem falsidade. Por exemplo, pessoas que dizem trabalhar em Instituição de Longa Permanência para Idosos e não trabalham”, explicou a procuradora. O MPRS criou um canal para denúncias que disponibiliza um formulário para o registro de irregularidades.
Grupos prioritários
Imagem: Redes Sociais/ Reprodução
O comunicado destaca que há recursos disponíveis para a compra de vacinas suficientes para toda a população do estado e critica a espera do governador pelas medidas do governo Bolsonaro, “cuja política de negar a gravidade da pandemia já causou a morte de mais de 230 mil brasileiros e brasileiras, além de quase 10 milhões de infectados”.
Enquanto não há doses suficientes para vacinação em massa, é preciso respeitar os grupos prioritários, entre eles os profissionais da saúde, porém aqueles que estão na linha de frente, assim como idosos, indígenas e quilombolas, recomenda.
“Não é possível que tais critérios mínimos sejam ignorados pelos gestores públicos, que mais uma vez cederam à pressão de alguns conselhos profissionais que, em nome de interesses corporativistas, negociam por fora o acesso às poucas vacinas disponíveis, para imunizar profissionais da saúde que possuem registro profissional, mas que não atuam na linha de frente, muitos inclusive já aposentados. Isso significa “furar a fila”, deixando para trás pessoas que deveriam ser vacinadas antes”, aponta a central.
O “carteiraço” profissional, além de ferir de morte o SUS e seus princípios democráticos, pode legitimar o fura-fila e expor ao contágio quem mais se encontra vulnerável. “Como tais conselhos e demais entidades representativas terão autoridade e moral para denunciar uma situação dessas se eles próprios também passam à frente de quem mais precisa?”, indaga.
Carteiraço fragiliza o SUS
A prática enfraquece o SUS, ao mesmo tempo em que fortalece um governo negacionista e genocida, que alimenta a ignorância da população com disseminação de notícias falsas em detrimento do esclarecimento das pessoas, pontua. “Desde o início da pandemia, não só negou como trabalhou para sabotar quem se dispusesse a combatê-la”.
A CUT-RS lembra que o SUS foi construído como um sistema de saúde público, universal e gratuito. Ou seja, para garantir saúde para todos os brasileiros e brasileiras. Portanto, ressalta, a vacinação deve ser através dele, tendo como critério de prioridade a imunização dos mais vulneráveis e as populações expostas ao maior risco. “As categorias profissionais sairão fortalecidas, se não se deixarem levar por cooptação de governos ou por ações de empresários individualistas, e defenderem de forma intransigente que o SUS seja o executor da política de vacinação em massa”.
O site Our World in Data, coordenado por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostra que o Brasil fechou os últimos sete dias imunizando em média 0,09% de sua população contra o coronavírus, o que empurra o país para o 49º lugar no ranking mundial de imunização. A entidade aponta que até agora a maior parte da sociedade está excluída do processo de vacinação. “As doses de vacinas estão sendo distribuídas a conta-gotas em função do descaso do governo Bolsonaro, apoiado pelo governo Leite e por gestores municipais que ainda compactuam com ações corporativistas em detrimento dos mais vulneráveis, que representam os que mais correm risco de serem contaminados”, conclui.
Posição da Secretaria da Saúde
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Na terça-feira, a Secretaria da Saúde (SES) informou ter recomendado aos municípios que, nesta etapa da campanha de vacinação contra a covid-19, sejam imunizados os profissionais da saúde que trabalham regular e presencialmente, em especial aqueles que têm contato direto com pacientes suspeitos ou confirmados pelo novo coronavírus e ainda não receberam a primeira dose, além dos idosos com 85 anos ou mais.
“Precisamos fazer chegar as vacinas aos grupos que realmente mais precisam”, ressaltou a secretária Arita Bergmann. “Entendemos a ansiedade da população em querer se vacinar e desejamos poder atender a todos, mas este é um recurso escasso e precisamos ter critérios claros e objetivos de quem tem preferência em receber o imunizante primeiro”, disse.
A SES reiterou sua posição que, desde o recebimento das primeiras doses, foi vacinar quem está mais suscetível ao vírus ou a ter complicações graves e vir a óbito, seguindo os preceitos do Ministério da Saúde. Uma vez que todos esses grupos sejam vacinados, pode-se partir para a imunização de outras parcelas da população. Informou ainda que aguarda posição do Ministério da Saúde, que foi acionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira, 8, para dar mais transparência à lista de grupos prioritários e à extratificação das prioridades, mesmo dentro desses grupos.
O diretor de Auditoria do SUS e integrante do Comitê de Dados do Rio Grande do Sul, Bruno Naundorf, apresentou informações sobre a pandemia no estado que deixam claro que os idosos de 60 anos ou mais são os mais propensos a morrer da doença. Entre todos os óbitos ocorridos em função da covid-19, quase 82% estavam nessa faixa etária.