SAÚDE

Em meio a pandemia, aumenta a luta de quem espera por transplante

Com o sistema de saúde em colapso pela covid-19, a realização de transplantes de órgãos no RS foi suspensa, assim como pode ocorrer com os cursos de formação da Central de Transplantes previstos para março
Por Clarinha Glock / Publicado em 8 de março de 2021
Rochelle Benites

Foto: Igor Sperotto

A espera por dois pulmões, Rochelle faz ativismo pela causa, dando visibilidade à realidade de milhares de pessoas

Foto: Igor Sperotto

O início da vacinação contra a covid-19 havia criado uma expectativa de que, aos poucos, as equipes de transplantes de órgãos no Rio Grande do Sul pudessem retomar os procedimentos e reduzir a lista de espera, na qual em 2020 pelo menos 12 pessoas não resistiram. Mas o crescimento descontrolado no número de doentes pelo novo coronavírus atropelou qualquer perspectiva neste sentido a curto prazo.

Além da suspensão dos transplantes, a Central de Transplantes do RS possivelmente adie mais uma vez os cursos de formação para equipes de captação de órgãos, previstos para este mês de março e considerados estratégicos, em função da sobrecarga dos médicos e enfermeiros. Um dos cursos virtuais previstos pela Central de Transplantes para começar em março já foi transferido para abril. Mesmo antes de o novo coronavírus chegar ao Brasil, o Rio Grande do Sul  já registrava redução nas doações e nos transplantes. De líder até 2005, o estado vem se sustentando na terceira posição da Região Sul, atrás de Santa Catarina e do Paraná.

À espera por uma doação

Somente no RS, são 1.749 pessoas na lista de espera, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (Abto). Dos adultos, 1.005 esperam por rim; 139, por fígado; 16, coração; 106, pulmão; um, pâncreas; dois, pâncreas e rim; e 428, córneas. Das crianças, 22 esperam por rim; nove, fígado; seis, coração; quatro, pulmão; e 11, córneas.

Rochelle Fraga Benites é uma das pessoas que esperam por pulmão. Ela tem Histiocitose X, uma doença autoimune que atacou seus dois pulmões. Há três anos entrou para a lista de espera por um transplante duplo. Rochelle, que mantinha uma vida super ativa, com três filhos pequenos, que gostava de jogar futebol e andar de skate, hoje depende 24 horas de um cilindro de oxigênio.

Ela vive o terror diário de ficar sem ar quando falta luz, porque seu cilindro de oxigênio é abastecido pela energia elétrica, ou quando a Prefeitura não disponibiliza a quantidade de que precisa para se manter viva. E agora, com a suspensão dos transplantes, sua preocupação aumenta ainda mais.

Ativismo

Rochelle se tornou ativista da causa. Criou o projeto Vida em Jogo, que levou para estádios de futebol pacientes e médicos para convidar as torcidas a se tornarem doadores de órgãos, fez um curso de extensão na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para aprender mais sobre o tema e ficou chocada com a falta de informação e de formação de profissionais da saúde. Se engajou com a Frente Parlamentar de Doação de Órgãos e segue na luta por visibilidade fazendo lives semanais nas redes sociais com a participação de autoridades no assunto.

“Tem muito despreparo em alguns hospitais para lidar com as pessoas que precisam de oxigênio. A gente não tem prioridade no atendimento. A sociedade não está pronta para acolher o paciente em risco. E 1% da população é transplantada!”, destaca.

Sua luta é coletiva: para que as pessoas que aguardam um transplante tenham prioridade nos hospitais, no atendimento emergencial, no banco, em qualquer lugar. Para que não falte medicação. Para que haja planejamento e organização da Central de Transplantes na captação de órgãos. Para que se amplie o treinamento dos médicos, dos enfermeiros.

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