SAÚDE

Avanço da dengue leva governo decretar estado de emergência no RS

A doença já está presente em 94% dos municípios e foram contabilizadas 20 mortes confirmadas no Rio Grande do Sul
Por César Fraga / Publicado em 13 de março de 2024

Avanço da dengue leva governo decretar estado de emergência no RS

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Depois de 20 óbitos confirmados no estado por conta da epidemia de dengue em solo gaúcho, o governador Eduardo Leite declarou situação de emergência em saúde pública no Rio Grande do Sul, que passa a valer a partir de hoje com a publicação do decreto nº 57.498 no Diário Oficial do Estado. A medida foi decidida na terça-feira, 12 e visa a prevenção, o controle e a atenção à saúde diante do risco epidemiológico à população pela doença, atualmente presente em 94% dos municípios gaúchos.

Com a declaração de estado de emergência, o governo estadual pretende destinar recursos para combater a dengue com mais agilidade – sem os trâmites burocráticos de uma licitação, por exemplo. O decreto permite um processo ágil e célere na compra de insumos (como medicamentos e vacinas), fortalecendo o enfrentamento da dengue. Também facilita que o governo federal destine ao Estado recursos específicos para ações de combate à doença.

Dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde apontam que o Rio Grande do Sul  registrou – desde 1º de janeiro – 27.752 casos prováveis de dengue. Além dos 20 óbitos confirmados pela secretaria, há sete em investigação. O coeficiente de incidência da doença no estado é de 255 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

A medida se soma a uma série de ações do governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde (SES), nos últimos dias. Na segunda-feira, 11, foi lançada uma plataforma para o manejo clínico de casos, permitindo a identificação do estado de saúde e do tratamento para cada paciente com base em características, sinais e sintomas apresentados. Também foi assinada uma nota técnica conjunta com o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) que autoriza profissionais de enfermagem a requisitarem exames, principalmente hemogramas, nos casos suspeitos. A ferramenta pode ser acessada on-line.

São considerados casos suspeitos de dengue os de pacientes com relatos de febre (usualmente entre dois e sete dias de duração) ou sensação de febre, e duas ou mais das seguintes manifestações: náusea, vômitos, exantema, mialgia, artralgia, cefaleia, dor retro-orbital, petéquias, prova de laço positiva e leucopenia. Também pode ser considerado caso suspeito toda criança com quadro febril agudo, usualmente entre dois e sete dias de duração, e sem foco de infecção aparente.

A SES reforça a importância de se procurar atendimento médico nos serviços de saúde logo nos primeiros sintomas. Dessa forma, evita-se o agravamento da doença e a possível evolução para óbito.

Detalhamento dos sintomas da dengue:

  • febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias;
  • dor retro-orbital (atrás dos olhos);
  • dor de cabeça;
  • dor no corpo;
  • dor nas articulações;
  • mal-estar geral;
  • náusea;
  • vômito;
  • diarreia;
  • manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira.

Medidas de prevenção à proliferação e circulação do Aedes aegypti – como a limpeza e revisão das áreas interna e externa de residências e apartamentos, além da eliminação dos objetos com água parada – são ações que impedem o mosquito de nascer, cortando o ciclo de vida na fase aquática. O uso de repelente também é recomendado para maior proteção individual contra o Aedes.

Além do Rio Grande do Sul, oito unidades da federação já decretaram emergência em saúde pública por conta da explosão de casos de dengue: Acre, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, há ainda 288 decretos municipais – a maioria em Minas Gerais.

Vacinas, segurança e supostos efeitos colaterais da dengue

Na última sexta-feira, 8,  a ministra da Saúde, Nísia Trindade, atualizou o cenário epidemiológico da dengue no Brasil e reforçou a segurança e a eficácia das vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso da vacina contra a dengue. Em reunião com a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e com o Comitê Interinstitucional de Farmacovigilância de Vacinas e Outros Imunobiológicos (CIFAVI), no dia 7 de março, a pasta avaliou casos de Eventos Supostamente Atribuídos a Vacinação ou Imunização (ESAVI), que são ocorrências clínicas notificadas após o ato de vacinação, ou seja, não possuem necessariamente relação com a aplicação do imunizante.

No universo de 365 mil doses aplicadas no país desde 2023, foram identificados 16 casos de reações alérgicas graves. “Todas as pessoas estão recuperadas e passam bem”, esclareceu a ministra Nísia, reforçando que os benefícios da proteção representam muito mais do que eventuais riscos.

Após a notificação, a área técnica responsável do Ministério da Saúde, desencadeou as seguintes ações:

  • Estabelecimento de fluxo laboratorial para aprofundar a investigação dos casos iniciais, visando a identificação do agente desencadeante e mecanismo envolvido nas reações;
  • Produção de Nota Técnica contendo orientações e recomendações para prevenção e/ou precaução de anafilaxia durante a vacinação que será divulgada na página do Ministério.

A rotina da farmacovigilância existe desde a década 90 e é utilizada em todo uso de medicamentos ou aplicação de vacinas, explicou o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti. “É normal sensibilizarmos nossa vigilância e também é comum o procedimento para que o próprio programa de vigilância vá atrás de possíveis casos de reações adversas. Nem todos os casos estão relacionados à estratégia de vacinação”, detalhou. “É um número pequeno frente ao número de doses aplicadas. Mas o Ministério da Saúde, prezando pela transparência e segurança, fez uma nota técnica de acompanhamento após a discussão com especialistas”, complementou Eder.

O diretor do PNI também afirmou que existe uma demanda social pela vacina, que tem aval de vários órgãos brasileiros respeitados internacionalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). “O Ministério da Saúde reafirma a segurança das vacinas e o compromisso de ampliar a vacinação, garantindo a segurança da população e a transparência”, afirmou o médico infectologista Julio Croda, representante da CTAI.

Distribuição de vacinas e público alvo

Foram distribuídas mais de 1,2 milhão de doses da vacina. Cerca de 250 mil doses foram aplicadas na rede pública de saúde. Neste primeiro momento, elas são destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses. A faixa etária de 10 a 14 anos, público-alvo da vacinação contra a dengue, é a que concentra a maior proporção de hospitalização pela doença.

O Brasil também se prepara e contribui com pesquisas importantes para observar o curso da vacinação e desenvolver novas vacinas por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan. “Já estamos trabalhando em parcerias de desenvolvimento produtivo. Existe uma agenda de desenvolvimento tecnológico, mas teremos já no ano que vem uma base produtiva”, destaca Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.

O Ministério da Saúde reforça que, embora o país conte com as primeiras doses da vacina, essa ainda não é a principal estratégia para reduzir os casos e mortes por causa da doença. A melhor forma de se proteger contra a dengue é eliminar os focos de transmissão combatendo os criadouros.

PARTICULAR – Também é possível encontrar vacina contra dengue na rede privada de clínicas e farmácias para faixas etárias fora da cobertura do SUS, com valores entre 350 e 700 reais (uma ou duas doses).

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