Parceria com Cuba vai fortalecer Mais Médicos
Foto: Igor Sperotto
A ministra da Saúde Nísia Trindade anunciou na manhã desta sexta-feira, 5, em Porto Alegre, que o governo discute a retomada de uma coordenação com Cuba para que o programa Mais Médicos para o Brasil conte com profissionais cubanos.
Esse foi o principal pedido apresentado pelas lideranças comunitárias no 1º Fórum das Periferias de Porto Alegre, que se iniciou dia 1º e termina neste sábado, 6, na capital gaúcha.
A ministra informou que do total de 15 mil vagas iniciais no edital do Mais Médicos para o Brasil, lançado em 20 de março, cerca de 500 estão reservadas para o Rio Grande do Sul.
As vagas serão oferecidas primeiro aos profissionais brasileiros, mas os postos não preenchidos deverão ser ofertados em seguida a médicos estrangeiros. A intenção é fixar 28 mil profissionais em todo o país, principalmente nas áreas de extrema pobreza.
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A roda de conversa reuniu várias lideranças comunitárias e parlamentares na sede da Associação de Moradores e Amigos da Vila Tronco, Neves e Arredores (Amavtron), no bairro Santa Tereza, localizado na grande Cruzeiro, comunidade com cerca de 15 mil moradores em mais de 20 comunidades na região Centro Sul de Porto Alegre.
O presidente da Amavtron, Luciano Soares Cardoso, ressaltou que a comunidade sente profundamente a ausência dos profissionais cubanos, em especial pelo atendimento humanizado.
A pedido da comunidade, a ministra assinou um termo de compromisso para o retorno dos médicos cubanos. O documento também foi firmado pelo secretário da Saúde de Porto Alegre, Mauro Sparta, e pela secretária adjunta da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS), Ana Costa.
“Cuidar da saúde da periferia é necessário e urgente. Traga mais médicos porque merecemos isso”, pediu a enfermeira Rosane Pires, uma das coordenadoras do Fórum.
O representante da Associação José Martí, Ricardo Haesbaerth, relembra que 18 mil médicos cubanos atuaram no país em cinco anos do programa – entre 2013 e 2018.
O governo cubano chamou os profissionais de volta após o ex-presidente Jair Bolsonaro ter ameaçado de expulsão os médicos cubanos durante a campanha eleitoral.
Cerca de 2 mil cubanos optaram por permanecer no país e aguardam nova oportunidade de atuar.
Prioridade aos vulneráveis
Nísia Trindade enfatizou a prioridade do governo federal no fortalecimento do SUS, no atendimento às comunidades da periferia e a importância da participação na qualificação do atendimento em saúde.
“A situação das periferias é triste e tem que mudar. Isso precisa ser feito junto com vocês”, acentuou.
“O presidente Lula nos deu a atribuição de cuidar da periferia. Com 33 milhões passando fome, não tem saúde. A desigualdade faz mal à saúde”, disse ao destacar que o governo anterior cortou 60% das verbas nos principais programas. Nísia ressaltou que essas políticas públicas estão sendo retomadas gradualmente após a repactuação do orçamento com base na PEC da Transição.
Saúde bucal e vacinação
A ministra da Saúde também anunciou que o governo transformará o programa Brasil Sorridente em política pública de Estado e vai aumentar as equipes de saúde bucal nas periferias.
“Todos queremos sorrir”, comentou, falando da importância desse atendimento para a autoestima dos brasileiros.
Ela ressaltou a intensificação do programa de vacinação também como prioridade do governo federal. Como exemplo, citou o Dia D de vacinação contra a gripe (Influenza) neste sábado, 6, com unidades de saúde abertas das 9h às 17h, em 115 locais na Capital.
Conferência de Saúde da Periferia
Foto: Igor Sperotto
Durante a atividade desta manhã também foi anunciada a primeira Conferência de Saúde das Periferias, que será realizada no dia 30 de maio, das 17h às 21h, de modo virtual.
O comunicado foi feito por Walter Rangel, assessor especial de Território do MS, assessoria criada pelo atual governo.
A ministra enfatizou que o governo quer construir os programas e fortalecer o SUS com a participação e o apoio dos usuários e das lideranças comunitárias. Nísia enfatizou a 17ª Conferência Nacional de Saúde, prevista para julho, em debate e construção em todo o país.
Críticas à terceirização na capital
Diferentes lideranças comunitárias expressaram os problemas nos serviços de saúde da capital. A prefeitura de Porto Alegre tem terceirizado o atendimento, gerando uma piora nos serviços.
Entre os problemas apontados está a troca constante dos contratos, impedindo que equipes médicas tenham continuidade nos atendimentos.
“Os postos de saúde de Porto Alegre estão uma bagunça, abandonados, mudam médicos, estão atirados às traças com a terceirização. São postos de papel”, reclamou o presidente do Instituto Cultural Arraial da Glória, Renan da Silva. A precariedade dos postos de saúde da capital também foi apontada por outras lideranças que se pronunciaram no encontro.
Abandono da saúde mental
A insuficiência e precariedade do atendimento em saúde mental foi destacada por lideranças. “A situação é gravíssima”, destacou a conselheira tutelar Cris Medeiros, ecoando o pedido de vários conselheiros que se dizem desesperados com a demora para obter qualquer atendimento para crianças e adolescentes.
Ela destacou que contribui para esse quadro de abandono o déficit de 6 mil vagas na educação infantil na capital, que se soma a problemas de acesso também ao ensino fundamental e médio.
“No governo passado tínhamos o Ministério da Morte e tudo o que vivemos na pandemia deixou muitos resquícios especialmente na saúde mental. Nossas crianças adoeceram, estão com dificuldade de aprender e socializar. As escolas não estão preparadas. É preciso atenção especial para isso”, registrou Douglas Cordeiro, integrante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia e morador do Assentamento urbano 20 de Novembro.
Mais de R$ 32,2 milhões ao RS
Foto: Igor Sperotto
Em sua primeira visita ao estado, a ministra da Saúde registrou a destinação de R$ 33,2 milhões para agilizar 17.468 mil cirurgias eletivas, represadas na pandemia.
No encontro com o governador Eduardo Leite (PSDB), ainda na noite de quinta-feira, 4, no Palácio Piratini, a ministra se comprometeu em revogar a portaria que reduziu os repasses para procedimentos cardiológicos pelo SUS.
Após a atividade na Grande Cruzeiro, a ministra se dirigiu ao Grupo Hospitalar Conceição para dar posse ao novo diretor-superintendente, Gilberto Barichello.
A ministra estava acompanhada do ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, que preside a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), ligada ao Ministério da Educação.