SAÚDE

Sequelas da covid são objeto de pesquisa do Ministério da Saúde e Ufpel

De acordo com o Ministério é preciso apurar os dados relativos ao Brasil para ampliar serviços, como atendimento neurológico, fisioterapia e assistência em saúde mental
Por César Fraga / Publicado em 11 de março de 2024

Sequelas da covid são objeto de pesquisa do Ministério da Saúde e Ufpel

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mais 710 mil brasileiros perderam a vida durante a pandemia de covid-19, mas a que tipos de sequelas os quase 40 milhões de sobreviventes ao vírus estão submetidos ainda hoje. Para buscar respostas, o Ministério da Saúde em parceria com a Universidade federal de Pelotas (UFPel) iniciou, nesta segunda-feira, 11, a segunda fase da coleta de dados do maior estudo de base populacional sobre a covid-19 no Brasil. A Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de covid-19 no Brasil. O país ainda tem um grande número de casos (veja no final da matéria).

Ao longo de março, serão realizadas visitas domiciliares a 33.250 pessoas que tiveram covid-19 em 133 municípios brasileiros. O objetivo é levantar dados para subsidiar a criação de políticas públicas direcionadas ao tratamento das chamadas condições pós-covid (covid longa), que são as sequelas da doença. O estudo é coordenado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) e encomendado à UFPel.

“A Epicovid 2.0 faz parte do trabalho de fortalecimento do monitoramento da covid-19, que o Ministério da Saúde vem realizando desde maio de 2023”, explica a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), Ethel Maciel. De acordo com a secretária, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 20% das pessoas, independentemente da gravidade da doença, desenvolvem condições pós-covid. Neste sentido, segundo ela, é preciso apurar os dados relativos ao Brasil para ampliar serviços, como atendimento neurológico, fisioterapia e assistência em saúde mental.

Ainda segundo a secretária, não existe, até o momento, estimativas internacionais e nacionais que deem elementos sobre qual é o impacto da Covid-19 a longo prazo. “Trata-se de uma doença nova. Ainda estamos aprendendo com esse vírus, e a ‘covid longa’ nos preocupa muito. A partir desse estudo de base populacional, vamos conseguir ter informações, como quantas vezes a pessoa teve a doença e se os sintomas persistem”, explica.

De acordo com o epidemiologista Pedro Hallal, que irá coordenar o estudo, a expectativa é que o período de coleta dos dados dure entre 15 e 20 dias. “O Epicovid 2.0 é uma nova fase do estudo iniciado em 2020. Embora agora não estejamos mais sob uma pandemia grave como tivemos, o vírus continua na sociedade e seus efeitos na vida das pessoas também. Esse agora é o nosso alvo, entender o impacto da doença na vida das pessoas e das famílias brasileiras”, explica.

Durante evento em Brasília, que marcou o anúncio da criação do Memorial da Pandemia, a ministra da Saúde Nísia Trindade ressaltou que embora a covid-19 não seja mais uma emergência sanitária global, a doença ainda não foi superada. “A covid-19 permanece como importante problema de saúde pública, por essa razão várias medidas tem sido adotadas pelo ministério, pois ela segue uma preocupação”, alerta.

Dinâmica do Epicovid 2.0

A pesquisa usará informações de 250 cidadãos de cada um dos municípios que já fizeram parte das quatro rodadas anteriores do trabalho científico, em 2020 e 2021. Para isso, equipes de entrevistadores visitarão as residências para ouvir os moradores sobre questões centradas em pontos como: vacinação, histórico de infecção pelo coronavírus, sintomas de longa duração e os efeitos da doença sobre o cotidiano.

Todos os participantes serão selecionados de forma aleatória, por sorteio. Somente uma pessoa por residência responderá ao questionário. Hallal esclarece que, diferente das primeiras etapas da pesquisa, na atual não haverá qualquer tipo de coleta de sangue ou outro teste de Covid.

Além do Ministério da Saúde e da UFPel, estão diretamente envolvidas no estudo a Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

Entrevistadores identificados

Todas as entrevistas serão realizadas pela empresa LGA Assessoria Empresarial, contratada pelo Ministério da Saúde para a tarefa após apresentar a melhor proposta em pregão eletrônico. Os profissionais que farão o contato direto com os moradores para a coleta dos dados receberam treinamento e estarão devidamente identificados com crachás da empresa e coletes brancos com as marcas da UFPel, da Fundação Delfim Mendes Silveira (FDMS) e da LGA.

Para auxiliar com o processo de divulgação e esclarecimento da população, as prefeituras das 133 cidades envolvidas no estudo foram comunicadas do trabalho – por meio de suas secretarias municipais de Saúde – e participaram de reunião online com Pedro Hallal e integrantes do Ministério da Saúde. A orientação é que, em caso de dúvidas, os moradores entrem em contato com as prefeituras.

A empresa LGA também pode ser acionada através dos telefones (31) 3335-1777 e (31) 99351-2430. Informações sobre o Epicovid 2.0 também estão disponíveis nos sites do Ministério da Saúde e da Universidade Federal de Pelotas.

Primeiras fases do estudo

Entre 2020 e 2021, o Epicovid-19 serviu para traçar um retrato da pandemia que auxiliou cientistas e autoridades em saúde pública a compreender melhor os efeitos e a disseminação do coronavírus no país. Entre as principais conclusões, o estudo apontou que a quantidade de pessoas infectadas naquele momento era três vezes maior que os dados oficiais, com os 20% mais pobres tendo o dobro de risco de infecção em relação aos 20% dos brasileiros mais ricos.

Situação da doença no Brasil atualmente

Conforme o último relatório sobre a doença publicado pelo MS, só em 2024 foram notificados 381.446 casos e 1.789 óbitos de covid-19 até 2 de março, sendo 70.572 casos e 253 óbitos, sinalizando aumento nos números de casos e óbitos em comparação com última semana de fevereiro. Para o Ministério, a oscilação pode estar influenciada pela capacidade dos municípios e estados na captação dos casos e óbitos na semana analisada. Acre, Roraima, Tocantins e Piauí não informaram registros de notificações na SE 9 de 2024.

Dos 23 estados que informaram dados nesta semana, as maiores taxas de incidências ocorreram em Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Distrito Federal e Rondônia, com variação entre 179,6 e 64,6 casos por 100 mil habitantes. Acerca da taxa de mortalidade, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo apresentaram as maiores taxas de mortalidade, variando de 0,4 a 0,2 óbito por 100 mil habitantes na semana. A concentração espacial de municípios com maiores incidências está localizada nas regiões Sudeste e Sul, conforme observado nas duas últimas semanas do mês passado.

 

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