SAÚDE

Treze estados entram em alerta crítico por superlotação de UTI

Variante ômicron pressiona sistema de saúde em todos os estados. Média de mortes diárias em uma semana retornou a patamares do auge da pandemia: 1.051
Da Redação / Publicado em 3 de fevereiro de 2022

Foto: Rovena Rosa/ Arquivo Agência Brasil

Foto: Rovena Rosa/ Arquivo Agência Brasil

 

O crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) demanda atenção e monitoramento contínuo, de acordo com Nota Técnica divulgada nesta quinta-feira, 3, pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, que analisa o cenário da pandemia no país.

Segundo a publicação, 13 estados apresentam aumento das taxas de ocupação e nove Unidades Federativas estão na zona de alerta crítico com indicador superior a 80%. Entre as 25 capitais com taxas divulgadas, 13 estão na zona de alerta crítico, nove estão na zona de alerta intermediário e oito estão fora da zona de alerta.

Para os pesquisadores do Observatório Covid-19, o comportamento das taxas de ocupação em estados e capitais parece apontar para a interiorização de casos de covid-19 pela variante ômicron. Algumas capitais já apresentam mais estabilidade ou mesmo queda nas suas taxas, enquanto as taxas dos estados crescem expressivamente.

Contágio generalizado

Os dados da Fiocruz referentes ao Rio Grande do Sul conflitam com um levantamento do Conass. Enquanto a Fundação aponta 54% de lotação de UTI, o Conass afirma que esse percentual já superou 82%. Em reunião realizada na terça-feira, o Gabinete de Crise do governo gaúcho emitiu um alerta pela segunda semana consecutiva para as 21 regiões covid do sistema de gerenciamento da pandemia no estado. O RS apresenta o nível mais elevado de contaminação desde o início da pandemia. Todas as regiões alcançaram o maior nível de incidência semanal, o que indica o risco de contágio generalizado.

Nota Técnica destaca que o cenário atual não é o mesmo registrado entre março e junho de 2021, considerada a fase mais crítica da pandemia e ressalta que mesmo com o acréscimo de leitos observados nas últimas semanas, a disponibilidade é bem menor.

O documento reforça que o crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI SRAG/Covid-19 para adultos no SUS é preocupante, principalmente frente às baixas coberturas vacinais em diversas áreas do país, onde os recursos assistenciais são mais precários.

Os pesquisadores alertam que uma proporção considerável da população que não recebeu a dose de reforço, e a população não vacinada, são mais suscetíveis a formas mais graves da infecção com a ômicron e voltam a sublinhar que a elevadíssima transmissibilidade da variante pode incorrer em números expressivos de internações em leitos de UTI, mesmo com uma probabilidade mais baixa de ocorrência de casos graves.

Diante desse cenário, a Fiocruz reforça como fundamental a necessidade de avançar com a vacinação, incluindo a exigência do passaporte vacinal.

Os pesquisadores também sugerem a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos, campanhas para orientar à população e o auto-isolamento ao apresentar sintomas, evitando a transmissão.

Pressão sobre o sistema de saúde

Infográfico: Fiocruz

Infográfico: Fiocruz

De acordo com o Observatório da Fiocruz, Mato Grosso do Sul (103%), Goiás (91%) e o Distrito Federal (97%) mantiveram-se na zona de alerta crítico, onde também entraram o Amazonas (80%) e Mato Grosso (91%).

Na zona de alerta intermediário, permaneceram o Pará (74%), Amapá (69%), Tocantins (78%), Ceará (67%), Bahia (74%), Rio de Janeiro (62%), São Paulo (72%), Paraná (72%), e entraram o Alagoas (69%) e Santa Catarina (76%), que estavam fora na zona de alerta.

Fora da zona de alerta mantiveram-se o Acre (57%), Maranhão (59%), Paraíba (41%), Sergipe (37%), Minas Gerais (37%) e Rio Grande do Sul (54%), somando-se Rondônia (58%) e Roraima (52%), que estavam na zona de alerta intermediário.

Situação crítica nas capitais

Entre as 25 capitais com taxas divulgadas, 13 estão na zona de alerta crítico: Manaus (80%), Macapá (82%), Teresina (83%), Fortaleza (80%), Natal (percentual estimado de 89%), Maceió (81%), Belo Horizonte (86%), Vitória (80%), Rio de Janeiro (95%), Campo Grande (109%), Cuiabá (92%), Goiânia (91%) e Brasília (97%).

Nove estão na zona de alerta intermediário: Porto Velho (77%), Rio Branco (70%), Palmas (72%), São Luís (64%), Recife (77%, considerando somente leitos públicos municipais), Salvador (68%), São Paulo (75%), Curitiba (71%) e Florianópolis (68%). Boa Vista (52%), João Pessoa (58%) e Porto Alegre (55%) estão fora da zona de alerta.

