SAÚDE

Central de Transplantes de Santa Catarina adere ao movimento pelo uso da membrana amniótica em queimados 

A membrana é a camada interna da placenta que envolve os bebês e é descartada após os partos. O Brasil é o único país da América Latina que não tem regulamentado o seu uso na Saúde
Da Redação / Publicado em 1 de novembro de 2024
Central de Transplantes de Santa Catarina adere ao movimento pelo uso da membrana amniótica em queimados 

Foto: Acervo Eduardo Chem/Divulgação

Foto: Acervo Eduardo Chem/Divulgação

A Fundação Ecarta entregou, no último dia 25 de outubro, a Manifestação Pública pela Regulamentação do Uso da Membrana Amniótica ao médico Joel de Andrade, que além de coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina, desde agosto deste ano também é responsável técnico pela Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Transplantes.

O encontro ocorreu na sede da Fundação Ecarta, em Porto Alegre, RS, e contou com a participação do médico Cristiano Franke, da Unidade de Queimados do Hospital Pronto Socorro da capital gaúcha.

A Manifestação foi lançada em julho pela Frente Nacional pela Aprovação do Uso da Membrana Amniótica em Queimados, liderada pela Fundação Ecarta e integrada por 15 entidades e instituições. Entre elas, o  Banco de Tecidos Dr. Roberto Corrêa Chem, da Santa Casa de Porto Alegre, a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) e as Unidades de Queimados dos hospitais Cristo Redentor e Pronto Socorro de Porto Alegre.

O encontro com Joel de Andrade integra as ações desse movimento nacional que busca sensibilizar a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), do Ministério da Saúde, para que agilize o processo de regulamentação do uso deste material biológico no tratamento de queimados.

Depois de tramitar por 10 anos no Conselho Federal de Medicina, o procedimento está em análise desde 2021 pela Conitec. O movimento também solicitou agenda com a Ministra da Saúde Nísia Trindade.

A membrana amniótica é um tecido proveniente da parte interna da placenta de partos, material hoje descartado, considerado o melhor curativo cutâneo para redução da dor e rápida cicatrização em diferentes patologias.

O Brasil é um dos únicos países da América Latina que ainda não utiliza a membrana amniótica no tratamento de ferimentos graves. O país registra um milhão de queimaduras por ano, das quais aproximadamente 100 mil precisam de atendimento médico-hospitalar, sendo 95% dos pacientes atendidos pelo sistema público de saúde.

Central de Santa Catarina

“Solicitamos o apoio do coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina porque sabemos da sua sensibilidade e empenho no atendimento humanizado. Com isso, milhares de pessoas terão recuperação mais rápida e o procedimento será decisivo para salvar muitas vidas”, pontuou Marcos Fuhr, presidente da Fundação Ecarta.

“Acredito que é uma iniciativa de extremo valor e que deva ser incorporada ao nosso arsenal terapêutico. Vários países com sistemas de transplante desenvolvidos já incorporaram a membrana amniótica e o Brasil deve ganhar com este recurso”, declarou Joel de Andrade.

O médico está à frente da Central de Transplantes catarinense há 19 anos. O estado é líder em doação de órgãos entre os estados brasileiros. A Central de SC é mais uma das entidades que se soma à causa e se integra a campanha que ganha apoiadores em todo o país.

Central de Transplantes de Santa Catarina adere ao movimento pelo uso da membrana amniótica em queimados

Foto: Divulgação

Da esq. p/ dir: Glaci Borges, coordenadora do projeto Cultura Doadora, o médicos Joel Andrade, o presidente da Fundação Ecarta Marcos Fuhr e o médico Cristiano Franke, do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre

Foto: Divulgação

Mobilização acentuada

Marcos Fuhr enumera a sequência de ações e atividades do movimento. “Enviamos três ofícios à Conitec solicitando informações sobre as etapas em que se encontra a tramitação do processo de regulamentação, acompanhados por fartos subsídios técnicos da comprovação da eficácia destes procedimentos em inúmeros países”.
A Frente também reuniu com o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, apresentou a pauta com a integrante da Mesa Diretora da Câmara Federal, deputada Maria do Rosário, que realizou um ato no Grupo Hospitalar Conceição; entregou a Manifestação Pública ao líder da bancada gaúcha na Câmara Federal, deputado Dionilso Marcon; realizou atividades públicas de divulgação em locais como o Brique da Redenção em Porto Alegre e mobiliza apoios por meio de um abaixo-assinado digital.

Pressa em salvar vidas

Os quatro bancos de tecidos do país suprem menos de 10% das necessidades de curativos de pele para lesões graves, hoje provenientes apenas da doação de tecido humano em casos de óbito cardiorrespiratório ou morte encefálica. Com a regulamentação da membrana amniótica atenderá 100% da demanda do Brasil.
Na tragédia da Boate Kiss de Santa Maria (RS), em 2013, o curativo biológico foi autorizado excepcionalmente para tratar centenas de pacientes queimados, contando com a doação de membranas amnióticas de diversos países, principalmente de vizinhos, como Uruguai, Argentino e Chile.

Recuperação rápida e de baixo custo

“Estranhamente somos um dos poucos países em que não está regulamentado o uso deste material, com exorbitantes comprovações de eficácia, farta disponibilidade e baixo custo”, declarou o dirigente da Ecarta.
 “Enquanto o centímetro quadrado do curativo sintético fornecido pela indústria farmacêutica custa R$ 50,00, o de membrana amniótica custaria R$ 0,10. São dezenas de centímetros sintéticos usados a cada curativo, diariamente com enormes custos para o SUS”, enfatizou o dirigente da Fundação.
Fuhr destacou os painéis de debates on-line promovidos pelo Cultura Doadora, da Ecarta, realizados com especialistas para popularizar o tema. Esse material está disponível no Canal da Fundação Ecarta no Youtube.

Prioridade do Cultura Doadora

A Fundação Ecarta mantém há 12 anos o Cultura Doadora, uma rede que fomenta a doação e  aprimoramento do sistema de transplantes. A prioridade deste ano, acentuou Fuhr, é apressar a regulação deste tecido como curativo em pacientes queimados.
“O Brasil mudará de patamar com essa nova tecnologia no SUS”, afirmou Fuhr.

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