SAÚDE

57 mil morrem prematuramente a cada ano por consumir alimentos ultraprocessados

Dados do IBGE cruzados com índices de mortalidade dos brasileiros permitiram a pesquisadores da USP calcular o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados
Por César Fraga / Publicado em 29 de maio de 2023

57 mil morrem prematuramente a cada ano por consumir alimentos ultraprocessados

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), junto aos dados de mortalidade dos brasileiros, permitiram a pesquisadores da USP calcular o impacto do consumo de ultraprocessados nesta população. O cruzamento de informações estimou que 57 mil pessoas morrem prematuramente a cada ano por consumirem alimentos ultraprocessados, o que corresponde a 10,5% de todas as mortes precoces de adultos entre 30 e 69 anos no Brasil.

O conceito de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a probabilidade de morrer entre 30 e 70 anos em decorrência de doenças cardiovasculares, câncer, diabete e doenças respiratórias crônicas. Segundo o professor Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, filiado ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, já existem evidências suficientes nos estudos epidemiológicos que associam o aumento de consumo de ultraprocessados com o risco de se desenvolver as DCNT. Ele também inclui o excesso de peso e a obesidade devido à ingestão de ultraprocessados como fatores que contribuem para uma pessoa desenvolver essas patologias.

A metodologia do estudo envolveu o uso de dados abertos coletados por meio de questionários para avaliar o consumo de alimentos a partir de diferentes variáveis. Este tipo de enquete é realizado pelo IBGE a cada dez anos e está publicado no site da instituição.  Trata-se de uma série de perguntas para investigar o consumo alimentar individual por todo o País, que faz parte de uma pesquisa ampla sobre o perfil dos orçamentos familiares. Os dados foram separados por faixas etárias, entre homens e mulheres, a partir dos 30 anos. Os pesquisadores avaliaram a ingestão das calorias diárias de cada grupo e quanto dessas calorias tiveram como fonte os alimentos ultraprocessados. Em seguida, foram considerados os dados sobre mortalidade do mesmo período e, por fim, os dados foram cruzados.

57 mil morrem prematuramente a cada ano por consumir alimentos ultraprocessados

Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares feita pelo IBGE em 2017-2018

Fonte: Pesquisa de Orçamentos Familiares feita pelo IBGE em 2017-2018

O professor Eduardo Nilson, também pesquisador do Nupens e autor do artigo, ressalta que as informações recentes, de 2017/2018 mostram que houve um aumento de consumo de 20% de calorias vindas de ultraprocessados em relação ao mesmo tipo de levantamento realizado em 2007/2008, também pelo IBGE.
“O aumento de consumo de ultraprocessados está associado a 2 mil mortes evitáveis a cada ano. Para evitar esse aumento, o consumo deveria ter permanecido igual ao da década passada e não aumentado em 20%”, explica.
Ainda segundo Eduardo Nilson, este aumento se deve a uma série de fatores, como as campanhas de marketing em torno desses alimentos e à maior subida de preços dos produtos frescos em relação aos ultraprocessados. Além disso, ele aponta, “a substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolo dessa situação.”
57 mil morrem prematuramente a cada ano por consumir ultraprocessados

USP/Divulgação

USP/Divulgação

O artigo também faz um cálculo de quantas mortes poderiam ser evitadas em diferentes cenários de diminuição do consumo de ultraprocessados. Com a redução para 10% das calorias diárias consumidas em ultraprocessados, 3.500 pessoas não morreriam de doenças crônicas ao longo do ano. E esse número aumenta à medida que se diminui a quantidade de ultraprocessados ingeridos.
Fonte: Jornal da USP/Ana Fukui

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