SAÚDE

Ato em Porto Alegre pede agilidade na regulamentação do uso da membrana amniótica

O Brasil é um dos únicos países do mundo que ainda não utiliza a membrana amniótica, considerada de altíssima eficácia na cicatrização de queimaduras e mais barata do que o curativo sintético
Por Stela Pastore / Publicado em 19 de abril de 2024
A atividade reuniu diretores, equipes médicas e funcionários do Grupo Hospitalar Conceição, integrado pelos hospitais Conceição, Fêmina, Criança Conceição, Cristo Redentor (instituição que mais atende queimados no Rio Grande do Sul), a direção da Fundação Ecarta e a coordenação do Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, um dos quatros Bancos em funcionamento no país

Foto: Igor Sperotto

A regulamentação do uso da membrana amniótica significará uma mudança de paradigma no tratamento de queimados do Brasil, afirmou o presidente da Fundação Ecarta, Marcos Fuhr.

Foto: Igor Sperotto

Ato realizado nesta quinta-feira, 18, no auditório do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, RS, reforçou o movimento para agilizar a regulamentação do uso da membrana amniótica (camada mais interna da placenta) para o tratamento de queimaduras e feridas.

A atividade reuniu diretores, equipes médicas e funcionários do Grupo Hospitalar Conceição, integrado pelos hospitais Conceição, Fêmina, Criança Conceição, Cristo Redentor (instituição que mais atende queimados no Rio Grande do Sul), a direção da Fundação Ecarta e a coordenação do Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, um dos quatros Bancos em funcionamento no país.

Processo de regulamentação está há três anos na Conitec

Depois de mais de 10 anos de trâmite, em 2021 o Conselho Federal de Medicina autorizou o uso clínico da membrana amniótica. Porém, desde então, o processo de regulamentação de seu uso está na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec).

O médico Eduardo Chem, coordenador do Banco de Peles da Santa Casa

Foto: Igor Sperotto

Eduardo Chem: membrana amniótica é mais eficiente e mais barata

Foto: Igor Sperotto

“O centímetro quadrado de curativo sintético custa cerca de R$ 50,00, enquanto o derivado da membrana amniótica aproximadamente R$ 0,10, sendo que um grande queimado chega a usar mais de mil centímetros quadrados”, destacou o médico Eduardo Chem, coordenador do Banco de Tecidos da Santa Casa e que há mais de 10 anos lidera um movimento nacional para autorização deste procedimento.

Ele afirma que o banco de tecidos gaúcho tem toda a estrutura, a área física e o conhecimento para captação e processamento da membrana amniótica. Chem também representou a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) na atividade.

“Somos muito parceiros nesta causa”, afirmou o gerente de Internação do Hospital Cristo Redentor, Luiz Ronaldo Huber, informando que a unidade investe cerca de R$ 100 mil mensais em curativos sintéticos para a Unidade de Queimados, muito mais caros do que custariam os biológicos.

Luiz Ronaldo Huber, gerente de Internação do Hospital Cristo Redentor, de Porto Alegre, RS

Foro: Igor Sperotto

Huber: “somos parceria”

Foro: Igor Sperotto

Segundo Huber, o Cristo Redentor é o maior captador de órgãos para transplante do estado. “Então, aproximar a todos que propiciem a divulgação, a captação de órgãos é uma parceria fundamental”, disse.

Apoio parlamentar

O movimento para agilizar a regulamentação do uso da membrana amniótica passou a contar com o apoio também da deputada federal Maria do Rosário (PT), presente ao ato.

A parlamentar recebeu um dossiê com todos os passos de tramitação até o momento e se propôs a dialogar com as instâncias de regulamentação no governo federal.

“Me somo aos esforços do Banco de Tecidos do RS e a todos que

Deputada Federal Maria do Rosário

Foto: Igor Sperotto

Maria do Rosário: “me somo a esta frente”

Foto: Igor Sperotto

estão nesta causa para que a membrana amniótica seja uma opção de tratamento e permita salvar mais vidas”, acentuou a parlamentar, que ocupa a segunda secretaria na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

Há 45 anos atuando na Unidade de Queimados do Cristo Redentor, a cirurgiã plástica Maria da Graça Costa é uma entusiasta da retomada do uso da membrana amniótica. É uma das mais experientes a utilizar o material antes da proibição do seu uso na década de 1980.

Ela relata os inúmeros tratamentos e destaca os fortes interesses econômicos para dificultar o acesso a esse biomaterial que vem pronto da natureza, exigindo apenas ser captado, esterilizado nos bancos de pele e acondicionado adequadamente para uso em inúmeros casos e pacientes

Mobilização da sociedade

“A regulamentação do uso da membrana amniótica significará uma mudança de paradigma no tratamento de queimados do Brasil”, afirmou o presidente da Fundação Ecarta, Marcos Fuhr. Ele destacou as ações desenvolvidas pela entidade há 11 anos, por meio do projeto Cultura Doadora, para a sensibilização para a doação de órgãos e tecidos, bem como na qualificação da infraestrutura de atendimento à saúde no Rio Grande do Sul.

Presidente da Fundação Ecarta, professor Marcos Fuhr

Foto: Igor Sperotto

Presidente da Fundação Ecarta, professor Marcos Fuhr

Foto: Igor Sperotto

“Uma de nossas prioridades é atuar nesse movimento para garantir este tratamento no Sistema Único de Saúde pela sua comprovada eficácia”, disse sobre o que chamou de “cruzada” pela regulamentação da membrana amniótica.

Fuhr entregou cópia do ofício enviado neste mês à Conitec solicitando informações sobre o andamento da regulamentação e informou da reunião com o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, do qual recebeu apoio do órgão colegiado sobre a importância de agilizar o tema no Ministério da Saúde.

Livro-reportagem Corrida contra o tempo

A jornalista Valéria Ochôa apresentou na ocasião o livro-reportagem Corrida contra o tempo – O que compromete a doação de órgãos e a eficiência do sistema de transplantes no Brasil (Carta Editora, 248 páginas), lançado no final de 2023, dedicando um de seus oito capítulos à realidade dos Bancos de Tecidos do país, que atendem apenas a 10% da demanda.

“O uso da membrana amniótica qualificará e suprirá o atendimento aos queimados de todo o país”, pontuou Valéria, editora da publicação, inédita no país.

Jornalista Valéria Ochôa, autora do livro-reportagem Corrida contra o tempo – O que compromete a doação de órgãos e a eficiência do sistema de transplantes no Brasil (Carta Editora, 248 p.)

Foto: Igor Sperotto

Valéria Ochôa: “É fundamental a mobilização da sociedade”

Foto: Igor Sperotto

O Brasil registra cerca de um milhão de casos de queimaduras por ano. Destes, aproximadamente 100 mil precisam de atendimento médico, conforme o próprio Ministério da Saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável pelo tratamento de 95% dos pacientes queimados no país.

“O livro-reportagem Corrida contra o tempo, inédito no país, tem como proposta apresentar à sociedade brasileira os principais obstáculos que precisam ser superados para que o Brasil estabeleça uma efetiva e sólida política para a captação de órgãos e tecidos para transplantes”, observou a jornalista.

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