Hospital de Sapiranga é destaque na captação de órgãos para transplantes

Foto: Marcelo Matusiak/ Divulgação

Hospital reestruturou a Cihdott e qualificou as esquipes de captação de órgãos

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Referência na captação de órgãos para transplantes no Vale dos Sinos, o Hospital Sapiranga investiu na capacitação profissional das equipes de saúde e na humanização dos protocolos e das relações com familiares de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva.

Nos últimos três anos, a Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) passou por uma reestruturação para efetivar a captação. Desde o ano passado, os casos de morte encefálica – condição para que ocorra a doação de órgãos – passaram a ser efetivamente notificados. Em fevereiro deste ano, as equipes comemoraram a primeira captação de um coração para transplante.

A coordenadora da Cihdott do município, Camila Crippa, atribui as conquistas à qualificação técnica da equipe e explica que a instituição estabeleceu parcerias com os meios de comunicação locais e investiu em campanhas de esclarecimentos do público interno e da população por meio das redes sociais.

Profissional da Saúde há 15 anos e enfermeira há seis, Camila, relata que dedicou os últimos três anos em que atua na UTI do hospital ao trabalho de revitalização da captação de órgãos e na coordenação da Comissão.

Foto: Valéria Ochôa/ Cultura Doadora/ Divulgação

A coordenadora do Cihdott, Camila Crippa, o médico José Toríbio e o psicólogo Cristian Oliveira

Foto: Valéria Ochôa/ Cultura Doadora/ Divulgação

Ela explica que, acima de tudo, a humanização das relações é o que faz a diferença nesse processo, uma cultura que permeia as relações das equipes em todas as alas do hospital e “sempre foi uma marca da instituição”.

O hospital também se destaca entre as instituições referência na captação de órgãos no estado, por ter psicólogos para acompanhamento de familiares de pacientes em UTI. “A proximidade entre médicos, familiares e pacientes foi decisiva durante a pandemia e influenciou a atuação da Cihdott”, destaca.

O isolamento adotado pelos serviços de saúde de uma forma geral, impediu que familiares acompanhassem ou se despedissem de pacientes durante a pandemia, lembra Camila. Ela explica que o Hospital de Sapiranga foi na contramão.

“A gente trazia os familiares para dentro do hospital para visitar os pacientes. Paramentava e levava na unidade covid na UTI para visitar ou para se despedir, com presença, toque e calor humano ao invés de mantê-los separados por um vidro. Essa cultura foi decisiva no processo de reestruturação da Cihdott, o que vem sendo cada vez mais aprimorado”, ressalta.

Foto: Gilson Camargo

Camila: “A proximidade entre médicos, familiares e pacientes foi decisiva durante a pandemia e influenciou a atuação da Cihdott”

Foto: Gilson Camargo

A reestruturação passou ainda pela formação e treinamento da equipe de acompanhamento e captação, porque a Cihdott existia apenas de forma protocolar havia cinco anos. Ela diz que isso mudou a partir do ano 2000, quando a Cihdott, já com a equipe passou a ser efetiva no monitoramento e diagnóstico de morte encefálica, sob a coordenação da Organização de Procura de Órgãos (Opo1) da Santa Casa de Porto Alegre.

“A gente começou do zero para poder entender o que era e como funcionavam a Cihdott e os protocolos, e partimos para o treinamento da equipe, que desde o início foi muito engajada nesta missão. Foi preciso qualificar os profissionais para fazer de forma segura tanto os protocolos de manutenção dos pacientes quanto os de diagnóstico de morte encefálica”, resume.

Em fevereiro do ano passado, junto com a OPO1, o hospital fez um treinamento dos seus médicos e de profissionais dos hospitais de Campo Bom, Parobé e Taquara. “Na nossa UTI, até 2020, eram dois médicos capacitados para o diagnóstico de morte encefálica. Agora nós temos cinco”, enumera. A partir daí foi estabelecido um fluxo de trabalho e começaram a surgir os resultados, ou seja, a ocorrer a notificação dos casos de morte encefálica que antes eventualmente deixavam de ser direcionadas para a doação de órgãos.

Durante a pandemia foram notificadas três mortes encefálicas, mas não houve captação porque os óbitos foram decorrentes de covid-19. Enquanto isso, a Comissão foi aprimorando os procedimentos.

“Em 2022, tivemos seis mortes encefálicas confirmadas por causa desse fluxo. Dessas seis elegíveis, cinco foram doadores, porque uma família não autorizou. Os familiares concordaram, mas a paciente já havia expressado em vida que não seria doadora. Neste ano, de janeiro a junho, a gente teve duas mortes encefálicas confirmadas e as duas famílias autorizaram as doações”.

Notificações

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), nos primeiros seis meses – de janeiro a junho – deste ano foram realizadas 325 notificações de morte encefálica.

Devido a diversos fatores, mas principalmente à não autorização das famílias somente 111 foram doadores efetivos. Foram 94 famílias que não autorizaram a doação. O consentimento de familiares, explica a coordenadora da Cihdott, depende do grau de humanização, cuidado, afeto e sensibilidade dispensado pela equipe durante a internação. “Quando, mesmo diante da dor da perda um pai ou uma mãe dizem sim para a doação, estão validando nosso trabalho e salvando vidas”, conclui.

O médico José Toríbio, responsável técnico da UTI Adulto da instituição destaca a agilidade necessária para a qualificação da captação de órgãos.

“Imediatamente após a constatação do óbito em UTI, mesmo com todo manejo da equipe na manutenção para a viabilidade, os órgãos irão começar a perder sua função. Quanto mais rápido a equipe agir, maiores serão as condições dos órgãos encaminhados para o sistema de transplante”, afirmou Toríbio. “O caminho que estamos trilhando é para chegar num momento em que a não autorização familiar deixe de ser o principal fator de não efetivação da doação de órgãos”, projeta.

Cultura Doadora

Na quarta-feira, 19, o médico e a equipe da Cihdott do Hospital Sapiranga receberam a visita do coordenador e da produtora do Projeto Cultura Doadora, Marcos Fuhr e Glaci Salusse Borges; e da diretora-geral da Fundação Ecarta, Valéria Ochôa.

“Nossa visita teve o objetivo de conhecer de perto o funcionamento da Cihdott do Hospital de Sapiranga e manifestar o reconhecimento do Projeto Cultura Doadora à sua efetividade”, manifesta Marcos Fuhr.