Pessoas com HIV/aids entram em grupo prioritário da vacina
Na última terça-feira, 30, o Ministério da Saúde incluiu pessoas com o vírus HIV/aids entre os grupos prioritários definidos para receber a vacina contra a covid-19. A inserção ocorreu em uma nota técnica atualizando essa previsão do Programa Nacional de Imunização (PNI).
De acordo com a nova orientação, HIV/aids passa a ser considerada uma comorbidade e pacientes que convivem com o vírus, com idade entre 18 e 59 anos, devem ser incluídos nos grupos prioritários.
Na ordem definida pelo Ministério da Saúde, a vacinação do grupo com comorbidades começa após a etapa de imunizar idosos a partir de 60. Em seguida vêm pessoas com deficiência permanente, pessoas em situação de rua, população privada de liberdade, funcionários do sistema de privação de liberdade, professores do ensino básico, trabalhadores da educação, forças de segurança e salvamento, forças armadas, trabalhadores do transporte, caminhoneiros, portuários e trabalhadores industriais.
O limite de idade foi definido pelo fato das pessoas com 60 anos ou mais já estarem contempladas no grupo dos idosos.
Os dados das pessoas com HIV/aids serão incluídos automaticamente no Conecte-SUS. No entanto, também será possível comprovar a condição apresentando relatório médico, exames, receitas de antirretrovirais e prescrição médica.
Falta de atendimento especializado no RS
A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS) realizou na quarta-feira, 24, uma audiência pública para tratar do impacto da pandemia de covid-19 nos serviços de HIV/Aids e Tuberculose no Rio Grande do Sul. A iniciativa foi da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), a pedido dos movimentos sociais que atuam na pauta. Ela coordena a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao HIV/Aids, Hepatites Virais, Sífilis e Outras ISTs, idealizada pelo Fórum de ONGs Aids do RS e pelo Gapa-RS.
De acordo com Carla Almeida, presidente do Gapa/RS, a avaliação dos movimentos sociais nas áreas de HIV/Aids e tuberculose é de que impacto no atendimento é enorme. Ela classifica o efeito da pandemia no setor como “desastroso”.
A sociedade civil conduziu um levantamento no ano passado para mensurar este impacto. Esse estudo tem apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). E o que pudemos aferir até agora é que o efeito da pandemia atinge todas as áreas de atendimento com redução das equipe técnicas, redução de investimento financeiro, redução número de consultas, acesso limitado a insumos e estratégias de prevenção, diminuição da oferta de testagem e medicamentos”, avaliou a presidente do Gapa, ao Extra Classe.
Cenário brasileiro
Pesquisa divulgada em maio de 2020, pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) Brasil com quase 3 mil pessoas que vivem com HIV ou Aids no país aponta que 42,9% esperam apoio das instituições de governo e de organizações não governamentais para a provisão de serviços de assistência social, incluindo alimentação.
Em outro estudo, um grupo de pesquisadores convocados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Unaids alerta que se não forem feitos esforços para mitigar e superar as interrupções nos serviços e na distribuição de insumos de saúde causados pela pandemia de covid-19, uma interrupção de seis meses da terapia antirretroviral poderia levar a um número superior a 500 mil mortes a mais por doenças relacionadas à Aids, incluindo tuberculose, em todo o mundo.
Conforme reportagem do Extra Classe em maio de 2020, o Brasil conseguiu evitar 2,5 mil mortes por Aids entre os anos de 2014 e 2018. Nos últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018. A partir daí, com a precarização das redes de apoio e o abandono das políticas públicas, as estatísticas voltaram a crescer.
Levantamento do Ministério da Saúde estima que cerca 900 mil pessoas vivem com HIV/Aids no país, 766 mil foram diagnosticadas, 594 mil fazem tratamento com antirretroviral, 554 mil não transmitem – e outras 135 mil pessoas são portadoras do vírus e não sabem. Em todo o país, o desabastecimento ocasional de alguns antirretrovirais se transformou em um problema crônico para pacientes em tratamento.
No Rio Grande do Sul
De acordo com dados do Observatório de HIV/Aids, no Rio Grande do Sul, levantados antes da pandemia, o estado já apresentava a maior taxa de mortalidade por Aids no país, com 9 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 4,8 óbitos. A taxa de infeção de HIV em gestantes também é a maior do Brasil, com 9,5 casos para cada 1 mil nascidos vivos, sendo em 2,8 o indicador nacional. É 2ª maior taxa de Aids do Brasil em menores de 5 anos, com 6 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional são 2 casos para essa população. A situação com a pandemia se gravou.