Corte no fornecimento de IGL mobiliza equipes de transplantes no estado
Foto: Agência Força Aérea
A falta de insumos para produção do IGL e dificuldades de importação colocaram em alerta as equipes médicas das unidades de Organização de Procura de Órgãos (OPO) no Rio Grande do Sul.
O IGL é um composto de líquidos isotérmicos à base de sódio e potássio utilizado para o transporte e conservação de órgãos captados de doadores para transplantes.
Como a compra é feita diretamente pelas instituições de saúde, hospitais do interior que dependem do IGL poderão ser impactados pela crise caso o abastecimento, que ocorre em todo o país, não seja normalizado.
O produto em falta no mercado é fornecido pela IGL América Latina, que informou às OPOs estar enfrentando dificuldades para importar o IGL devido à pandemia.
A empresa não respondeu aos pedidos de informações. De acordo com as equipes médicas, não houve entrega do produto em julho e a previsão seria de normalização do fornecimento a partir de segunda-feira, 8.
De acordo com a Central de Transplantes, diante dos problemas de fornecimento, o produto foi substituído pelo Custodiol, substância que tem a mesma função de preservar rins, fígados e pâncreas captados de doadores diagnosticados com morte encefálica e destinados para transplantes.
“O Custodiol é um produto importado da Alemanha e nunca tivemos problemas quanto a sua importação”, diz Mateus Biazus, farmacêutico bioquímico da Contatti Medical, importadora do produto já utilizado pelas equipes de transplantes de coração.
Reunião emergencial
A decisão de substituir o IGL pelo Custodiol foi comunicada ao Sistema Nacional de Transplantes após uma reunião emergencial entre a Central de Transplantes do estado e as equipes de transplantes de rins e fígado no dia 28 de julho.
“Estamos com falta de IGL causada em nível nacional pela demora nas importações. O IGL é um líquido que vem da França e a IGL Brasil está com dificuldades na importação por falta de produto. Estimamos que até meados de agosto comece a normalizar, mas isso depende da empresa e precisa passar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, explica Ivana Faccioli Pessato, gerente da OPO7 ou OPO Cirúrgica, sediada junto ao Instituto de Cardiologia.
“Não é uma questão interna nossa, nem problema no estado, mas uma questão nacional de a empresa não ter o produto para entregar”, esclarece.
A médica Fernanda Bonow, coordenadora da OPO1, situada junto à Santa Casa de Porto Alegre e que compreende uma rede de 24 hospitais no estado, afirma que a falta de IGL “não compromete de forma alguma” os transplantes de órgãos e que as equipes já fizeram a substituição do produto sem alteração nas rotinas.
Alternativa
“A falta do IGL é mundial. O fabricante não está dando conta da demanda. Mais um daqueles problemas que surgiram nesse pós-pandemia”, explica o médico Rogério Caruso, coordenador-adjunto da Central de Transplantes. “Até pouco tempo, antes do desenvolvimento e produção em escala do IGL, o Custodiol era a nossa preferência na escolha de soluções de preservação, mas o IGL trouxe um avanço no tempo que podemos levar entre a captação e o imante de órgãos transplantados. Não há prejuízo em qualidade”, afirma.
“Diante da situação, nos reunimos e ficou decidido que até a normalização do fornecimento do IGL será adotado o uso do Custodiol, que é um líquido também adotado nas captações e que já foi muito usado no passado. Uma alternativa extremamente viável e boa”, enfatiza Ivana.
A Central de Transplantes confirma que não houve alteração na rotina dos transplantes no estado, mas hospitais do interior que utilizam o IGL e estão com dificuldade de aquisição do produto alternativo podem ser impactados se a situação em nível nacional não for resolvida, admite o médico Rafael Rosa, coordenador do sistema no estado.
A compra desses insumos é feita diretamente pelas instituições de saúde e pela OPO cirúrgica, que mantêm um estoque para 30 captações de rins por mês. Cada captação utiliza até três litros da solução isotérmica – o custo é de até R$ 1 mil por litro.
Transplantes
De janeiro a maio deste ano, foram realizados no estado 203 transplantes de órgãos: 134 de rins, 53 de fígado, 10 de pulmão e seis de coração. E 296 transplantes de tecidos (córnea, esclera, osso, pele).