SAÚDE

Especialistas debatem uso da membrana amniótica no tratamento de queimados no Brasil

Painel nesta quinta-feira, 29, reúne profissionais que defendem uso de células internas da placenta descartadas em cesarianas para tratar vítimas de queimaduras
Da Redação / Publicado em 28 de agosto de 2024
Especialistas debatem uso da membrana amniótica no tratamento de queimados no Brasil

Foto: Igor Sperotto

No dia 25 de julho, um conjunto de profissionais, entidades e instituições, liderados pela Fundação Ecarta, lançou a Frente Nacional pelo Uso de Membrana Amniótica no Tratamento de Queimados no Brasil

Foto: Igor Sperotto

A biomédica do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre, Suyan Gehlm, o coordenador da Unidade de Queimados do Hospital de Pronto-Socorro (HPS), Tiago da Silva Fontana, e o estudante de medicina Gustavo Cadore, sobrevivente do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, serão os painelistas do debate que a Fundação Ecarta, no âmbito do projeto Cultura Doadora, promove nesta quinta-feira, às 19h, sobre o uso de células de placenta na recuperação de vítimas de queimaduras.

O encontro terá transmissão pelo canal da Fundação Ecarta no YouTube e no Facebook e no Instagram do projeto Cultura Doadora.

No dia 25 de julho, um conjunto de profissionais, entidades e instituições, liderados pela Fundação Ecarta, lançou a Frente Nacional pelo Uso de Membrana Amniótica no Tratamento de Queimados no Brasil, um dos poucos países do mundo que não utiliza esse material nos tratamentos da Saúde. A Frente foi criada para cobrar agilidade no processo de regulamentação dessa prática pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo os especialistas em Saúde, a membrana amniótica, comumente descartada nas maternidades, proporciona uma recuperação mais rápida e segura das células queimadas, e custa menos que os curativos convencionais.

“A expectativa é que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), agilize finalmente a conclusão do processo regulatório para o uso da membrana no tratamento de queimaduras. Com isso, milhares de pessoas terão recuperação mais rápida e o procedimento será decisivo para salvar muitas vidas”, destaca Marcos Fuhr, presidente da Fundação Ecarta e idealizador do Cultura Doadora.

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Eficiência e baixo custo

Especialistas debatem uso da membrana amniótica no tratamento de queimados no Brasil

Foto: Banco de Pele/ Hospital Dom Vicente Scherer/ Divulgação

Membrana amniótica é um tecido avascular que compõe a parte mais interna da membrana fetal

Foto: Banco de Pele/ Hospital Dom Vicente Scherer/ Divulgação

A membrana amniótica é um tecido proveniente da parte interna da placenta de partos por cesariana, material hoje descartado, considerado o melhor curativo cutâneo para redução da dor e rápida cicatrização em diferentes patologias.

Na tragédia da Boate Kiss em 2013, o curativo biológico foi autorizado excepcionalmente para tratar centenas de pacientes queimados, contando com a generosa doação de membranas amnióticas de diversos países, principalmente de nossos vizinhos.

No país, existem apenas quatro bancos de tecidos que mal suprem 10% das necessidades de curativos de pele, hoje provenientes apenas da doação de tecido humano em casos de óbito cardiorespiratório ou morte encefálica. Com a regulamentação da membrana amniótica a estimativa é que o sistema atenda 100% da demanda do Brasil.

Enquanto isso, fica por conta das peles sintéticas e demais medicamentos curativos o tratamento das milhares de vítimas de graves queimaduras que ocorrem no país todos os anos, das quais 30% são crianças.

Para se ter uma ideia da diferença de custos e dos interesses industriais envolvidos nessa questão, basta observar que um centímetro quadrado do curativo sintético fornecido pela indústria farmacêutica custa R$ 50,00, enquanto um centímetro de membrana amniótica custaria R$ 0,10.

Vantagens da membrana amniótica

Especialistas debatem uso da membrana amniótica no tratamento de queimados no Brasil

Foto: Acervo Pessoal

Suyan Gehlm, biomédica do Banco de Tecidos da Santa Casa de Porto Alegre

Foto: Acervo Pessoal

“A membrana amniótica é um tecido avascular que compõe a parte mais interna da membrana fetal. Histologicamente, a membrana amniótica é muito semelhante ao tecido cutâneo”, explica Suyan Gehlm, biomédica que atua no Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, da Santa Casa de Porto Alegre.

Suyan, que irá abordar em seu painel a importância clínica da membra amniótica, as diferenças de custos entre pele e membra amniótica, bem como a disponibilidade captação e processamento desse material, explica como as células de placenta atuam na cicatrização de queimaduras

“Quando em contato com o leito da ferida, a membrana amniótica forma uma barreira física contra a invasão bacteriana, reduz a perda de fluidos corpóreos e proteínas, reduz a dor e estimula a liberação de fatores de crescimento e fatores moduladores da cicatrização que estimulam a proliferação e a migração de queratinócitos, favorecendo o processo de cicatrização”, detalha.

Segundo a pesquisadora, o efeito bactericida observado foi atribuído à capacidade de aderência da membrana amniótica na superfície da ferida.

Ela ressalta que os resultados satisfatórios obtidos na clínica, juntamente com a elevada disponibilidade, facilidade de aceitação da doação pelas gestantes e baixo custo de manipulação têm despertado o interesse na utilização estendida desse recurso biológico.

“A membrana amniótica também tem sido largamente utilizada na oftalmologia para tratamento de queimaduras oculares, na neurocirurgia para casos de meningomielocele (espinha bífida), em mediastinites pós-cirurgia cardíaca, malformações urogenitais em recém-nascidos entre outros”, explica.

A biomédica destaca ainda que, dependendo do tempo de internação hospitalar e do tipo de curativo utilizado, os custos hospitalares podem se tornar bastante elevados para o SUS. “Dessa forma, a disponibilidade de curativos de baixo custo, elevada disponibilidade, curativos úmidos como a membrana amniótica e com boa eficácia clínica são de extrema importância para o melhor atendimento”.

 

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