SAÚDE

Frente pede agilidade na regulamentação do uso de membrana amniótica no tratamento de queimados

Procedimento está em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde desde 2021. Bancos de peles atendem apenas 10% da demanda nacional atualmente
Por Gilson Camargo / Publicado em 24 de julho de 2024
Movimento defende uso de membrana amniótica no tratamento de queimados

Foto: Igor Sperotto

Banco de Pele do Hospital Dom Vicente Scherer, da Santa Casa, projeta revolução no tratamento de queimados com a aplicação da membrana amniótica na regeneração de pele

Foto: Igor Sperotto

A Frente Nacional pela Aprovação do Uso da Membrana Amniótica em Queimados será lançada nesta quinta-feira, às 14h, na sede da Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, 943 – Porto Alegre).

A iniciativa contempla a reivindicação de mais de uma década de médicos e profissionais da saúde que defendem o uso da membrana amniótica no tratamento de queimados e demais ferimentos graves.

O Brasil é o único país da América do Sul que não regulamentou ainda o uso da membrana amniótica, camada mais interna da placenta, que produz o líquido amniótico. Esse líquido tem muitos fatores de crescimento que estimulam e melhoram a cicatrização.

A proposta da Frente é acelerar o processo de regulamentação do uso desse material no Brasil. O procedimento está em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), no Ministério da Saúde, desde 2021, logo após o Conselho Federal de Medicina autorizar o uso desse material.

Cultura Doadora

A constituição de uma frente foi sugerida pela Fundação Ecarta, por meio do projeto Cultura Doadora, que tem como missão a sensibilização para a doação de órgãos e tecidos e a melhoria da estrutura médico-hospitalar.

“Os benefícios do uso da membrana amniótica podem garantir melhorias no tratamento de mais de 100 mil pacientes que sofrem queimaduras ao ano no Brasil”, justifica Marcos Fuhr, presidente da Ecarta.

O coletivo conta com a participação do Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, da Santa Casa de Porto Alegre; da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Unidade de Queimados do Hospital Cristo Redentor de Porto Alegre, Unidade de Queimados do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, a Sociedade Brasileira de Queimaduras e Fundação Ecarta. Outras entidades devem se somar à Frente a partir desta quinta-feira.

Movimento defende uso de membrana amniótica no tratamento de queimados

Foto: Igor Sperotto

Uso da membrana supre necessidade de pele, com vantagens de cicatrização e custo, diz Chem, do Banco de Pele da Santa Casa

Foto: Igor Sperotto

Movimento Nacional

O Brasil conta com quatro bancos de pele, que juntos atendem menos de 10% da demanda nacional. Essa pele é utilizada em curativos. Os bancos utilizam pele doada por familiares de pacientes com óbito por parada cardiorrespiratória ou morte encefálica.

No Rio Grande do Sul, esse movimento é liderado pelo cirurgião plástico Eduardo Mainieri Chem, coordenador do Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre.

“Com a regulamentação do uso da membrana amniótica, 100% das necessidades por pele seriam supridas com um material que supera em cicatrização, qualidade e em custo qualquer outro curativo biológico”, resume Chem.

A diferença da membrana amniótica para a pele e outros materiais, segundo ele, é gigantesca em vários sentidos. A membrana é mais fácil de captar, de esterilizar, de disponibilizar quase instantaneamente, com custos e logística muito menores. Já a pele vem contaminada, não tem sorologia do doador, os custos são infinitamente maiores com toda a logística de captação, laboratórios, exames, tratamentos da pele coletada que passará por processos complexos até estar apta para uso.

Movimento defende uso de membrana amniótica no tratamento de queimados

Foto: Banco de Pele/ Hospital Dom Vicente Scherer/ Divulgação

Médicos querem agilizar aprovação do uso da membrana amniótica na recuperação de queimados

Foto: Banco de Pele/ Hospital Dom Vicente Scherer/ Divulgação

“Vai revolucionar o tratamento dos queimados no Brasil e melhorar os nossos resultados ao longo dos anos. Terá grande impacto no tratamento de queimaduras e feridas”, assegura o cirurgião plástico José Adorno, da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ).

Boate Kiss

No incêndio da Boate Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013, que provocou a morte de 242 pessoas e ferimentos em outras 636, a membrana teve o uso autorizado de forma excepcional.

Na ocasião, bancos de pele dos países vizinhos enviaram seus estoques de curativos de membrana permitindo o tratamento de mais de 100 vítimas internadas com queimaduras.

O uso da membrana foi amplamente apoiado pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, que integra a Frente.

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