SAÚDE

PEC que trata sangue como mercadoria mobiliza entidades

PEC do plasma sanguíneo pode colocar em risco empresa pública criada para buscar autossuficiência nacional na produção de hemoderivados
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 3 de outubro de 2023

PEC que trata sangue como mercadoria mobiliza entidades

Foto: Camila Souza/GOVBA/Divulgação

Foto: Camila Souza/GOVBA/Divulgação

A polêmica Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 10/2022, a PEC sobre o plasma sanguíneo, está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados na quarta-feira, 4. A Frente pela Vida (FNV) está se posicionando contra a medida pois entende que ela “praticamente transforma o sangue brasileiro em mais uma commodities”, informa Carlos Fidelis da Ponte, presidente do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBS) e integrante do Conselho Nacional de Saúde (CNS), entidades que integram a FNV.

Em síntese, a PL 10/2022 altera o parágrafo 4º do artigo 199 da Constituição Federal brasileira que versa sobre os parâmetros para a coleta e o processamento de sangue e seus derivados no país.

Ao acrescentar que “A lei disporá sobre as condições e os requisitos para coleta e processamento de plasma humano pela iniciativa pública e privada para fins de desenvolvimento de novas tecnologias e de produção de biofármacos destinados a prover o sistema único de saúde”, a FNV entende que uma porta poderá ser aberta para que grandes grupos empresariais transformem o sangue dos brasileiros em “um negócio de bilhões que pode gerar desabastecimento nos hemocentros”, diz a frente em nota.

Autossuficiência em risco

Concretamente, há risco desses hemocentros terem que vir a concorrer com o setor privado “em uma área de enorme relevância para a saúde pública e para a autonomia nacional para a produção de hemoderivados”, considera Ponte.

Outro risco ainda visto por Ponte ainda é a abertura de brechas para a comercialização de tecidos. “Não nos espantaria se nessa esteira viesse a comercialização de órgãos”, afirma.

Ele lembra que a CF de 1988 acabou esse tipo comércio e o país passou a investir no controle de qualidade do sangue e na produção de hemoderivados.

Foi com a criação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) em 2004 que o país firmou seus passos na busca da autossuficiência na produção de hemoderivados.

Com a PEC, ressalta Ponte, a Hemobrás sofrerá a concorrência de grandes conglomerados internacionais que atuam no setor.

“Corremos o risco de matar no nascedouro uma iniciativa fundamental para a saúde pública”, ressalta.

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