Quem é Nísia Trindade, a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foi realizada, nesta segunda-feira, 2, a cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Saúde, em Brasília (DF). Nísia Trindade chefiará o Ministério na gestão do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela é a primeira mulher a comandar a Pasta.
Durante discurso, a ministra assumiu compromisso de que sua gestão será pautada pela ciência e também com contribuições de todos os setores.
“Essa tarefa não pode ser exercida de forma isolada, a saúde precisa estar em todas as políticas. Minha gestão se pautará por esse imprescindível trabalho colaborativo.”
Nísia Trindade ainda reforçou o compromisso com a gestão tripartite – União, Estados e Municípios – e o esforço com os conselhos de saúde para a construção de políticas conjuntas.
“Serão tempos difíceis de reconstrução, mas também da necessária inovação. É preciso reconstruir e é preciso olhar os desafios do presente e a visão de um Brasil de futuro. Esse trabalho só será possível com grande esforço nacional, envolvendo estados e sociedade civil”, afirmou.
Como será a estrutura da Saúde
A nova ministra aproveitou ainda para fazer anúncios da criação e recriação de secretarias e departamentos sendo eles: Secretaria de Informação e de Saúde Digital; Departamento de IST/AIDS e Hepatites Virais; Departamento de Imunização; e Departamento de Saúde Mental e Enfretamento do Uso Abusivo de Álcool e Outras Drogas.
De acordo com Nísia, a nova estrutura organizacional visa reforçar ações do Programa Nacional de Imunizações, preparar o sistema de saúde para novas modernizações digitais e a retomada do alinhamento da agenda da saúde mental à reforma psiquiátrica brasileira.
No discurso, a ministra afirmou que, ainda nesta semana, será criado um grupo de trabalho tripartite para “sistematizar as políticas instituídas por portarias sem pactuação que serão revogadas, revistas ou mantidas”.
De acordo com a ministra, “serão revogadas nos próximos dias as portarias e notas técnicas que ofendem a ciência, os direitos humanos, os direitos sexuais reprodutivos e que transformaram várias posições do Ministério da Saúde em uma agenda conservadora e negacionista.”
A cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Saúde contou com a participação de cinco ministros: das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; do Desenvolvimento Social, Wellington Dias; da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos; do Esporte, Ana Moser; da Gestão e Inovação, Esther Dweck; e das Mulheres, Cida Gonçalves.
Nísia esteve à frente da Fiocruz
A nova titular da Saúde, Nísia Trindade, 64 anos, fez história em 2017 ao se tornar a primeira mulher a assumir a presidência da Fiocruz nos 120 anos da existência da prestigiada instituição.
Antes disso, foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde, e participou da elaboração do Museu da Vida, premiado museu de ciência da Fiocruz.
Graduada em ciências sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Nísia tem mestrado em ciência política e doutorado em sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.
Como Presidente da Fiocruz, liderou as ações da instituição no enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil, tendo criado o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações, para subsidiar políticas públicas, sobre a circulação do novo coronavírus e seus impactos sociais em diferentes regiões no país. (Saiba mais no final desta matéria)
Equipe do Ministério da Saúde
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A ministra da Saúde Nísia Trindade anunciou os nomes dos secretários que vão compor o primeiro escalão do Ministério da Saúde na mesma segunda-feira em que assumiu suas funções. O anúncio foi feito durante cerimônia de investidura no cargo de Ministra de Estado realizada no auditório da pasta, Emílio Ribas.
“A nossa equipe indica visão de compromisso. Os secretários possuem necessária qualificação para que se alcance os resultados que a sociedade espera. Atuaremos com ações estruturantes para a construção da saúde do Brasil do Futuro”, contou.
Ao anunciar os nomes, Nísia disse que, quando o assunto é saúde, o país e a sociedade têm pressa. E, para atender aos anseios da população, prometeu fazer uma gestão baseada no trabalho colaborativo, coordenando e articulando com outros ministérios ações estruturantes para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Serão tempos difíceis de reconstrução, mas também da necessária inovação. É preciso reconstruir e é preciso olhar os desafios do presente e a visão de um Brasil de Futuro. Esse trabalho só será possível com grande esforço nacional, envolvendo estado e sociedade civil”, finalizou a ministra.
