Aquecimento global: 2024 teve em média 41 dias de calor extremo
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Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
Queimadas na Amazônia, no Cerrado, no Bioma Pampa e até em regiões metropolitanas foram resultado de incêndios criminosos e também devido às altas temperaturas: só na Amazônia (foto), de janeiro a setembro, foram 22,38 milhões de hectares devastados pelas chamas
Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
O ano de 2024 registrou extremos de mudanças climáticas provocadas pela humanidade, gerando ondas de calor com frequência e intensidade capazes de ameaçar a sobrevivência no planeta.
Em todo o mundo, populações ficaram mais expostas ao calor. Em média, foram 41 dias a mais de calor extremo, marca que já é considerada uma ameaça à saúde pública. Em algumas áreas no planeta, foram mais de 150 dias de calor insuportável, apontam dados do World Weather Attribution (WWA) e da Climate Central. As mudanças climáticas, aponta o relatório, pioraram boa parte dos eventos climáticos hostis à vida na Terra observados em 2024, que entra para a história como o mais quente já registrado.
As regiões mais afetadas pelas altas temperaturas foram as próximas da linha do Equador, principalmente pequenos Estados insulares em desenvolvimento. “Os países mais pobres e menos desenvolvidos do planeta são os lugares que estão expostos a números ainda maiores (que a média de 41 dias)”, destaca Kristina Dahl, vice-presidente de ciência climática da Climate Central.
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Imagem: Reprodução
O calor extremo atingiu com mais intensidade regiões da Europa e da África Ocidental, sul e sudeste asiático e diversas cidades do oeste dos Estados Unidos (imagem)
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As mortes relacionadas ao calor extremo são muitas vezes subnotificadas, segundo os cientistas. Friederike Otto, líder do grupo World Weather Attribution e cientista climática do Imperial College, frisou a importância de educar a população sobre os riscos do calor extremo para prevenir mortes.
“As pessoas não têm que morrer durante ondas de calor. Mas se não conseguimos comunicar de forma convincente que, na verdade, muitos estão morrendo, é muito mais difícil conscientizar”, alertou. “Ondas de calor são de longe o evento climático extremo mais letal, onde a mudança climática é o que realmente faz a diferença”, explica.
A conclusão dos cientistas é amparada por uma análise comparativa de temperaturas diárias medidas em 2024 ao redor do mundo com as temperaturas mais amenas medidas entre 1991 e 2020. Os resultados não foram revisados ainda por outros cientistas, mas os pesquisadores usaram métodos chancelados por especialistas não envolvidos no estudo.
Um planeta mais quente também significa, além de secas e incêndios, oceanos mais quentes e temporais mais devastadores com maior frequência.
Dos 29 eventos climáticos extremos de 2024 analisados pelos cientistas, 26 estão claramente associados às mudanças climáticas. O El Niño também contribuiu para o quadro, embora não com a mesma intensidade, segundo os pesquisadores.
Alerta
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Foto: WWW/ Divulgação
Países mais pobres e menos desenvolvidos estão expostos a um números maior de dias de calor extremo, aponta Friederike Otto, cientista da WWW
Foto: WWW/ Divulgação
Cientistas afirmam que o ano de 2024 é um alerta de que o planeta ameaça superar o limite de aquecimento global fixado pelo Acordo de Paris, de 1,5 ºC, em relação à média de temperaturas pré-Revolução Industrial, potencializando eventos climáticos extremos.
A meta estabelecida em 2015 almeja limitar o aquecimento global para impedir consequências mais graves e irreversíveis, como o colapso de ecossistemas e visa manter o clima global num patamar habitável.
O relatório aponta que milhões de pessoas sofreram com o calor extremo neste ano ao redor do mundo, a exemplo das altas temperaturas registradas no norte da Califórnia, no México, na América Central e na África Ocidental. No sul da Europa, Acrópolis, em Atenas, na Grécia, foi fechada devido ao calor. No sul e sudoeste asiático, as aulas foram suspensas devido às altas temperaturas.
No Brasil, a região amazônica sofreu uma seca histórica e o fogo destruiu dez vezes mais floresta que o desmatamento, avançando também sobre todos os demais biomas. De janeiro a novembro, a área queimada no país superou os 29 milhões de hectares, maior que o estado de São Paulo.
“A conclusão é devastadora, mas nada surpreendente: a mudança climática teve um papel nisso, e muitas vezes um papel grande na maioria dos eventos analisados, tornando ondas de calor, secas, ciclones tropicais e chuvas intensas mais prováveis e mais intensos em todo o mundo, destruindo vidas e meios de subsistência de milhões e muitas vezes incontáveis pessoas”, avalia Friederike Otto, cientista da WWW. “Enquanto o mundo continuar queimando combustíveis fósseis, isso só vai piorar”, sentencia.
Com reportagem do Deutsche Welle.