Mais contaminação, mais mortes

Pedro Hallal: “Entre os não vacinados, a ômicron está fazendo a festa"

Foto: Reprodução/UFPel/Divulgação

Pedro Hallal: “Entre os não vacinados, a ômicron está fazendo a festa”

Foto: Reprodução/UFPel/Divulgação

O epidemiologista Pedro Curi Hallal, coordenador da pesquisa sobre coronavírus do Brasil, a Epicovid, da Universidade Federal de Pelotas, alerta que mesmo sendo menos agressiva, a variante ômicron está pressionando o sistema de saúde, lotando hospitais e provocando mortes.

“A variante ômicron vem confirmando tudo que ela prometeu logo que surgiu. Ela é muito mais transmissível que as versões anteriores do vírus e isso já ficava claro nos primeiros dias desde o seu surgimento na África do Sul, aquele crescimento de casos que mais parecia o lançamento de um foguete”, compara.

Para o epidemiologista, isso se replicou em todos os países. A variante confirmou que é muito mais transmissível e bem menos agressiva. “Com o mesmo número de contaminados ela causa menos mortes que as variantes anteriores.

O problema é que nós não temos o mesmo número de contaminados, mas um número muito maior. Mesmo a doença sendo mais leve, se antes, digamos de cada 100 morria um, agora de cada mil morre um. Se tivermos dez vezes mais contaminados nós vamos ter o mesmo número de mortes que a gente tinha anteriormente”, explica.

A ômicron, completa Hallal, tem causado “um estrago muito grande entre não vacinados”. Entre os vacinados, a variante até consegue infectar, mas com menos probabilidade de gravidade e morte.

“Entre os não vacinados, ela está fazendo a festa. O somatório de todas essas informações faz com que os números estejam transbordando. Mesmo ela sendo menos agressiva, consegue pressionar o serviço de saúde, lotar os hospitais e aumentar os óbitos”.

Quarta onda

“Há uma parte da população que acha que a variante é muito atenuada e que não há problema em pegar o vírus, o que não é verdade”, adverte Spilki, da Feevale

Foto: Feevale/Divulgação

“Há uma parte da população que acha que a variante é muito atenuada e que não há problema em pegar o vírus, o que não é verdade”, adverte Spilki, da Feevale

Foto: Feevale/Divulgação

Para o pesquisador Fernando Spilki, pró-reitor da Universidade Feevale, o agravamento da pandemia devido ao contágio generalizado pela variante ômicron já configura uma quarta onda da pandemia desde o surgimento da covid-19.

“Provavelmente chegamos ao platô do que eu prefiro chamar da nossa quarta onda, especialmente aqui na região sul do Brasil. O número de óbitos é preocupante, a ocupação das UTIs é preocupante, especialmente nesses 13 estados, mas nós precisamos também contabilizar o seguinte: o número de casos é recorde contra um número de óbitos proporcionalmente relativamente menor”, compara.

Não deveria haver uma só morte, ressalva o pesquisador ao afirmar que “é impressionante que hoje tenhamos ao redor de 260 mil casos por dia e perto de mil óbitos”. Antes da variante, compara, eram 80 mil casos reportados e 4,5 mil óbitos por dia. “Quer dizer, a proporcionalidade mudou muito em virtude da vacinação. Esses dados não se aplicam obviamente à população não vacinada”, aponta.

O país tem mais de 77% da população com a primeira dose, 70% com a segunda e 22,5% com a dose de reforço. Essas médias, no entanto, não conseguem barrar a pandemia.

“Não são suficientes para bloquear a transmissão, mesmo em vacinados. As vacinas estão fazendo um excelente trabalho do ponto de vista de evitar a internação e óbitos em virtude desse surto enorme, desse tsunami, mas efetivamente a gente precisa mais gente vacinada justamente para minimizar esse impacto dos óbitos. É preciso lembrar que grande parte dessas pessoas internadas tem uma ou nenhuma dose ou estão com o esquema vacinal incompleto. Isso é importante”, alerta Spilki.

Na comparação com o avanço da variante em outros países, ele lembra que o controle da pandemia no Brasil esbarra em diversos fatores, como subnotificação, consequências do apagão de dados do Ministério da Saúde. “Há uma parte da população que acha que a variante realmente é muito atenuada e que não há problema em pegar o vírus, o que não é verdade”, diz.

Ainda há a resistência à vacinação, aglomerações, grandes eventos que continuam acontecendo e que podem prolongar e aumentar a crise, enumera. “Esse é um perigo que a gente corre: não haver conscientização”.

Comentários