Entre os nomes que, a partir de agora, compõem o novo secretariado do Ministério da Saúde, estão:
– Swedenberger Barbosa: Secretaria Executiva
– Nésio Fernandes: Secretaria de Atenção Primária
– Helvécio Magalhães: Secretaria de Atenção Especializada
– Ana Estela Haddad: Secretaria de Informação e Saúde Digital
– Ethel Maciel: Secretaria de Vigilância de Saúde e Ambiente
– Ricardo Weibe Tapeba: Secretaria de Saúde Indígena
– Carlos Gadelha: Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos
– Isabela Cardoso: Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde
Quem é Nísia Trindade
Cientista e pesquisadora, Nísia Trindade Lima é doutora em Sociologia (1997), mestre em Ciência Política (1989), pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp) e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj, 1980), onde é docente.
A nova titular do Ministério da Saúde é pesquisadora de produtividade de nível superior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com reconhecimento por sua produção científica e ações para aprimorar o diálogo entre ciência e sociedade.
Sua obra é referência na área do pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública. É autora de artigos, livros e capítulos com reflexões sobre os dilemas da sociedade nacional, como sua tese de doutorado em Sociologia, com o título Um Sertão Chamado Brasil, que conquistou o prêmio de melhor tese pelo Iuperj (atual Iesp).
Em sua trajetória na Fiocruz, onde é pesquisadora desde 1987, Nísia foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998 – 2005), unidade voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde.
A ministra também participou da elaboração do Museu da Vida, museu referência em ciência da Fiocruz. Foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação (2011-2016), período em que coordenou as Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia e também a implantação de políticas de acesso aberto, com o objetivo de tornar disponível toda a produção científica da instituição.
A nova ministra também deixa o legado de acordos de cooperação internacional. Como presidente da Fiocruz, ela participou da proposta feita pelo Brasil à Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019 para declarar o dia 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas, uma das principais doenças negligenciadas no mundo.
Durante seu mandato, Nísia trabalhou para a expansão do papel da Fiocruz na comunidade global de saúde.
Ela coordenou a Rede Zika Ciências Sociais, que é parte da Zika Alliance Network (2018), um consórcio formado por 54 países no mundo.
Também é membro dos grupos de trabalho do Plano de Ação Global da OMS, desde 2018, para otimizar e ampliar a pesquisa global para os sistemas de saúde, além da implementação da Agenda 2030 (2019).
Durante a maior crise sanitária da história mundial, ela liderou as ações da Fiocruz no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil, reforçando a atuação da instituição como referência internacional em ciência e pesquisa.
Coordenou todo o acordo de encomenda tecnológica na articulação com o Ministério da Saúde, a Universidade de Oxford, a farmacêutica AstraZeneca e as unidades de produção locais.
Com a conclusão da transferência de tecnologia com o laboratório do Reino Unido, a Fiocruz tornou-se a primeira instituição do Brasil a produzir uma vacina contra a Covid-19 em território nacional.
Combate à covid-19 e reconhecimento internacional
Sob o comando de Nísia Trindade, a Fiocruz criou um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ); aumentou a capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; organizou ações emergenciais junto a populações vulneráveis; ofereceu cursos virtuais, para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), de manejo clínico e atenção hospitalar para pacientes de covid-19; lançou manual de biossegurança em escolas; e tornou-se laboratório de referência para a OMS em covid-19 nas Américas.
A pesquisadora também criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações, para subsidiar políticas públicas, sobre a circulação do novo coronavírus e os impactos sociais da doença em diferentes regiões no Brasil.
Ao lado de outros pesquisadores, especialistas e ex-ministros, Nísia Trindade integrou o Grupo Técnico da Saúde no governo de transição.
A nova ministra também é membro do Comitê Diretivo do Colaborativo Regional de Produção de Vacinas (RVMC) e da Plataforma Regional da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) para avançar na produção de vacinas contra covid-19 e outras tecnologias de saúde nas Américas.
Em dezembro de 2020, Nísia Trindade foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na categoria Ciências Sociais.
Em 1º de janeiro de 2022, ela se tornou membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS) para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento.
Foi também agraciada com o grau de Cavaleira da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, oferecido pelo Governo da França, em reconhecimento ao seu trabalho nas áreas da ciência e da saúde e pelos serviços prestados à sociedade em resposta à pandemia de covid -19.
Com informações da EBC e MEC.