Frente pede agilidade na regulamentação do uso de membrana amniótica no tratamento de queimados
Foto: Igor Sperotto
A Frente Nacional pela Aprovação do Uso da Membrana Amniótica em Queimados será lançada nesta quinta-feira, às 14h, na sede da Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, 943 – Porto Alegre).
A iniciativa contempla a reivindicação de mais de uma década de médicos e profissionais da saúde que defendem o uso da membrana amniótica no tratamento de queimados e demais ferimentos graves.
O Brasil é o único país da América do Sul que não regulamentou ainda o uso da membrana amniótica, camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico. Esse líquido tem muitos fatores de crescimento que estimulam e melhoram a cicatrização.
A proposta da Frente é acelerar o processo de regulamentação do uso desse material no Brasil. O procedimento está em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), no Ministério da Saúde, desde 2021, logo após o Conselho Federal de Medicina autorizar o uso desse material.
Cultura Doadora
A constituição de uma frente foi sugerida pela Fundação Ecarta, por meio do projeto Cultura Doadora, que tem como missão a sensibilização para a doação de órgãos e tecidos e a melhoria da estrutura médico-hospitalar.
“Os benefícios do uso da membrana amniótica podem garantir melhorias no tratamento de mais de 100 mil pacientes que sofrem queimaduras ao ano no Brasil”, justifica Marcos Fuhr, presidente da Ecarta.
O coletivo conta com a participação do Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, da Santa Casa de Porto Alegre; da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Unidade de Queimados do Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre, Unidade de Queimados do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, a Sociedade Brasileira de Queimaduras e Fundação Ecarta. Outras entidades devem se somar à Frente a partir desta quinta-feira.
Foto: Igor Sperotto
Movimento Nacional
O Brasil conta com quatro bancos de pele, que juntos atendem menos de 10% da demanda nacional. Essa pele é utilizada em curativos. Os bancos utilizam pele doada por familiares de pacientes com óbito por parada cardiorrespiratória ou morte encefálica.
No Rio Grande do Sul, esse movimento é liderado pelo cirurgião plástico Eduardo Mainieri Chem, coordenador do Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre.
“Com a regulamentação do uso da membrana amniótica, 100% das necessidades por pele seriam supridas com um material que supera em cicatrização, qualidade e em custo qualquer outro curativo biológico”, resume Chem.
A diferença da membrana amniótica para a pele e outros materiais, segundo ele, é gigantesca em vários sentidos. A membrana é mais fácil de captar, de esterilizar, de disponibilizar quase instantaneamente, com custos e logística muito menores. Já a pele vem contaminada, não tem sorologia do doador, os custos são infinitamente maiores com toda a logística de captação, laboratórios, exames, tratamentos da pele coletada que passará por processos complexos até estar apta para uso.
Foto: Banco de Pele/ Hospital Dom Vicente Scherer/ Divulgação
“Vai revolucionar o tratamento dos queimados no Brasil e melhorar os nossos resultados ao longo dos anos. Terá grande impacto no tratamento de queimaduras e feridas”, assegura o cirurgião plástico José Adorno, da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).
Boate Kiss
No incêndio da Boate Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013, que provocou a morte de 242 pessoas e ferimentos em outras 636, a membrana teve o uso autorizado de forma excepcional.
Na ocasião, bancos de pele dos países vizinhos enviaram seus estoques de curativos de membrana permitindo o tratamento de mais de 100 vítimas internadas com queimaduras.
O uso da membrana foi amplamente apoiado pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, que integra a Frente.